Britney x Spears

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Sinopse: A jornalista Jenny Eliscu e a documentarista Erin Lee Carr investigam a luta por liberdade de Britney Spears através de entrevistas exclusivas e documentos confidenciais.
Direção: Erin Lee Carr
Título Original: Britney x Spears (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 33min
País: EUA

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O Começo do Fim

Britney x Spears“, que chegou essa semana ao catálogo da Netflix, é bem diferente do documentário “Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela“, lançado pela TV dos Estados Unidos e que a Globo Play correu para adquirir (em uma propaganda bem incomum de sua plataforma no BBB, transformar um dos participantes em alguém simpático à causa Free Britney). Tanto na linguagem do filme quanto pela maneira como a cineasta Erin Lee Carr e a jornalista Jenny Eliscu abordam pessoas envolvidas com o tenebroso caso de tutela da cantora há treze anos.

É preciso, antes de tudo, lamentar que o documentário anterior tenha sido o contato inicial de milhões de pessoas com essa narrativa. Sensacionalista ao extremo, o longa-metragem dirigido por Samantha Stark reproduz o que há de mais avassalador na mídia de entretenimento: atira as estrelas aos leões, transformando qualquer aspecto obtuso de suas trajetórias uma fonte de entretenimento. Difícil não acreditar que essa carroça foi colocada na frente dos bois conhecendo esse projeto que estreia agora, um levantamento sério sobre o processo – em segredo de justiça – que revela as tentativas de Spears de se livrar da condição de interdição / exploração em algumas oportunidades.

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Britney x Spears” é uma obra de perseguição jornalística. Eliscu possui larga experiência na área e foi dela um dos artigos que registrou o sucesso consolidado da cantora, escrito para a revista Rolling Stone. Carr adquiriu credibilidade após comandar “No Coração do Ouro: O Escândalo da Seleção Americana de Ginástica” (2019), documentário que revelou casos de abuso sexual dentro da equipe do país e se encontra disponível na HBO Max.

O filme traça um rápido panorama dos anos iniciais da carreira da pop star, com imagens de videoclipes e do especial para a TV gravado no Havaí, na transição do estouro do primeiro álbum da menina adolescente cantando nos corredores da escola à transformação de “Oops! Did It Again…“. O espectador fica condicionado a focar nos desdobramentos do que aconteceu após a separação dela e de Kevin Federline, com quem teve dois filhos.

Os entrevistados principais são dois namorados de Britney no período inicial da tutela de seu pai e Felicia Culotta,  ex-agente, que a acompanhou no período pregresso e foi convocada para as turnês mundiais e de Las Vegas quando a cantora – e isso não é um juízo de valor é uma simples interpretação dos fatos – foi explorada pelos responsáveis por essa tutela. Isso ganha ainda mais forma quando Carr e Eliscu obtêm a fonte mais confiável e relevante que uma investigação como essa poderia ter: os autos do processo, com todos os passos e fundamentos que tornaram Spears uma incapaz com 26 anos de idade.

Se existe alguma chance do público acreditar nas intenções do pai de Britney está na confirmação de que ela, no conturbado término de relacionamento e diante de uma superexposição midiática pelos paparazzi, usava de forma constante Adderall, remédio controlado e indicado para tratamento de TDAH. Talvez a preocupação que o destino da filha seguisse os passos de outros astros que lidaram com tal pressão de maneira parecida, tenha motiva uma providência. Vale lembrar que Michael Jackson com a morfina nos ensaios de uma turnê de retorno também em Las Vegas e, de forma mais recente, Maradona, viveram situações assim. Médicos e assessores próximos têm dificuldade em dizer não para pessoas tão ricas e poderosas, que estão comprando parte da ética profissional com altos salários. Decerto, manter as finanças pessoais nas mãos de alguém que precisa de ajuda é, sim, um risco.

Entretanto, a ferramenta utilizada colocou Britney em um procedimento kafkaniano. Jamie Spears alegou demência da filha e exames preliminares chancelaram a decisão do juiz de entender pela interdição. Com isso, ela não seria capaz de decidir sozinha sobre a contratação de um advogado, como se não possuísse faculdades mentais para compreender e defender os seus interesses. Na comparação com o outro documentário, aqui é como se a mãe da cantora, Lynne Spears, não existisse. Enquanto que a outra produção explora essa escândalo familiar paralelo, denotando a discordância com o que estava sendo feito com a jovem, aqui as realizadoras julgaram não ser primordial para o caso essa aproximação.

Duas figuras em “Britney x Spears” revelam o medo de ser mexer no processo de tutela. A assessora, Felicia, que foi resgatada como pessoa de confiança e querida pela pop star, nos traz um testemunho limitado. Parece querer registrar esse período, deixar clara sua importância para manter a operacionalidade da carreira e demarcar o tempo em que se afastou (ou foi afastada). Isso porque os últimos desdobramentos seguiram essa linha de renúncia de advogados e de uma virada recente que tirou Jamie da condição de tutor. Já um dos médicos legistas aparece de forma incompreensível. Abre as portas de sua casa disposto a não falar nada – nem do caso específico e nem de nenhum outro no qual atuou, sob qualquer aspecto. É provável que o arrependimento seja a união do medo com a orientação das proporções que teria que qualquer informação passada.

Uma produção bem mais esclarecedora e coerente com a abordagem de quem admira ou se interessa pelo caso de Britney Spears merece ter. Quem ainda trata como uma fofoca de celebridades, vai dizer que gostou mais do sensacionalismo de “Framing Britney Spears”. Temos uma queda de braço entre formas de explorar a mesma narrativa que, talvez, tenha colocado outra carroça na frente dos bois. As últimas captações de imagens são de junho de 2021, três meses antes do lançamento do filme. Um capítulo fundamental nessa história, com a pretensão de se nomear um tutor profissional para o caso.

Entretanto, “Britney x Spears” é colocado na praça com o status de obra aberta, no auge dos acontecimentos. Mais adiante saberemos se a revelação dos autos do processo terão efeito prático no julgamento que ocorrerá em breve – ou se temos aqui apenas uma demanda de mercado e a vida de Britney Spears está longe de deixar de ser um reality-show que destrói ainda mais sua mente.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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