Os Curtas de João Paulo Miranda Maria
Nas Sombras se Escondem os Relatos
Disponível dentro da programação de encontro com realizadores do cineclube Cinerama, vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Apostila de Cinema (assim como fez com Allan Deberton e Miguel Antunes Ramos), revista três curtas-metragens do início da carreira de João Paulo Miranda Maria.
Levando em consideração seu premiado longa “Casa de Antiguidades” (2020) e essa três obras (“Command Action” de 2015; “A Moça que Dançou com o Diabo de 2016 e “Meninas Formicida” de 2017), o cineasta vive em algum espaço entre o real e o imaginário. De certa forma, assim o é com todos nós, que percebemos o mundo de acordo com uma consciência sobre a qual falta muito estudar. João Paulo, no entanto, vê imagens e resíduos de objetos e histórias para além do olhar mediano.
Com planos incomuns, narrativas quase insólitas – e aqui o quase é importante – o diretor parece bailar por entre realidades paralelas: o possível e o improvável. Assim, seus curtas-metragens têm vida própria e são tão interessantes quanto o longa que o impulsionou ao Festival de Cannes em 2020.
Por sinal, a carreira internacional do realizador começou cedo. Ele estreia com “Ida do Diabo” (2014) que não faz parte da seleção aqui tratada. Em seguida, “Command Action” (2015) é indicado ao Discovery Award da Semana da Crítica já no Festival de Cannes – e vence o prêmio de melhor som no Festival de Brasília, em trabalho de Léo Bortolin. “A Moça que Dançou com o Diabo” (2016) recebe troféu de menção especial do júri também em Cannes e é indicado no ano seguinte ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria de curtas-metragens.
Por fim, “Meninas Formicida” (2017) é selecionado para o Festival de Veneza, aumentando a expectativa sobre a primeira incursão do diretor em longas-metragens – novamente bem sucedida em “Casa de Antiguidades” (2020), que a Apostila de Cinema conferiu na programação da Mostra SP 2020.
A verdade é que João Paulo Miranda Maria possui uma linguagem muito própria da qual parece não querer largar mão. Nem deveria.
É possível que, em algum momento, o cineasta resolva alçar voos mais surrealistas. Porém, a realidade anda tão estranha, que é no mais comum, no cotidiano, que ele encontra suas narrativas e faz delas mesclas entre imagens recorrentes e outras que ganham ritmo somente a partir do seu olhar.
Imagens distorcidas, uma luz que estoura em algum ponto da imagem a tensão contínua, tudo isso nos transporta entre objetos desgastados e imagens de exorcismo. A religião, aliás, ganha espaço em dois desses curtas-metragens. Talvez, justamente por necessitar de um ato de fé.
Com muitos contraluz, Miranda também nos leva a imaginar o que está dentro do contorno, nos espaços escuros que deixa em cada cena. Assim como em “Casa de Antiguidades”, as outras obras do diretor exigem que você se proponha a fazer parte desse mundo, nem que seja somente durante aqueles minutos.
Mais do que buscar uma história ou revelar grandes descobertas, João parece interessado na experiência. Caso sejamos capazes de caminhar com ele por histórias que, em si, não possuem nada demais, seremos capazes de perceber o que se esconde em cada plano. Tudo o que está encoberto pelas histórias aparentemente banais. Os sons, às vezes, ajudam.
Assista aos curtas até o dia 21.01
Assista Command Action (2015):
Assista A Moça que Dançou com o Diabo (2016):
Assista Meninas Formicida (2017):
Ficha Técnica da Sessão Os Curtas de João Paulo Miranda Maria
Command Action (João Paulo Miranda Maria, XX1 – Brasil, 2015)
Sinopse: Um garoto está comprando verduras para sua família em um mercado de rua, mas de repente algo acontece.
A Moça que Dançou com o Diabo (João Paulo Miranda Maria, XX1 – Brasil, 2016)
Sinopse: Uma jovem muito religiosa sai à noite para dançar.
Meninas Formicida (João Paulo Miranda Maria, XX1 – Brasil, 2017)
Sinopse: Em uma pequena cidade, uma adolescente trabalha todos os dias em uma floresta de eucaliptos, onde afasta formigas com pesticidas. No entanto, sua luta interior acaba sendo a verdadeira batalha.
Os Curtas de João Paulo Miranda Maria