Açucena

Açucena Filme Isaac Donato Mostra Aurora 24ª Mostra Tiradentes Imagem

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Sinopse: Todo ano, uma mulher de 67 anos comemora seu aniversário de 7 anos.
Direção: Isaac Donato
Título Original: Açucena (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 11min
País: Brasil

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O Tempo Só Passa Nesse Plano

Abrindo a Mostra Aurora da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o documentário “Açucena“, dirigido por Isaac Donato, parte de uma história que, por si só, chamaria a atenção de qualquer pessoa que se interesse pelas particularidades humanas.

A protagonista, aparentemente uma senhora de 67 anos, se recusa a passar dos 7. Boa parte do filme ocorre durante as preparações para mais um de seus aniversários de sete anos. Exigente, Açucena exige esmero em cada um dos detalhes. Enfeites do jardim são lavados, a decoração é cuidadosamente preparada, todas as bonecas ganham roupas novas. Como em um baile, ela deseja ver todos (até mesmo os seres de látex e pano), bem vestidos para sua festa.

Os amigos já conhecem o ritual da aniversariante e ajudam como podem. Novas bonecas são escolhidas por ela para participarem da festa. O conjunto de pessoas envolvidas na preparação beira o inexplicável. Mas, compreendemos perfeitamente quando tudo fica pronto.

Os documentários que se focam em um acontecimento ou personagem, muitas vezes, tornam-se repetitivos. Contudo, as características incomuns da biografada e de todos que tratam o ritual com uma normalidade (não tão esperada para aqueles que observam de fora – antes de sabermos efetivamente do que se trata) tornam “Açucena” um exemplar digno do prêmio ao qual concorre.

Muito rosa, em conjunto com os cabelos lilás de uma de nossas protagonistas são elementos hipnotizantes. Boneca não cai de moda, afinal. Mais de cem bonecas. E as tonalidades de rosa e lilás.

Nossa personagem principal pouco aparece. E, nem precisa. Todas as sequências da casa, quintal e arredores sendo preparados trazem a aura de nossa heroína. O quarto de bonecas traz um misto de pavor e carinho. Cada uma é tratada como se fosse um bebê. Com suas pulseiras e personalidades que podem, até mesmo, serem sentidas através da tela.

A espera pela festa causa tanta expectativa que a vontade é de pular para dentro da casa. Mas, precisamos esperar. O documentário só se revelará quando o momento permitir. E, aí ele revela seu caráter religioso. Outro acerto narrativo de Isaac Donato que nos prepara para o sagrado.

Conversando com cada boneca como se fossem crianças reais, Açucena (ou seu cavalo) em alguns momentos nos faz acreditar que realmente o são!

Mérito do realizador, de descobrir tal história e filmá-la sem nenhuma ironia ou deboche. O agradecimento final à Mãe Guiomar, é uma prova disso. Aliás, muito pelo contrário. Açucena é tão carismática que faz com que queiramos encontrá-la. Assim, como a senhora que a faz persistir nesse plano.

Os rituais das religiões afro aparecem no corte do quiabo, em Orixás convocados, mas nada que invada ao Erê de nome Açucena. Esse deve estar feliz com o filme.

Há muitas maneiras de festejar a juventude. Açucena sabe disso. A senhora que a recebe também. Festejar os Erês é uma forma de festejar a alegria de viver.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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