Mata

Mata Documentário Brasileiro 2021 Crítica CineOP Imagem

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Sinopse: Diante do avanço das plantações de eucalipto, um agricultor e uma comunidade indígena se posicionam como resistência e revelam o impacto da monocultura no meio ambiente, em contraste aos modos de vida tradicionais. O inimigo também pode ser verde.
Direção: Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes
Título Original: Mata (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 19min
País: Brasil

Mata Documentário Brasileiro 2021 Crítica CineOP Imagem

Para Derrubar o Rei

Dentro do recorte “Os Espaços e os Vestígios da História” na mostra de longas-metragens contemporâneos da 16ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, o documentário “Mata” se inaugura com duas propostas prodigiosas de construção de pensamento. A primeira está materializada na frase final da sua sinopse oficial: “o inimigo também pode ser verde“. A segunda se dá na montagem dos primeiros minutos, onde funde suas representações em uma mediação entre pequenos agricultores e líderes pataxós, em uma democratização forçada de prejuízos como consequência de demanda desenfreada do planeta por celulose.

O filme produzido e dirigido por Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes foca no desastre promovido pelo cultivo de eucaliptos, que avança em áreas verdes e deixa um rastro aniquilação de um dos ecossistemas mais importante da Terra. De plano, um exercício de imagens vincula a extensa área das árvores longilíneas ao fantasmagórico. Trilha e luz crepuscular que tornam a dança daquelas altas plantas algo assombroso, não restando dúvidas sobre qual terreno adentramos a partir dali.

Contudo, “Mata” não consegue ir muito além do caráter profundamente observatório o qual se impõe. A temática do documentário gera esta questão acerca do melhor caminho a seguir, muito pelo arcabouço informativo que obras desta natureza possuem. Em nosso texto sobre “Amazônia em Chamas” (2020) – que depois virou uma entrevista com o cineasta Michal Siewierski – trazíamos esse dilema sobre propor uma visão panorâmica sobre o assunto ou procurar meios mais assertivos de colocá-lo na mesa (ou na tela).

Aqui não há o olhar estrangeiro, apesar de termos nos cineastas uma união de falas que cria diferentes legitimidades. O filme soa como mais de um, pois se tornam nítidas as frentes atacadas. Uma delas é a promoção do encontro da sociedade civil lesada pela sanha empresarial, o que reúne os agentes apresentados de forma isolada no início. Outra mantém essa observação sobre a realidade dos envolvidos, porém em testemunhos um pouco engessados, dentro de um espaço já desconfigurado. O agricultor precisa usar a memória e o gestual para recuperar uma visão que o espectador não consegue ter – não por culpa dos realizadores e sim pela forma avançada de destruição.

Quando se vale da construção imagética, a obra ganha força. A magnitude da zona dos eucaliptos fala por si e os personagens que surgem de forma diminuta confirmam que estamos dentro do que deveria ser a tábua de salvação do planeta. Na parte informativa, há a confirmação por especialistas do potencial danoso deste tipo de plantio, que seca em poucos anos a terra, tornando-a improdutiva. Sem fauna e flora para complementar as falas e sem uma busca na área externa que possibilite comparação, o público é levado em uma viagem monocultural.

Por sinal, a complexidade da formação da sociedade brasileira acaba, em episódios como este, por matar mais de um tipo de cultura e de conhecimento. Próximo ao fim, os cineastas avançam para perto da área industrial, mas ainda à distância. Sem as falas oficiais, optaram por seguir o caráter observatório e ser denuncista pelas alegações de indígenas e agricultores. Deixam a relação consumerista para os créditos finais, fazendo com que uma solução que se baseie em nossos próprios hábitos surja de maneira espontânea por quem assiste. Deixa no ar uma pequena crítica à atuação do ICMBio, que na “boiada” da gestão de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente corria o risco de ser extinto.

O Ministro caiu na mesma semana em que o longa-metragem foi exibido na CineOP. Resultado de uma das cortinas de fumaça do governo Jair Bolsonaro, atolado até o pescoço pelos trabalhos da CPI da Covid. Antes de ser demitido, o boiadeiro anunciou concurso de mil vagas para o órgão e o Ibama, afastando o temor de seu fim. Porém, quanto mais o tempo passa, mais irreparáveis são os danos observados no cinturão verde do país. A partir de uma planta aparentemente inofensiva, temos um agente de alto grau de arruinação do ecossistema.

Na dúvida sobre a melhor forma de lidar com suas frentes, “Mata” acaba se tornando pesado enquanto proposta de reflexão. Ainda assim, suas imagens e falas confirmam a urgência: a próxima derrubada precisa ser a do próprio governo.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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