O Preço do Talento

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Sinopse: Em “O Preço do Talento”, Otis (Noah Jupe) é uma criança de 12 anos em ascensão na TV, porém sua vida gira em torno de seu pai, James (Shia LaBeouf), um ex-condenado e viciado que está em plena reabilitação. Por mais que dedique sua vida à carreira do garoto, a forma rude como o trata faz com que o garoto cresça com muitos traumas.
Direção: Alma Har’el
Título Original: Honey Boy (2019)
Gênero: Drama
Duração: 1h 34min
País: EUA

O Preço do Talento Honey Boy Filme Crítica Imagem

Entre a Reabilitação e o Exorcismo

Dentro das centenas de títulos da Sony Pictures que chegaram nos últimos dias no HBO Max está o corajoso “O Preço do Talento“. Exibido nos festivais brasileiros de final de circuito de 2019, como a Mostra SP e o Festival do Rio, o projeto da vida de Shia LaBeouf é daquelas obras que encontram diferentes leituras e percepções pelo espectador a partir de uma carga forte de informação prévia – além, como sempre acontece em qualquer fruição de arte, das próprias experiências e vivências.

Dirigido por Alma Har’el, podemos chamar “Honey Boy” (título original) de um filme autobiográfico de seu roteirista. No caso, o próprio autor, que revisita seu passado como promissor ator juvenil e os conflitos com seu pai diante desta mudança. Na ficção, seu alter ego é Otis (Noah Jupe) e ele mesmo é James. Mais do que a ousadia de abrir suas memórias para o espectador, Shia vai além e insere um elemento muito difícil de lidar quando nós somos o objeto de nossas criações. Traz pequenas projeções do que ele gostaria de ter dito – e o que gostaria de ter ouvido.

Vai além ao se escalar como aquele que o remete ao seu pai. Um processo de exorcismo de trauma e regressão de emoções feita aos nossos olhos. Com o peso dele se colocar como o outro, dele ser na ficção aquele que, supostamente, o feriu (e o forjou) na realidade. Entretanto, a estética de indie movie do início do século e a narrativa de estranhamento dar um ar de cult perdido a “O Preço do Talento“. Até porque LaBeouf deixou de ser uma peça importante no star system desde que se negou a ser um fantoche de Michael Bay na franquia “Transformers” (em referência na cena de abertura do filme) e ter sua vida pública devassada após ser preso em 2017 por embriaguez e desordem pública.

Foi justamente nesta fase, na qual esteve internado em uma clínica de reabilitação, que ele descobriu ter déficit de atenção, o que tornou sua trajetória profissional digna de obstáculos os quais ele não tinha controle pela total ignorância. Nos quase três meses em que esteve afastado da sociedade, ele refaz seus passos e registra esse roteiro, de um drama forte, pesado, sem espaço para outras representações. Reconstituições de brigas e momentos em que, por não conseguir ajudar o outro, pai e filho apenas se magoam.

Duas semanas após sua alta, ele filma “O Preço do Talento”, em apenas 19 dias – e finaliza a tempo de uma calorosa recepção no Festival de Sundance. Shia não falava com o pai há sete anos quando produziu a obra, enquanto que sua mãe esteve todos os dias no set, até mesmo para evitar que monstros adormecidos voltassem a prejudicar sua vida.

Quando começa a conseguir trabalho, o jovem Otis passa a ter sua rotina gerenciada por James. O pai, com sérios problemas de alcoolismo, não resiste à pressão e deixa para trás quatro anos de sobriedade. Depois dessa abordagem direta, o longa-metragem pode ser considerado um conjunto de percepções de seu criador. Por não termos controle do que são recriações ou criações de memórias, seguimos na sessão como se passeámos pela mente de um homem em crise precoce, com pouco mais de trinta anos, refletindo sobre como chegou até ali.

O fato é que, enquanto público, você pode não se reconectar com “O Preço do Talento“. Achar confuso o exercício de leituras de si mesmo de um roteirista, pela densidade dramática representada por uma diretora. As suas origens e a forma como você julga atos e comportamentos não lhe digam tanto quando Shia cria cenas para Otis dizer a James o que ele não conseguiu falar para o pai.

Ou, talvez lhe faça imaginar origens para que a situação não se esclarecesse à época. Isso nos leva a alguns fatores que sempre pesam nas relações familiares: não apenas o desconhecimento, mas também a falta de coragem e – principalmente – o orgulho, capaz de deixar traumas eternos em nossa mente.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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