Cinemas de Rua em Tempos de Pandemia

Mostra Cinemas do Brasil Pôster

Programa Cinemas de Rua em Tempos de Pandemia

Mostra Cinemas do Brasil 2020

Aos Olhos de Monção e da Baixada Carioca

Os Cinemas de Rua em Tempo de Pandemia
Os Cinemas de Rua em Tempo de Pandemia (Eudaldo Monção Jr., 2020)

No ProgramaCinemas de Rua em Tempos de Pandemia” da Mostra de Cinemas do Brasil vemos retratadas as recentes dificuldades pelas quais passa o setor audiovisual a partir do início de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus atingiu o país. Todavia, há também uma preocupação em mostrar que o processo, de algum modo, já vinha acontecendo. Assim tal recorte curatorial conta com três curtas-metragens.

Os dois primeiros, “Os Cinemas do Brasil em Tempos de Pandemia” e “Recordações de Ontem” contam com direção do curador e também idealizador da Mostra, Eudaldo Monção Jr., que a divide com Guilherme Ramos no segundo. Pode-se dizer que as obras olham para o mesmo momento social sob prismas diferentes. Enquanto em “Os Cinemas de Rua em Tempos de Pandemia” o diretor, ainda que aponte para o fechamento das salas ao longo do ano, apresenta uma possível solução com o retorno do drive-in, “Recordações de Ontem” assume uma narrativa bem mais nostálgica.

Recordações de Ontem Os Cinemas de Rua em Tempos de Pandemia
Recordações de Ontem (Eudaldo Monção Jr., e Guilherme Ramos)

O segundo curta-metragem traz uma série de imagens de arquivo narradas por senhoras e senhores que viveram os gloriosos tempos dos grandes cinemas de rua. Se, em geral, há uma mescla de sentimentos nos filmes apresentados pela mostra, esse se assume completamente nostálgico. Porém, isso não quer dizer que são as vozes de Monção e Ramos que falam. Tal qual as músicas intercaladas, por vez ou outra, nos transportam no tempo, as narrações também nos conduzem a imaginar como esses espaços adquiriram papel central no início do século XX.

As imagens dos letreiros, das filas, das manchetes de jornal dançam pela tela com as marchinhas de Carnaval. Linguagem bem distinta do primeiro filme. Nele, Monção utiliza manchetes de jornais, mas não em seu formato impresso. Quer dizer, o diretor desloca o texto de sua mídia original. Ou estará anunciando que hoje ela também se apresenta em telas de computadores como essa?

As ferramentas narrativas de Eudaldo em ambas produções fazem com que sua brevidade seja sentida pelo espectador que anseia por mais. Talvez, as duas ideias pudessem ser exploradas em médias. Quem sabe no futuro? É possível que essa reconstrução das mídias culturais, que inclui os cinemas, ainda dure mais um tempo. Tempo suficiente para Monção sugerir outras narrativas sobre o assunto.

O Último Cinema de Rua Curta-metragem
O Último Cinema de Rua (Marçal Vianna)

“O Último Cinema de Rua” é uma surpresa dentro da Mostra. Realizado por um conjunto de artistas da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e dirigido por Marçal Vianna, o curta-metragem é uma ficção. Esse é um gênero que não aparece com tanta frequência entre os selecionados para o festival (aparece, geralmente, mesclado ao documentário, mas sendo o último sempre o condutor da narrativa). Contemplado pelo programa Cultura Presente do Governo do Estado do Rio de Janeiro, utiliza a metalinguagem para tratar da dificuldade dos artistas em tempos de pandemia. Em seus quase 15 minutos, fala também sobre as mudanças da mídia e ressalta a elitização do cinema com a chegada das grandes salas de shopping que substituem as salas de rua.

As personagens construídas transitam pela arte trabalhando em diversos setores. Há, inclusive, uma jovem com medo de perder seu emprego em uma grande rede de cinemas. Assim, podemos estabelecer uma conexão com as diversas formas pelas quais todos são atingidos com a crise. Embora a maior parte do curta-metragem trate desses entraves e barreiras que são colocadas aos jovens periféricos que desejam viver de arte, é com uma certa esperança que ele termina.

Esperança consciente – e não pueril. O Estado do Rio de Janeiro é mostrado em toda sua ambivalência e dificuldade de acesso ao lazer que algumas áreas enfrentam, porém, as brechas -às vezes- são encontradas.


Ficha Técnica do Programa Cinemas de Rua em Tempos de Pandemia

Os Cinemas de Rua em Tempo de Pandemia (Eudaldo Monção Jr., 3′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Quando os cinemas viram personagens.
Recordações de Ontem(Eudaldo Monção Jr., e Guilherme Ramos, 13′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Fragmentos de histórias e memorabilias sobre os cinemas de rua do Brasil como personagens na construção da identidade cultural das cidades.
O Último Cinema de Rua (Marçal Vianna, 13′ – Brasil, 2020)
SinopsePassando por uma crise sem precedentes no meio da cultura, quatro jovens artistas resgatam a memória de sua cidade, os anos dourados de Nova Iguaçu: o ápice e a queda dos cinemas de rua.

Clique aqui e conheça a página oficial da Mostra Cinemas do Brasil – No Mundo de 2020.

Clique aqui e conheça a nossa cobertura da Mostra Cinema do Brasil – No Mundo de 2020.

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *