Sinopse: “O Protótipo” se passa em 2038, onde George Almore está trabalhando em uma Inteligência Artificial equivalente a humanos. Seu último protótipo está quase pronto. Essa fase sensível também é a mais arriscada. Especialmente porque ele tem um objetivo que deve estar oculto a todo custo: reunir-se com sua esposa morta.
Direção: Gavin Rothery
Título Original: Archive (2020)
Gênero: Ficção
Duração: 1h 49min
País: Reino Unido | Hungria | EUA
Consciência Guardada
Assim como seu protagonista, o diretor e roteirista Gavin Rothery, estreando nas funções em longas-metragens, possuía uma boa ideia na cabeça. Dela surgiu “O Protótipo“, produção que chegou ao catálogo do Telecine como um dos grandes lançamentos da semana. Boa parte das representações pensadas para a obra se tornam atos preparatórios de uma virada na trama que chega como um baque seco nos minutos derradeiros. O filme atrai alguns debates envolvendo tecnologia sob o viés da ética – para deixar a provocação em seu término sobre a real finalidade destas questões.
Contudo, parte dos espectadores (talvez a maior dentre elas) lerá a narrativa como uma retomada de abordagens clássicas do gênero. Debruçado na ficção, parte das ideias de um futuro onde a Inteligência Artificial ganha forma e passa a ser mais presente na realidade está ali, sem que o cineasta consiga trazer elementos novos em uma temática que dialoga com tramas já consolidadas na cultura popular, notadamente no Cinema. Fica, portanto, a sugestão sobre o que há de humanidade nas decisões de George (Theo James), um pesquisador que não consegue superar a morte da esposa, Jules (Stacy Martin), e usará seu objeto de estudo para fins pessoais.
A primeira cena do longa-metragem soa incomum. Estamos pouco menos de vinte anos a frente do nosso tempo, o que justifica uma androginia em formação para as IAs. A estética robótica parece coerente, mas fragmentos das falas do personagem, não. Ele parece bem mais inserido em um contexto totalmente futurista do que a sugestão de transitoriedade. Aqueles que buscam pelo em ovo e verossimilhança sob todos os aspectos da unidade fílmica deverão listar na sua cabeça o que chamam de “furos”, até que a grande ideia por trás do pensamento do autor entregue que tal exercício foi em vão.
Já o exercício do protagonista é o maior atrativo da experiência de assistir “O Protótipo“. Ele se envolve no projeto da pior maneira que alguém poderia fazer. Coloca em risco segredos intelectuais, acadêmicos e industriais porque deseja dar um passo adiante. A consciência e os dados da mulher foram salvos e George tem que utilizá-los – e a cada novo desenvolvimento que aproxime a máquina que hospedará suas memórias visualmente de uma humana faz com que ele descarte o modelo anterior. Logo no início do filme ele acha curioso que uma das IAs diga que foi capaz de sonhar. Eles está mais preocupado em descomprimir os dados e o público possivelmente em entender o contexto e analisar de forma panorâmica a proposta da obra, que se entrega a cada sequência.
Esta confusão que tira o olhar dos detalhes por Rothery pode funcionar para alguns, que se sentirão satisfeitos com o que o recheio da produção reserva. Vai da ética na pesquisa à forma como lidamos pela culpa pela morte de um ente querido, passando por uma intrigante crise familiar de George e os robôs. Aos poucos ele soa um pouco como um psicopata social em sua ideia obsessiva de aprimoramento, tornando descartável tudo (e todos, se quiser humanizá-las) que estão à sua volta.
Porém, “O Protótipo” traz um personagem que constrói relações falsamente humanas para satisfazer a si – e é provavelmente o grande tema universal que a obra encontra no mundo atual. Assuntos que já estão presentes nas narrativas sobre o futuro próximo e as consequências de uma sociedade cada vez mais individualista e de desenlaces de suas relações? Sim, não parece acrescentar muita coisa. O que talvez te pegue de jeito é a linha de chegada, que amplia a descartabilidade para a própria existência de George – com aquele velho gosto de humanidade do temor de concluirmos que nossa vida é uma mentira.
Veja o Trailer:
Sua crítica é bem feita, sem rebuscamentos inúteis e citações que ninguém confere. Claro e objetivo, nos leva a conferir o filme, o que farei agora. Parabéns!
Se isso lhe importar, sou jornalista e psicanalista e lhe dou 5 estrelas como crítico e como texto.