Sinopse: Paisagens, arquitetura e trilha sonora se entrelaçam com conversas originais em “Ao Leste do Finfinnee”. Ao percorrer o desfiladeiro do rio Akaki, na periferia de Adis Abeba (“Finfinnee”, na língua oromo), capital da Etiópia, analisa o fosso mais que simbólico entre o citadino e o rural. O retrato da vida cotidiana de trabalhadores agrícolas e da construção civil serve de ponto de partida para uma narrativa alegórica sobre a urbanização de uma sociedade africana à beira da guerra civil.
Direção: Daniel Kötter
Título Original: Rift Finfinnee (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 19min
País: Etiópia | Alemanha
Entre a Guerra e o Desenvolvimento
Em mais um espetáculo visual, de documentários contemplativos que usam a força das imagens para nos fazer refletir sobre a modernidade (sem deixar de lado a ancestralidade), “Ao Leste do Finfinnee” nos leva para a Etiópia. O diretor alemão Daniel Kötter parte de uma rápida contextualização territorial e deixa para o espectador, que tem a oportunidade de assistir ao filme na programação da 10ª Mostra Ecofalante, análises de acordo com suas percepções.
Os planos abertos e a observação extremamente distanciada nos levam, no início do longa-metragem, a analisar a geografia local. Os descritivos em texto cuidam da formação geológica, naquela que é conhecida como a região de Afar, reproduzida comumente como o Chifre da África. Uma zona de vulcões ativos, riqueza mineral e crises sociais recentes. Seu ecossistema frágil, de secas cíclicas já levariam a problemas como consequência das mudanças climáticas. Entretanto, soma-se os reflexos instabilidade política da últimas décadas, desde que a colonização europeia se deu por satisfeita pela destruição de séculos dos povos, culturas e riquezas do continente.
Além disso, o Chifre da África identifica uma expansão populacional profunda, nos níveis da América Latina de meados do século XX. Mais um fator que exige a absorção de espaços – sejam os físicos ou de ocupação de trabalho. Isso em um momento de retração econômica mundial e de riscos constantes de tragédias ambientais. “Ao Leste do Finfinnee” nos lembra de mais um elemento, de origem geológica. A movimentação das placas tectônicas fará com que parte da Mãe África se descole e crie um descendente em algum momento. E, diante do agravamento de fatores de ordem climática (como o aquecimento da temperatura da Terra bem mais rápido do que o previsto), talvez não seja loucura imaginar que temos chance de testemunhar isso.
Questionamentos que o público passa a ter nesse olhar do alto, do cineasta branco europeu que chega a um território carregando consigo o simbolismo dos traumas de uma sociedade. Mesmo com todos os indicativos apocalípticos que nos aguarda, nossa forma de vida e capacidade de associação leva, naturalmente, a querer o desenvolvimento. O progresso para que não se aceite que estamos à beira do fim. Quando Kötter adentra a cidade, ele encontrará na periferia de Adis Abeba essa mistura de sensações.
As imagens revelam o crescimento para cima dos gigantes de concreto, que atraem consigo a especulação imobiliária. Os relatos, em meio às obras, registram os excessos da atuação policial nos conjuntos habitacionais de pessoas de baixa renda. A Etiópia parece perto de uma guerra civil desde o final de 2020, quando centenas de mortes e uma fuga em massa para o Sudão foi identificada.
O Primeiro-Ministro do país possui respeito internacional, a ponto de ter recebido o prêmio Nobel da paz. Porém, a região de Tigray, no norte do território, é governada por um grupo nacionalista e quer usar de táticas paramilitares para concentrar ainda mais seu poder. Na atualização mais recente, a ocupação de Tigray parece consolidada e o governo federal pede o alistamento, através de milícias, da população local. Uma preocupação que já chegou à Eritréia, parceira histórica e que faz fronteira naquela região.
“Ao Leste do Finfinnee” consegue equilibrar as vantagens e sofrimentos da urbanização e, sobretudo, a necessidade da participação política política em um diálogo que demarca o meio do filme, provando que a verbalização também é uma ótima ferramenta de uma obra que se propõe à contemplação. Vivendo fases distintas do desfile capitalista de outros momentos do século XX e XXI, da urbanização às novas formas de comércio, com o uso empreendedorismo tecnológico, o documentário é a prova de que – apesar das particularidade que um olhar estrangeiro jamais consegue atingir, nem o nosso e nem o do diretor – nossas formas de vida cada vez mais se assemelham. E não, isso não parece bom sob nenhum aspecto.
Veja o Trailer:
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