Rua do Medo: 1978 – Parte 2 já chegou na Netflix. Leia nossa crítica.
Sinopse: O Acampamento Nightwing está dividido entre os campistas e os monitores que vêm da próspera Sunnyside e aqueles que vêm da sinistra Shadyside. Porém, quando os horrores que suas cidades escondem ganham vida, eles devem se unir para desvendar um terrível mistério antes que seja tarde demais.
Direção: Leigh Janiak
Título Original: Fear Street Part Two: 1978 (2021)
Gênero: Horror | Mistério
Duração: 1h 49min
País: EUA
Conexões Estranhas
Conectando as duas partes da trilogia de terror que a plataforma de streaming Netflix apostou todas as fichas no mês de julho, “Rua do Medo: 1978 – Parte 2” assume sua linguagem serial, com recapitulação e cenas do próximo episódio (um expediente que não lembro ser tão utilizado, de cabeça recordo de “De Volta para o Futuro 2“, de 1989). A diretora Leigh Janiak repete o bom trabalho de direção, desta vez fugindo do excesso de referências saudosistas, talvez por encontrar um espectador bem menos carente deste tipo de abordagem – e um público jovem mais sedento de sangue.
Assim como imaginamos ao término da sessão de “Rua do Medo: 1994 – Parte 1“, a viagem para a década de 1970 tinha como objetivo se alinhar às narrativas do período. De forma rápida, voltamos à noite em que Sam (Olivia Scott Welch) foi possuída pelo espírito maligno o qual a bruxa Sarah Frier condenou a cidade de Sunnyside a sofrer. Deena (Kiana Madeira) e Josh (Benjamin Flores Jr.) procuram C. Berman (Gillian Jacobs), uma mulher que não parece surpresa – e mesmo assim, muito preocupada – com os novos ataques da entidade. O filme, então, será um enorme flashback do que aconteceu no acampamento Nightwing na noite de 12 de julho de 1978, quando Tommy (McCabe Slye) foi o responsável por um massacre sem precedentes de jovens e crianças durante suas aventuras de verão – e que Berman sobreviveu para contar.
O elo de ligação será Ziggy (Sadie Sink), uma adolescente entendida pelos seus colegas como estranha, apesar de o ser bem menos do que Carrie. O texto de Janiak, ao lado de Zak Olkewicz (que adapta a série de livros criada por R.L. Stine) escancara a referência a ponto de citá-la nominalmente, ainda mais ambientada em um período em que o autor Stephen King iniciava sua trajetória de popularidade, incluindo as transposições cinematográficas. O longa-metragem não apenas segura o ímpeto de desovar dezenas de músicas e recriações imagéticas da época. Possui uma cadência que o torna parte, mesmo que anacrônica, da forma como o gênero se expressava. Menos frenético, uma narrativa exploratória e afunilante, consciente de que caminha para um grande momento no ato final.
“Rua do Medo: 1978 – Parte 2” usa essas sensações de maneira positiva. Tem seu próprio vínculo com o passado, a partir da personagem da enfermeira Lane (Jordana Spiro), mas foca mais na relação de Ziggy com sua irmã Cindy (Emily Rudd). Foge do jump scared inútil que se tornou a ferramenta das franquias dos clássicos setentistas, é um slasher bem menos eletrizante, bebendo da fonte que deseja homenagear.
Aos poucos o assassino vai se tornando uma espécie de Mike Myers de “Halloween” com seu machado e aquela caminhada vagarosa que sempre o faz chegar imediatamente depois de quem corre pela vida. Também há a cena em que ele surge destruindo uma porta de madeira como em “O Iluminado“, tudo isso é regra de um jogo pensado para quem gosta desta rememorações.
O que vale é que, de maneira autônoma, o filme se sustenta. Traz o jovem Nick Goode (Brandon Spink) e a origem familiar de quem sempre esteve fadado a ocupar uma posição de poder como delegado daquela comunidade. Consolida sua mitologia, apesar de não explorar a relação entre Sunnyside e Shadyside, até porque é bem mais conciso na promoção da ação e do terror. Prefere a aventura simples, que apresenta um mapa que levará à histórica casa da bruxa, uma boa desculpa para entreter, sem precisar criar sustos falsos.
O vermelho constante, seja nas roupas ou nos preparativos da Guerra das Cores promovida no acampamento, reforça a estética de horror sem precisar, novamente, exagerar nas tintas (nem imagéticas e nem narrativas). Ainda cria uma conexão interessante pela música “The Man Who Sold the World“, gravada originalmente em 1970 (e lançado em 71) por David Bowie e revista em 1993 (e lançado em 94) no álbum acústico do Nirvana.
Nesta ponte entre os anos 1970 e 1990, a Ziggy (apelido que a vincula ao Camaleão da fase que tratamos na crítica de “Stardust“, de 2020 – um alter ego glam rock criado após o sucesso de “The Man Who Sold the World” e “Hunky Dory”), tudo parece bem azeitado. Tanto que há misturas de sensações, pois nos sentimos encerrando ciclos das duas histórias e começando uma nova, na terceira linha temporal que chegará à Netflix na próxima sexta-feira.
Talvez, no encontro da ancestralidade de Sarah Frier, “Rua do Medo: 1978 – Parte 2” tenha preparado o terreno para deixar de lado o ímpeto saudosista e encontrar caminhos tão divertidos quanto os dois primeiros filmes e ainda mais criativos.
Veja o Trailer: