Sinopse: Lucas viaja para visitar sua irmã em uma cidade remota no sul do Chile. Em frente ao mar e à névoa, ele se apaixona por Antonio, um contramestre de um barco de pesca local.
Direção: Omar Zúñiga
Título Original: Los Fuertes (2019)
Gênero: Romance
Duração: 1h 38min
País: Chile
Cansados de Reencenar
“Los Fuertes” é o primeiro longa-metragem do jovem realizador chileno Omar Zúñiga. Mesmo assim, ele tem mais de uma década de carreira e sete curtas-metragens lançados. Boa parte dos roteiros e das montagens dos mesmos ficaram sob sua responsabilidade. Ele também é fundado da Cinestación, uma produtora independente sul-americana. Portanto, transita por todos os elementos basilares de uma obra cinematográfica com propriedade. E entrega ao espectador no penúltimo dia de exibições do Festival de Gramado de 2020 o melhor dos seis filmes internacionais postulantes ao Kikito.
O longa-metragem é uma versão estendida de “San Cristóbal“, curta que Zuñiga exibiu no Festival de Berlim em 2015 e venceu o prêmio Teddy, para produções de temática LGBT. Ele tem início como se estivéssemos em uma batalha histórica. Descobrimos, logo em seguida, se tratar da representação da Tomada de Valdívia, importante para a conquista da independência do Chile. Independência e liberdade. Em formato de sonho e contextualizado no passado, esta é a intenção de Lucas (Samuel González), jovem que visitará a irmã na linda cidade de Nielba, antes de se mudar para o Canadá, onde conseguiu uma bolsa de estudos.
Zúñiga nos trará reencenações desta batalha em outras oportunidades, agora no Forte de Nielba. O protagonista conhecerá Antonio (Antonio Altamirano), que trabalha por vezes em seu barco de pesca e em outros interpretando um dos soldados. O que seria uma reconexão com a irmã se transforma em uma paixão na vida de Lucas. Um romance campestre que equilibra as lindas representações do território com bonitas cenas de amor. Por sinal, em uma das sequências de destaque de “Los Fuertes“, uma banalidade – que pode ser considerado um incômodo – é um aviso para Lucas neste sentido. Depois de muitas cenas carregadas de sensualidade, o cineasta nos traz o momento exato em que a paixão vira amor. Ocorre quando Antonio, enquanto dorme, começa a roncar. E Lucas, completamente envolvido, entende que já não é mais o único responsável pelos seus atos.
Amar não deveria ser dependência, mas saber que é amor passa por esse processo. É duro assistir a trajetória de um personagem convicto do que quer, sem poder conquistar a liberação tal qual seu amante simula vez ou outro no Forte Nielba. Independência e liberdade – até mesmo para ser dependente e atrelado a outro. É isso que motiva Lucas a viver aquele amor, se entregar sem pensar em qualquer tipo de consequência. Nada nessa vida supera a segurança de um amor correspondido. Por isso, é fatal ouvir dessa mesma boca o mesmo conselho que tantos já lhe deram: vá. Fuja.
Um jovem disposto a fincar seu pé e exercer suas raízes chilenas. Não admitir que viver um romance de temporada. Eles são fortes, a ponto de libertar de qualquer amarra e padronização. Apesar de decidir para onde ir ser um ato pessoal, as palavras dos outros tem seu peso. Caberia a Antonio permitir que Lucas finalmente fosse comandante de sua própria comuna, tomasse a sua própria Valdívia. Cansado de reencenar, ele queria finalmente viver. Em “Los Furtes” torcemos para que ele siga tentando e que Omar Zúñiga continue realizando seus romances poéticos, carregados de amor e sexo, em forma de Cinema.
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