Sinopse: Memórias do passado escravista brasileiro transbordam em paisagens etéreas e ruídos angustiantes. Através de um ensaio poético visual, uma reflexão sobre silenciamento e invisibilização do povo preto em diáspora, numa jornada íntima e sensorial.
Direção: Rodrigo Ribeiro
Título Original: A Morte Branca do Feiticeiro Negro (2020)
Gênero: Narrativas Áudio/Visuais
Duração: 10min
País: Brasil
De que Morrem os Negros?
“A Morte Branca do Feiticeiro Negro” de tem como temática o racismo. Ainda que a palavra “angustiante” apareça em sua sinopse, realmente entrei em choque. Rodrigo Ribeiro também foi responsável por Quadro Negro, selecionado para mostra no 47º Festival de Cinema de Gramado.
Talvez porque estivesse imersa na cobertura do Festival de Curtas da FUNDAJ 2020, realizado pela Cinemateca Pernambucana, ou por ter ficado curiosa com a duração do filme. “A Morte Branca do Feiticeiro Negro” veio para me lembrar que o impacto da obra cinematográfica nada tem a ver com sua duração.
Os dez minutos nas mãos de Rodrigo Ribeiro, parecem uma vida. Digo isso como elogio e como metáfora, pois é mesmo da morte de um negro escravizado que se trata.
Ainda sem saber por onde estava transitando vi as imagens de arquivo mescladas a imagens de alçapões registradas por Ribeiro. A angústia realmente toma nosso corpo na narrativa que, até o final, não sabemos se tratar de uma real.
A carta de suicido do escravizado Timóteo datada de 1861, dói como se fosse escrita hoje, ainda que mantenha a maneira formal da escrita à época. Dói como se fosse hoje porque, de certa forma, continua a ser.
Não somente porque podemos pensar o tempo como uma estrutura não linear na qual podemos nos conectar afetivamente com histórias do passado ou do futuro, mas porque essa história em particular apesar de não manter a mesma estrutura, continua a ocorrer.
“A Morte Branca do Feiticeiro Negro” vem para resgatar a memória dos negros escravizados em ocasião da colonização, mas também para gritar o pavor daqueles que continuam a habitar essas terras.
Como suportar as dores impostas aos nossos corpos? Como seguir sem um cenário que pareça favorável a mudanças? Essas perguntas só serão respondidas no resgate de novos corpos que procuram no passado reviver ,mas renascer a partir das narrativas das próprias histórias.
É de impressionar que o filme consiga ser tão árido e desesperador e tão sensível ao mesmo tempo. Rodrigo parece ser um desses cineastas que aparecem para nos salvar, ou ao menos acordar, a partir da arte.
Sua obra merece ser acompanhada com cuidado e atenção.
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