Confira entrevista e crítica sobre “Miúda e o Guarda-Chuva” na 15ª CineBH.
Assista a entrevista com Amadeu Alban e Victor Cayres:
Sinopse: Miúda cuida de sua planta carnívora com muito amor e formigas fresquinhas. Ela deseja apenas que a planta lhe chame pelo seu nome, mas a planta exige cada vez mais formigas. Estas bolam um plano que envolve poesia, guarda-chuvas e uma máquina do tempo. A menina aprende que crescer é fazer escolhas.
Direção: Amadeu Alban
Título Original: Miúda e o Guarda-Chuva (2019)
Gênero: Animação | Fantasia
Duração: 1h 14min
País: Brasil
A Miúda de Grande Sabedoria
Dentre as várias iniciativas da Universo Produção no circuito de festivais mineiro, uma das mais importantes é o espaço para produções direcionadas ao público infanto-juvenil, em pé de igualdade com outras grandes realizações do audiovisual brasileiro (e internacional, no caso da 15ª CineBH). “Miúda e o Guarda-Chuva” é um dos representantes da Mostrinha deste ano e se revela uma obra que supera as questões relacionadas à plateia que alguns gostam de direcionar, como se os agentes receptores fossem uma espécie de limitadores do alcance dessas narrativas.
Não foi surpresa ao ouvir, em entrevista exclusiva para a Apostila de Cinema dentro da cobertura do evento, o diretor Amadeu Alban e o co-diretor e roteirista Victor Cayres falarem da facilidade de compreensão maior das crianças na comparação com os adultos nas experiências iniciais de exibição do longa-metragem. São eles que possuem o olhar parecido com o da protagonista, uma menina que desenvolve uma forte relação de afeto com uma planta carnívora, que se nega a chamá-la pelo nome “correto” (ou aquele que convencionou-se chamá-la). Para além de leitura simplista sobre os mais novos constituírem uma parcela da sociedade ainda não “contaminada” pela realidade de um mundo hostil e competitivo, o texto – que teve como pedra fundamental um conto de Paula Lice, também co-diretora e roteirista – mostra o que há como consequência dessa premissa.
Veja o trailer:
A animação se apresenta sob duas perspectivas, que se entrelaçam. “Miúda e o Guarda-Chuva” passa longe do maniqueísmo entre heróis e vilões e mostra como podemos ser antagonistas mesmo sem estarmos errado. A menina, que tem uma visão míope (literal e poeticamente), se aproximará do grupo de formigas que serve de fonte de sustento de sua amiga. Com isso, ela descobrirá um outro aspecto da realidade, no qual ela é a opressora – amadurecendo a partir das relações de poder que se constituíram antes que ela existisse. E sob a qual ela não possui tanto controle. Afinal, a planta só come formigas – e elas precisam morrer para que a companheira de Miúda sobreviva.
Na conversa, os realizadores falam de algumas escolhas estéticas muito interessantes. O diretor de arte e animador Igor Souza nos aproxima de uma linguagem que mergulha em um conto infantil e sua abordagem minimalista para, nas cores e incompletudes, provocar o espectador a suprir as lacunas de uma interpretação inalcançável para a garota. A vida enquanto um complexo redemoinho de relações e afetos que tem o conflito, as dores e a morte como partes integrantes. É fundamental que espaços como a CineBH – fora do circuito nichado de mostras direcionadas às animações ou de produções para o público infantil, deem espaço para uma obra como essa.
Mais do que o viés educacional, a múltipla empatia gerada para o leque de personagens do filme atua direto nos objetivos do cineasta de entender o audiovisual como ferramenta transformadora. Além disso, traz uma obra de qualidade que atinge de forma direta aquele que deve ser um dos principais objetivos de eventos como este: formar uma plateia para o futuro. O cinema brasileiro e sua indústria está cansada de ataques, de um desmonte governamental legitimado por uma parcela da sociedade que usufrui de seus frutos sem perceber. Ou percebendo – e deturpando argumentos por alinhamento ideológico.
Talvez, por isso, parte dos adultos não alcancem as representações e mensagem de “Miúda e o Guarda-Chuva“. Há uma miopia diferente no caso desses agentes. Outros encontrarão, acidentalmente e baseado em suas vivências, algumas referências de outras obras que nos formaram enquanto espectadores ainda jovens. O Brasil tem a tradição de aliar o audiovisual às crianças como fonte de informação, entretenimento e educação. Nos últimos anos, uma das criações que melhor reflete este legado se encontra aqui.
Ouça a entrevista com Amadeu Alban e Victor Cayres: