Sinopse: “Arroz, Feijão e Cinema” pretende fazer um recorte da desigualdade no panorama cultural da cidade do Rio de Janeiro sob a perspectiva da periferia, mostrando a experiência a partir do Ponto Cine, primeira sala popular de cinema inteiramente digital do Brasil, com capacidade para 75 espectadores, com o ingresso mais barato da cidade. Localizada em Guadalupe, bairro do subúrbio, na fronteira com a Zona Oeste e a Baixada Fluminense, com programação voltada prioritariamente para filmes brasileiros e para filmes de “arte”, que promove ações de inclusão sociocultural e trabalhos de formação de plateia. O documentário pretende expor que, apesar da cidade do Rio de Janeiro ser considerada a Capital Cultural do Brasil, ainda existe muito por fazer para a democratização da produção e do acesso culturais.
Direção: Léo Barros
Título Original: Arroz, Feijão e Cinema (2014)
Gênero: Documentário
Duração: 30min
País: Brasil
Por um Outro/Mesmo Subúrbio – Reconhecimento da Pluralidade Cultural Suburbana Carioca
O curta-metragem “Arroz, Feijão e Cinema“, de Léo Barros (disponível ao longo do mês de 2020 na Mostra Cinemas do Brasil), começa com os trilhos da Leopoldina, ramal que corta a região Norte da cidade do Rio de Janeiro. Região que outrora recebeu a elite carioca, a partir do início do século XX com a reforma do, então prefeito, Pereira Passos e a valorização das praias – muito estimulada pela ideia de que as águas do mar seriam benéficas à saúde em conjunto com a construção do Copacabana Palace – a região Norte passa a carregar estigmas e a ver o abandono do poder público. Mas jamais de seus moradores.
Ao longo das décadas, o subúrbio carioca nos forneceu grandes personalidades e movimentos culturais que podem ser entendidos como “a cara do Rio”. Como muitos de seus moradores advogam, o Rio não é somente praia e corpos sarados correndo na orla. O curta de Barros, parte de seu TCC de conclusão da graduação em Comunicação Social na UFRJ, faz parte de um movimento de valorização da região, assim como o cinema que o inspirou.
“Arroz, Feijão e Cinema” parte da criação do cinema e polo cultural Ponto Cine, em Guadalupe. A localização do bairro reflete sua importância. Entre Pavuna, Anchieta, Coelho Neto e Deodoro, Guadalupe também é bem mais que um nome de novela mexicana, como nos lembra o crítico de cinema e produtor Rodrigo Fonseca. Com essa localização central dentro da região, o Ponto Cine logo desponta como um espaço exibidor de cinema brasileiro e, principalmente, de debates que chegam através dos diretores e atores de filmes em exibição. Talvez, bastasse dizer que Cacá Diegues pediu para ser o embaixador da sala, como no revelou Barros em entrevista concedido ao Apostila de Cinema (que será publicada em breve, dentro da nossa cobertura da Mostra). No entanto, o Ponto Cine provoca paixões.
É por essas paixões que o curta-metragem percorre os trilhos de trem anunciados em seu início. Esse ano tivemos a oportunidade de cobrir a Mostra Zona Norte de Cinema, idealizada por Adailton Medeiros (responsável pela sala de cinema e idealizador do Ponto Cinema). Nela, pudemos ver a multiplicidade de produções e a qualidade narrativa e estética das mesmas. É compreensível, então, a escolha de temática de Barros para sua primeira produção.
Ao conseguir reunir vozes de diversas idades e com motivações distintas para fazer do Ponto Cine um local de encontro, o filme traz um pouco de volta uma certa nostalgia proporcionada pelos cinemas de rua (embora se encontre efetivamente em uma galeria). Maior exibidor de cinema brasileiro do mundo, como diz o próprio Barros, o Ponto Cine ultrapassa seu valor enquanto sala de cinema e faz com que pessoas se enxerguem na tela pela primeira vez. Espaço de encontro, reverberação e mudança, a sala se recria como possibilidade de alimentação de autoestima.
Muito Arroz, Feijão e Cinema para quem faz a cidade acontecer.
Veja o Trailer:
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