Sinopse: Premiado em vários festivais ambientais, “Baleias Enredadas” narra os esforços para proteger as baleias francas do Atlântico Norte da extinção, os impactos desses esforços na indústria da lagosta, e como o Serviço Nacional de Pesca Marinha tem lutado para equilibrar os interesses rivais.
Direção: David Abel
Título Original: Entangled (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 16min
País: EUA
Socialização dos Prejuízos
Entrando na segunda semana de exibições da 10ª Mostra Ecofalante de Cinema, o panorama internacional contemporâneo começa a trazer obras ligadas à biodiversidade, após ter as relações de trabalho como foco. Todavia, no mundo atual, ignorar os atravessamentos das questões é impossível. “Baleias Enredadas” é um desses exemplos. Não apenas sobre a pluralidade de consequências envolvendo o desequilíbrio do planeta, mas também pela urgência de quase todos os temas que envolvem os debates socioambientais do momento.
O documentário de David Abel parece se perder nas próprias provocações. Afinal, são tantas, que é difícil não cair na armadilha de um olhar multifocal. A base da narrativa aqui é a iminente extinção de uma espécie de baleias, encontradas na região norte do Oceano Atlântico. Apenas quatrocentas conseguem ser monitoradas, sendo 25% delas fêmeas. Além disso, 85% apresentam profundas cicatrizes, quase todas envolvendo machucados nas extensas redes de pesca e colisão com embarcações. Quase todas que morreram nos últimos anos tiveram como causa a ação de humanos.
Interessante notar como, antes do desenvolvimento sustentável, a palavra que dominava o vocabulário daqueles preocupados em melhorar o mundo era Ecologia. Do final dos anos 1970 ao início dos 1990 viveram um boom de abordagens jornalísticas e artísticas sobre esta via, desde uma fase da carreira do cantor Roberto Carlos até o mais importante encontro de chefes de Estado que o Brasil sediou com a Rio 92. Passada essa febre, a preservação de biomas, ecossistemas e espécies se tornaram algo de nicho, já que a Terra parece cada vez mais sem solução.
Quando abrimos os olhos, em situações e dilemas como os apresentados por “Baleias Enredadas“, não sabemos mais qual caminho seguir. As providências para preservar esse grupo de animais não impacta somente um hábito cultural de uma comunidade pesqueira. A luta agora é pela sobrevivência dessas pessoas, em regiões onde a comida é cada vez mais escassa. Ao demorarmos a agir, testemunhamos uma realidade em que grandes prejuízos são inevitáveis para todos os lados de uma discussão. Sendo assim, apesar de não fazer parte do recorte sobre trabalho, o longa-metragem também atinge tais pontos.
Mais do que tradição, a cidade portuária de New Bedford, no Estado norte-americano de Massachusetts, também luta contra a sua extinção. Depois que apresenta e desenvolve parte deste arco, o filme começa seu olhar panorâmico sobre formas de solução. Fica esquemático porque boa parte delas parecem paliativas, tal como a conscientização de crianças em atividades escolares. A cultura da preservação e da sustentabilidade é bonita enquanto discurso, mas não haverá o que preservar e sustentar se esperarmos aqueles meninos e meninas terem o poder nas mãos.
Mais adiante, o cineasta acompanha o monitoramento das baleias sobreviventes e traz suas imagens mais chocantes: ao morrer na costa, pesquisadores farão a necropsia daquele gigante animal. Não se mantém muito tempo nessa provocação e parte para diversas formas de ativismo, do digital à luta política. A salvação também depende da infiltração nos meandros das instituições governamentais, na mudança de leis e na fiscalização.
Porém, “Baleias Enredadas” abre tanto seu leque que não conclui nenhum deles. A montagem espalha seus caminhos e nos deixa sem foco. O que deveria ser um chamamento para várias frentes parece surtir o efeito contrário: o de que estamos sem saída, vivendo para assistir extinções de espécies até que chegue a nossa vez. E talvez seja isso mesmo.
Veja o Trailer:
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