A Ponte de Bambu

A Ponte de Bambu Documentário Crítica É Tudo Verdade Pôster

Sinopse: Uma incógnita a olhos ocidentais, a China é um gigante que se impõe pelas barreiras do idioma, dos costumes e da história. Com testemunhos e imagens de valor histórico e sentimental, o jornalista Jayme Martins e sua família levam a uma compreensão da China por vias inéditas ao relatar sua experiência no país: o comunismo, a Revolução Cultural de Mao, o massacre da praça da Paz Celestial e as reformas que culminaram em uma superpotência. O diretor Marcelo Machado mergulha nessas memórias e visita o país, onde igualmente guarda conexões afetivas.
Direção: Marcelo Machado
Título Original: A Ponte de Bambu (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 17min
País: Brasil

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Dinamitando Preconceitos

Apresentado dois dias antes, o documentário brasileiro “A Ponte de Bambu” parece ir de encontro com a produção original chinesa “Cidade dos Sonhos“, que Roberta Mathias tratou em outro texto. Esqueçam a forma moderna de se relacionar com a cidade e o socialismo de mercado profundamente aplicado no país mais populoso do mundo, em rumo a ser também a maior economia. A obra de Marcelo Machado, a partir do olhar de Jayme Martins – jornalista que residiu no país e testemunhou alguns de seus períodos mais fundamentais para a atual configuração – consegue ao mesmo tempo nos apresentar uma visão sobre assunto e contar uma história que une a resistência e o amor, a aposta em um ideal sem deixar para trás os seus.

Em duas décadas na China, Jayme foi a voz em português de um território ao qual poucos de nós tínhamos informações, ainda mais durante a ditadura militar brasileira – a mesma que fez o protagonista do longa-metragem se exilar. Trabalhando na rádio pública (Rádio Pequim), chegava aqui pelas ondas de longa frequência, alcançando o próprio cineasta quando jovem. Depois se tornaria importante correspondente internacional nas principais empresas de mídia do Brasil. Machado, então, vai aos poucos se inserindo afetivamente em sua obra, o que permite que se ultrapasse a visão romanceada e com risco de ser unidimensional de um personagem que até hoje não perdeu a aura de encantamento sobre uma nação que tanto fez e que tanto lhe permitiu.

A maneira de “A Ponte de Bambu” criar seus contrapontos estão na própria família de Jayme. Algo muito parecido com o que “Dolores“, documentário sobre a ativista Dolores Huerta fez. A diferença é que aqui observa-se uma forte união entre esposa e filhas, mesmo que não haja um alinhamento ideológico ou identificação de um propósito tão nobre na atuação política por parte da primeira. O jornalista parece ser daqueles casos que, apesar de muitos rebaterem com o famoso “nada mais do que sua obrigação”, conseguiu ser eficiente no equilíbrio entre o desenvolvimento de seu ofício, as contribuições que entendeu serem importantes para a sociedade na qual estava inserido e a vida privada. Mesmo que sua tentativa de acabar com qualquer traço de imperialismo e dos ideais burgueses tenha tornado a rotina e as discussões entre eles tenham sido um pouco diferentes das nossas.

O filme deixa essa sensação de pequena comunidade entre aqueles quatro, que apesar de morarem atualmente em Jundiaí, no interior de São Paulo, não romperam seus laços com a China. O diretor, então, nos transporta para o território que seu protagonista canta em poesia, o qual comprou seu barulho, para apresentar o que seria uma fase de abertura – a qual Jayme não esteve mais tão presente por conta da anistia que permitiu que ele retornasse ao Brasil.

Com um acervo fotográfico incrível, “A Ponte de Bambu” permite ao espectador a formulação de um panorama claro em sua mente. Com uma rígida montagem no alinhamento temporal, conseguimos ver – em meio ao que imaginávamos ser duas fases distintas da China dos últimos sessenta anos – uma transição, apesar de algumas mudanças serem rápidas. Acontece quando Jayme permanece sete anos afastado de lá e retorna identificando uma alteração no comportamento da população, denotando que o país, assim que promovesse uma abertura, incorporaria hábitos que o levaria fatalmente ao socialismo de mercado já mencionado. Por fim, o romance de Jayme Martins com sua China não acabou. Ele vê com otimismo as transformações e avanços que seguem acontecendo e é fundamental ouvir isso de alguém que, no meio da Revolução Cultural e do que lhe seguiu, estava ali, construindo a sua e participando da construção da história daquela nação.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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