A Vigilante

A Vigilante Crítica Filme Olivia Wilde Netflix Pôster

Sinopse: Sadie (Olivia Wilde) é uma mulher que sofreu violência doméstica e enquanto ajuda outras vítimas a se livrarem de seus agressores, tenta matar o próprio marido ( Morgan Spector) para que seja realmente livre. A Vigilante é um thriller inspirado na força e bravura de sobreviventes de abuso doméstico e os obstáculos que enfrentam para ficarem seguras.
Direção: Sarah Daggar-Nickson
Título Original: A Vigilante (2018)
Gênero: Crime | Drama | Mistério | Thriller
Duração: 1h 31min
País: EUA

A Vigilante Crítica Filme Olivia Wilde Netflix Imagem

Mexeu por Todas

A Vigilante”  marca a carreira de Olivia Wilde como um seus grandes trabalhos de atuação. Chegando ao catálogo da plataforma de streaming Netflix, ela lançaria quase no mesmo período seu longa-metragem de estreia enquanto cineasta, o divertido “Fora de Série” (2019). Aqui ela é comandada em direção e roteiro por Sarah Daggar-Nickson (também estreando em produções de maior duração) em uma narrativa impressionante por unir três estágios de um processo de emancipação feminina a partir da libertação do abuso de seu companheiro.

Misturando três linhas do tempo, somos levados por um forma plural de combate a uma das grandes consequências da misoginia na sociedade. Sua introdução dialoga com um dos sucessos da última temporada de prêmios, “Bela Vingança” (2020). Somos apresentados a Sadie em uma espécie de leading case. Após falar sobre uma experiência e fornecer o endereço de um marido abusador, ela aparece treinando socos em um saco de areia. Sua postura é mais ativa e de violência mais escancarada, já que ela exercerá justiçamento de maneira pesada contra Michael Shaund (C.J. Wilson).

Logos nos primeiros minutos ficam claras as exigências físicas e emocionais cumpridas pela atriz. Em paralelo às expressões de reparação sobre as violências sofridas por outras mulheres, o roteiro e as representações criadas por Daggar-Nickson mantém uma aura de mistério sobre a própria origem deste comportamento de Sadie. Em paralelo, as trocas em um grupo de ajuda de esposas e companheiras violentadas incute um ar documental como quebra de expectativa do que poderia descambar para uma ação desenfreada e empoderada.

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Portanto, “A Vigilante” complexifica as manifestações de abuso sem deixar de perder o foco em uma personagem. Podemos recortar os ambientes que nos insere no passado de Sadie – que será revelado em um extenso e perturbador ato final – o presente, a partir das providências tomadas enquanto acolhimento e reflexão de pessoas que sofreram o mesmo que ela – e uma espécie de futuro, que pode ser projetado ou real. Isto porque, apesar de ser uma narrativa mais crua e muito menos alegórica do que a obra de Emerald Fennell, permite-se tal interpretação pela maneira, infelizmente, pouco verossímil em que a protagonista transita.

De forma inteligente, o longa-metragem não apenas inverte a ordem dos fatos nas pontas, ele os mistura no desenvolvimento. Sendo assim, nunca saberemos em que momento uma crise de ansiedade sozinha em casa se coloca diante da motivação para treinar krav magá e se sentir pronta para ser assertiva no combate à violência doméstica – ou o pequeno ato de libertação por trás da dança ao som de “Black Tongue” do Yeah Yeah Yeahs. Isto porque não estamos diante de um processo com fases definidas, a forma como cada mulher entende esta libertação e o encontro com sua autonomia é diferente, sujeito a recaídas e obstáculos bem menos óbvios.

Funciona bem a ideia de que Sadie age como salvaguarda e sua importância em cada caso é adaptável. Com isso, há aquelas que decidem não aparecer junto ao momento de vendeta e há outras que almejam fazer parte deste ato. Isso só se materializa no momento que podemos chamar de plano futuro, já que nos encontros em comunidade elas apenas expõe seus medos e o sofrimento pelo qual passam. Por isso é tão importante a demarcação de um olhar documental no que chamamos acima de plano presente. É algo que começa de forma plena e a cineasta vai mitigando, posicionando a câmera de forma diferente, trazendo um ficcionalidade mais humanitária a estas sequências mais perto do final.

Além disso, “A Vigilante” ainda encontra espaço para ser contemplativo em certas reformulações de sua protagonista. Na busca da libertação plena, com vários moods compreensivelmente inconstantes que torna mais difícil traçar uma cronologia, dependemos quase que de forma exclusiva do trabalho de Olivia Wilde, que merece todos os elogios. Fugindo de uma lógica para romper com a lógica tóxica da dependência, a obra é pouco alegórica na forma, mas ganha força por ser um pouco no conteúdo. De tiro curto, enxuta, é uma surpresa positiva e funciona bem para aqueles que não se conectam nem com o catarse ultraviolenta e realista e nem com os exageros contemporizantes dos que flertam com a cultura pop.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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