Sinopse: Em “A Força da Natureza”, um policial deve proteger os moradores remanescentes de um prédio no meio de uma evacuação de furacão, enquanto criminosos violentos tentam realizar um misterioso assalto dentro do prédio.
Direção: Michael Polish
Título Original: Force of Nature (2020)
Gênero: Ação | Crime
Duração: 1h 31min
País: EUA
Ação Tensionada
“A Força na Natureza“, dirigido por Michael Polish, é uma das estreias da semana no catálogo da Netflix e deve atrair duas gerações de cinéfilos de fim de semana. Há quem veja na figura de Mel Gibson um filme de ação capaz de resgatar as narrativas de outros tempos, em que não havia tantos obstáculos em uma trama de polícia correndo atrás de bandido. Outros podem apostar em Emile Hirsch para trazer uma carga dramática ao longa-metragem. É possível chutar que ninguém sairá totalmente decepcionado, mas não encontrará o que espera na intensidade de outros tempos.
O veterano ator substituiu Bruce Willis e, devemos dizer, o projeto combina bem mais com a carreira de Gibson. Ele é Ray, um agente da lei aposentado que, dentre os vários usos de ferramentas narrativas típicas do gênero, se vê obrigado a voltar à ação. A base da trama, contudo, é Cardillo, interpretado por Hirsch, que desde “Milk – A Voz da Igualdade” (2008) vê sua carreira andar para trás. Ele é um policial de Nova Iorque deslocado para Porto Rico após um acontecimento que o texto de Cory M. Miller guarda no bolso enquanto isca narrativa. Por sinal, o alongamento dessa revelação (ou seria uma “explicação”, como alguns consumidores adora buscar) pode ser reflexo de ser este o primeiro roteiro de um longa-metragem do norte-americano. Um desdobramento tardio, que surge quase como um caco na parte final.
Passamos boa parte da sessão esperando compreender o que houve com a parceira de trabalho e amor do protagonista, a jovem Jasmine (Jasper Polish). Um chamado aparentemente mal sucedido e que se reflete quando o rádio do seu veículo o chama para uma nova ocorrência, já na ilha ocupada pelos Estados Unidos. Ele e a nova parceira Pena (a popular atriz peruana Stephanie Cayo, estreando em produções em inglês) desconfiam de um homem que quer levar todo o estoque de carne de um supermercado quando uma forte tempestade acompanhada de um tornado se aproxima. Somos, então, levados a um condomínio sob risco de ataque de um grupo de criminosos, que se aproveitarão do evento da natureza para atacar.
Veja o Trailer:
“A Força da Natureza” me fez puxar da memória um filme assistido no cinema (saudades) há mais de vinte anos. A ambientação de uma trama policial em um dilúvio de grande proporção dialoga com “Tempestade” (1998), início da carreira de diretor do dinamarquês Mikael Salomon, que já havia sido duas vezes indicado ao Oscar: pela fotografia de “O Segredo do Abismo” (1989) e pelos efeitos visuais de “Cortina de Fogo” (1991). Experiências com James Cameron e Ron Howard e um elenco popular à época (Morgan Freeman, Christian Slater e Randy Quaid) encheu muita gente de expectativa. Para o meu olhar adolescente, gostei do filme e do uso da chuva como elemento, não apenas de som quanto de fotografia. Nunca o revi, acho que nem pretendo.
O longa-metragem de Polish não segue tal caminho. Opta por uma visualidade mais limpa, correndo risco menor em ser confuso. Perde em possibilidades e ganha em entendimento. Se cerca de vários elementos de filmes policiais, como o já citado tira aposentado que pega de novo em armas, mas segura o ato final mais na tensão do que na ação. Por sinal, aquele gancho do roteiro mencionado compõe a clássica quebra de ritmo do final do segundo ato, quando a história é paralisada no meio do fuzuê para resgatar a origem dos personagens. Seria a tal carga dramática que alguns podem esperar. Ela não funciona porque até então são poucos vínculos criados, tanto em relação ao espectador quanto entre eles em cena. Uma história que olha para frente e não precisa se basear em passados mal resolvidos – porém o faz, quase como um manual.
Já que isso surge por ali de forma atravessada, vale mencionar que o caminho pensado para Cardillo é interessante. Um homem que aplica o ideal de corporativismo, escolhe suas demandas, porque sabe que faz parte de uma corporação em que seu nome fica sujo por muito pouco – ou por nada. Com um leque pequeno de personagens, boa parte do público antecipará de onde virão os outros exemplos, de heroísmo e de traição. Nos créditos, a música “Hurricane” de Jacob Bunton tem um poder maior de nos transportar ao passado glorioso da imagem de Mel Gibson e dos filmes de ação (e também do rock) do que parte dos diálogos modorrentos de “A Força da Natureza“. Os admiradores deste tipo de produção podem usar como um exercício de identificação de fórmulas – ou de reencontro com um gênero que sobrevive para satisfazer aquele momento que guardamos para esvaziar a mente.
Ouça “Hurricane”, de Jacob Bunton: