Sinopse: Em “A Casa de Plástico”, uma jovem constrói uma realidade solitária imaginando como seria a vida após a morte de seus pais. Absorvida no lento processo de trabalhar sozinha na estufa da família, ela revive lembranças sombrias de seus pais e mãe cambojana. O ritual de cura do trabalho físico se revela gradualmente ao longo do tempo. Como o teto de plástico suporta o peso dos elementos naturais, o clima precário ameaça essa nova vida sozinha.
Direção: Allison Chhorn
Título Original: The Plastic House (2020)
Gênero: Drama Experimental
Duração: 46min
País: Austrália
Sem Rede e Moinhos
“A Casa de Plástico” é uma maneira de criar um mundo em que possamos controlar nossas emoções por completo. Só que um controle através da fuga, uma maneira de não se importar com algo que não seja vital e que – no final das contas – nos levará ao sofrimento que tanto estamos adiando.
No caso da obra dirigida por Allison Chhorn temos uma jovem que perdeu, no intervalo de um ano, o pai e a mãe. Praticando a agricultura familiar, ela transforma a necessidade do trabalho na válvula de escape que precisa para não encarar o luta e todos os desdobramentos que as mortes lhe causam. Com isso, ela faz a rotina incessante de trato da estufa, colheita, separação, venda. Encara a melancolia quando a noite chega e precisa esperar vez em quando novas germinações que a sobrecarreguem de mais trabalho.
É difícil identificar em qual das cinco fases do luto a protagonista se insere porque a realizadora faz de “A Casa de Plástico” um exercício de imagens muito objetivo – tão focado nas representações laborais quanto a própria personagem. A contemplação que nos resta é exatamente a mesma daquela moça, que observa a água da chuva – ou da irrigação – descendo pelas folhas como que evitasse que qualquer ampliação de imagem, qualquer visão periférica, lhe mostrasse um mundo em que a dependência dos pais urgisse. Parece ser uma negação – e pior, a negação da negação. É como se pudéssemos fingir que tudo a nossa volta não existe.
Claro que, quando o elemento externo se impor, será uma experiência avassaladora. A protagonista, como se fizesse um laboratório de vivências pela Literatura, até tenta resgatar sua humanidade lendo “Enquanto Agonizo” de William Faulkner. Uma obra em que o escritor norte-americano traz múltiplas visões acerca da morte – e do luto. Uma troca que a jovem de “A Casa de Plástico” não consegue ter porque opta pela solidão. Mas o mundo real ressurge, a partir de uma condição climática desfavorável – que descortina a redoma (de plástico) na qual ela se colocou. “A Casa de Plástico” deixa ao fim o sentimento de angústia pela prova de que evitar a realidade não a torna inexistente. Uma revolta que chega na mesma proporção da calmaria, pulverizando tudo o que foi construindo antes, tornando a escolha apenas uma paralisia desperdiçada.
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