“A Guerra do Amanhã” estreou no Amazon Prime Video. Leia a crítica.
Sinopse: Em 2051, a humanidade está perdendo uma guerra global contra uma espécie mortal de alienígenas. Para garantir a sobrevivência dos humanos, soldados e civis do presente são transportados para o futuro e se juntam à luta, entre eles Dan Forester, um pai de família determinado a salvar o mundo para sua filha.
Direção: Chris McKay
Título Original: The Tomorrow War (2021)
Gênero: Ficção | Ação | Guerra
Duração: 2h 20min
País: EUA
Só Corro
Não se sinta mal se, ao término da sessão de “A Guerra do Amanhã“, estreia da semana – e muito esperada pelos assinantes – do Amazon Prime Video, você ficar com a impressão de que apertou o play do filme há dois dias. O cineasta Chris McKay, o homem por trás da animação “Frango Robô“, soa como um aprendiz de Zack Snyder na sua estreia em longas-metragens live actcion (nem tanto live, mas bastante action). Explora diversas representações e tramas possíveis, quase sempre sem profundidade e caracterizada pelas dificuldades em envolver o espectador em uma narrativa. Tanto esforço para não cairmos no reducionismo de chamar a obra de uma aventura genérica.
No mundo criado pelo roteirista Zach Dean, a Humanidade corre sério risco de extinção após um ataque alienígena de grandes proporções. Transformando suas representações territoriais em uma versão moderna do caos promovido pelas cidades mal administradas do jogo “SimCity 2000“, o filme se inicia em um prólogo no ano de 2051, onde pouco mais de meio milhão de pessoas seguem resistindo ao iminente fim da espécie. Porém, o primeiro terço da obra se passa em dezembro de 2022, onde as forças extraterrenos escolhem a final da Copa do Mundo do Catar (justo em um ataque da Seleção Brasileira) para promover uma chegada épica em nossos domínios.
Os poderes institucionalizados tentam solucionar o problema enviando tropas para o futuro, quando nossos inimigos se estabeleceram e começaram a nos atacar. A tática era superpovoar a Terra de agentes que sobreviveram ao coronavírus e aos péssimos lançamentos das plataformas de streaming em uma missão quase suicida de fazer número e dificultar o progresso dos ETs. O plano não parece surtir efeito e boa parte dos militares e civis voluntários perderam a vida em suas viagens para 2051. O governo norte-americano, então, recruta a turma da meia-idade, com grandes chances de estar morta na década de 50 e, “não tendo nada a perder”, reforçaram a equipe de humanos. Ufa!
Começando a receita de fita de ação genérica, o cineasta adiciona três doses de dez minutos de construção de arco dramático. O action hero da vez é Dan (Chris… Pratt, nunca sei quem é quem no Chrisverso dos blockbusters esquecíveis). Com uma relação conturbada com o pai, ele mantém o senhor James (J.K. Simmons) sem contato com esposa e filha. A menina Muri (quando criança vivida por Ryan Kiera Armstrong) é a criança-modelo do comercial de margarina. Sonha em ter os mundos aos seus pés, ser “a melhor” no que quer que escolha – e seu pai lhe responderá sempre com discursos motivacionais meritocráticos, esquecendo o apocalipse que desponta lá no horizonte.
“A Guerra do Amanhã” começa uma trajetória nos provocando com um evento de paralisação do mundo. Dean e McKay não têm culpa de, desde o início de 2020, nos acostumarmos com essa ideia de risco da própria existência a partir do descobrimento de algo capaz de nos deixar perdidos ou reflexivos (negacionistas não entenderão). Dan se forja no velho triângulo Deus, pátria e família, conservador enquanto forma dos pés à cabeça. Fugindo um pouco do discurso neste primeiro momento, o longa-metragem quer esmiuçar essa visão sentimentalista do que está por vir, até que a missão de sete dias no ano de 2051 finalmente ganhe forma.
Tanto esforço para coisa alguma, sinto dizer. Quando ativa o modo filme de ação de narrativa gameficada, a produção se limita a isso. Suas subtramas e propostas da parte introdutória são exatamente aquilo que o roteirista aprendeu na oficina de escrita da sua adolescência: muletas e desculpas para cenas dramáticas ou elementos que possibilitem um deus ex machina mais emocionante e convincente. Tirando a participação que trará saudade aos fãs da série “24 Horas” (2003-2010), quando a atriz Mary Lynn Rajskub aparece como uma das pessoas enviadas para o futuro repetindo as mesmas caras, bocas e deboches da eterna Chloe O’Brian em seu auxílio tecnológico ao torturador agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland), as duas horas seguintes parecem um trailer infinito.
Tem teoria do buraco da minhoca em duas ou três sequências com diálogos expositivos, sequências de ação que usam os cortes rápidos no método Michael Bay e derivados, dentre outros exercícios. Podem agradar, mas se confundirão em uma massa de produções estreladas por vários “Chrises”. Longe de obter o resultado bem-sucedido de “Sem Remorso” (2021), apesar da expectativa da Amazon parecer maior com este lançamento. Também, pudera, foi adquirido junto à Paramount por 200 milhões de dólares depois que o estúdio desistiu de lançá-lo no cinema com os adiamentos forçados pela pandemia.
Nem o texto de Dean e muito menos as representações de McKay exploram as possibilidades de uma nova incursão em viagens no tempo e seus paradoxos. Um protagonista que reencontrará a filha Muri (quando adulta interpretada por Yvonne Strahovski) e terá que lidar com as consequências de escolhas que ele ainda não tomou. Isto porque, toda a vez que imaginarmos a ideia de “viver o futuro”, na verdade estamos diante de uma hipótese. Sofremos por força do hipotético, já que a própria série de eventos inaugurada com essa transposição terá o poder de alterar o que parecia constituído. Em quase duas horas e meia é possível dar conta de todo o fan service dos filmes de ação e debruçar certo carinho com a constituição de seus personagens.
Mas, para que? O mistério sobre o objetivo do envio de Dean para o futuro é premissa descartada, gastou-se tempo para forçar um drama e quando ele precisa se consolidar ou se desdobrar, o longa-metragem só quer saber de socar aventura e monstros nojentos na tela. Enquanto mensagem de conscientização dos nossos atos, o filme passava quase incólume até seu ato final. O que parecia se sair apenas como genérico, consegue embolar um arco ambientalista e imperialista, com a solução exigindo que os bravos ianques adentrem em território estrangeiro – agora no presente, onde as fronteiras ainda existem.
Quando parecia edificar nossa derrota enquanto seres incapazes de resolver certos problemas – e as tentativas forçadas com seu potencial de causar ainda mais destruição – “A Guerra do Amanhã” faz uma emenda que desvirtua seu soneto. Fica como exceção a cena final, protagonizada por Pratt e Simmons: exagerada, piegas e constrangedoramente sentimental – como amamos nos blockbusters que se assumem enquanto fórmulas e ousam quando repetem a receita da diversão.
Veja o Trailer:
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