Sinopse: Uma mulher gravemente doente, em meio a uma crise de esgotamento nervoso, tenta encontrar seu filho com a ajuda de um homem e um arquivista cego.
Direção: Albert Dupontel
Título Original: Adieu les Cons (2020)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 27min
País: França
Mudando de Rota
Com doze indicações ao prêmio César (e acabou por vencer em sete categorias) o drama com nuances de comédia ou a comédia com boas pitadas de drama “Adieu les Cons” (Algo como “tchau aos idiotas”) escancara a realidade que procuramos esconder na quina empoeirada da dispensa: a vida tem fim. Não sabemos se o fim, nem um fim definido, mas um encerramento daquilo que costumamos entender como viver.
Atrelada à nossa correria cotidiana e às ações quase automáticas que somos levados a repetir dia após dia, o tormento é a contestação de que durante a maior parte desse, que deveria ser nosso bem mais precioso, passamos fazendo coisas e lidando com situações que ao abrir um pouco mais o espectro de visão nos parecem irrelevantes. Somos levados a crer que funcionamos como robôs.
Às vezes, é somente no susto que após uma paralisia instantânea somos levados a procurar o novo. É o que ocorre com Suze Trappet (Virginie Efira) que entende que alguns fantasmas precisaram ser remexidos para que retome o controle de sua vida (ou pelo menos tenha mais confiança nessa mentira que contamos a nós mesmos). Ela resolve voltar ao passado, à uma criança que há muito vivia somente em seus momentos de introspecção e desejos jamais revelados. Trappet, que está por volta dos meados dos 40, pode fantasiar que a vida teria sido outra caso tivesse tipo a opção de criar sua criança ou pode ser um daqueles rompantes que nos fazem crer que algumas situações precisam ser melhor depuradas.
A vida de Suze se entrelaça com a de um trabalhador Jean-Baptiste Cuchas (Albert Dupontel) prestes a surtar de monotonia e pressão (coisas que parecem contraditórias, mas que me atrevo a dizer que são a síntese a pós-modernidade) e com a de um arquivista ex-executivo sem visão, o ex-ativista Sr. Blin (Nicolas Marié) em um conjunto de situações insólitas que fazem com que os três rapidamente se conectem e criem laços tentando um resolver ou melhorar o problema do outro.
Esse tipo de narrativa não tem nada inovadora, mas funciona. É evidente que as reações e as situações são levadas ao extremo dando razão para que o gênero da comédia figure entre nossas possíveis compreensões. No entanto, há momentos de entendimento da fragilidade humana que conectada a todos nós. Por mais absurdas que as reações nos pareçam existem um fundo, um elo que se faz sentido. Todos nós temos questões de base que nos mobilizam e sobre as quais temos muita dificuldade de falar. Se movimentar em direção à mudança é ainda mais difícil e esses três fazem isso juntos. Que seja a partir de alguns atos trágicos ou amedrontadores não enfraquece a coragem da decisão. E, aí eles nos ganham ao decorrer da história. E nos fazem rir. O roteiro de Dupontel em alguns momentos vai até o limite da risada fácil, mas não o ultrapassa. Fica somente a zombaria, afinal muitas buscas se conjugam.
Não é surpresa que no prêmio da Academia Francesa em 2021, “Adieu les Cons” tenha ganhado melhor filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante (Nicolas Marié), melhor roteiro original (Albert Dupontel), fotografia (Alexis Kavyrchine) e direção de arte no Cesar. A gente está sempre a fim de dar uma banana para algum idiota e seguir rumo em direção ao que pode ser uma vida melhor.
Veja o Trailer:
Obrigado pela crítica. Há um ligeiro erro na descrição do personagem Sr. Blin. Ele não é um “ex-executivo e ex-ativista”. Deve ter ocorrido um lapso de memória na hora de escrever a ótima crítica ao filme.