Super Me

Super Me Filme Crítica Netflix Pôster

Sinopse: Em “Super Me”, um roteirista fracassado descobre o dom de trazer objetos valiosos de seus sonhos para o mundo real, mas nem tudo que reluz é ouro
Direção: Zhang Chong
Título Original: 超级的我 | Qi Huan Zhi Lv (2019)
Gênero: Fantasia | Drama
Duração: 1h 42min
País: China

Super Me Filme Crítica Netflix Imagem

Adeus à Estética

Escrito e dirigido por Zhang Chong, o longa-metragem chinês “Super Me” foi um dos lançamentos mundiais da plataforma de streaming Netflix. Uma premissa interessante, que se transforma em um tipo de exercício de narrativa. Contudo, deverá sofrer na mãos dos espectadores pelos desafios técnicos dificilmente superados, incluindo efeitos visuais e adições em pós-produção de baixa qualidade em determinados momentos. Tente superar esse incômodo visual e fique com o que há para se refletir sobre a trama do jovem Sang Yu, interpretado pelo ator e cantor taiwanês Darren Wang.

O filme conta a história de um roteirista que não consegue atingir o sucesso. Quando recebe trabalho sob demanda e adiantamento financeiro, parte de seu bloqueio criativo surge como resposta natural sobre a criatividade tolhida. O protagonista é fruto de seu tempo, representante de uma geração a qual a sociedade permitiu sonhar em ser o que quisesse. Sem contar a inserção do mesmo em uma dinâmica de consumo que o faz ser frustrado por tudo o que ele não tem.

No prólogo da obra a junção de competitividade com planos puramente meritocráticos de Yu são revelados de plano. Ele narra a forma como lida com os percalços que compõe sua vida. Tudo para ele soa como um desafio, ele gamifica a própria existência e entende todas as dificuldades e crises como obstáculos de mais uma fase. Sejam elas de origem psicológica, espiritual, comportamental ou cultural. A figura de médicos e coachs aparecem na montagem como contrapontos desta ideia de autonomia pela qual o personagem quer que a gente acredite.

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O que torna “Super Me” interessante é o desdobramento do que ele entende como missão, a partir do destino de parecer um Midas moderno. É possível que muitos embarquem na história da simples fantasia inserida no mundo real, tornando o longa-metragem uma diversão escapista – de qualidade duvidosa. Porém, o texto de Chong, assim como as representações, ampliam as possibilidades. Estamos assistindo a uma pessoa sem perspectiva, de uma juventude que precisa se adaptar (rápido) a se ver como alguém que falhou. No limiar de sua existência, não fica claro se – no ponto de virada para o realismo fantástico – Sang Yu pulou ou não do alto de um prédio, por exemplo.

Com isso, por vezes parece que estamos diante de um exercício narrativo. O que conduz a trama pode ser fruto de mágica, da transcendência de um humano que finalmente conseguiu usar mais do que os 15% de seu cérebro, um ciclo a partir da morte, sonhos dentro de sonhos ou uma projeção da realidade. Todas elas encontram argumentos nos arcos criados pelo cineasta. A história marca um ponto importante, que é dividir – de uma vez por todas – a ideia de uma sociedade tecnológica a desvinculando do conceito de desenvolvimento humano.

O protagonista tem todas as ferramentas modernas e é apenas esmagado pelo sistema. Uma relação social contemporânea que soa imperceptível para muitos, que ainda não entenderam que esse aparelho de telefone em suas mãos já se tornou parte do seu corpo e não é sinal de status nenhum. Sang parece disposto a inverter a lógica de consumo e abusa do direito de dispor quando se vê diante do dinheiro fácil.

Ele usa o poder constituído, seja divinamente ou formatado em sua mente, da maneira como um representante de sua geração o faria. Isso faz com que algumas sequências não precisem se conectar, temos um personagem em um ciclo de frustrações causado pelo constante desafio que é consumir. Ele, então, criará novas fugas, fazendo com que a sensação de vivermos em mais de um plano de existência seja constante.

Por óbvio que o filme tratará sobre o dilema de quem tem o poder de mudar o mundo, ainda mais em um momento em que nossos egos e expectativas parecem se expandir ao infinito. É quando entra outro exercício, não de Zhang Chong, mas do próprio Sang Yu. Ele entenderá sua grande força como a criatividade, aquela que o fez sonhar com o sucesso, conceito subjetivo e que nada se relaciona com o dinheiro.

Claro que, diante de uma produção direcionada ao espectador jovem (mesmo que de espírito) e conectado com um gênero dominado por produções de grandes orçamentos, todas essas leituras soam bestas em uma obra tecnicamente ruim. Contudo, talvez esta seja mais uma amarra da sociedade de consumo, que prima pela estética – sendo que beleza é outra característica que as ciências humanas problematizou há bastante tempo. Mesmo assim, para “Super Me” temos um público ainda refém do quesito qualidade, sabe-se lá o que isso signifique.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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