Sinopse: Em “Caça Invisível”, uma despedida de solteiro na floresta torna-se mortal quando cinco amigos ficam sob a mira de um caçador invisível e implacável.
Direção: Thomas Sieben
Título Original: Prey (2021)
Gênero: Thriller | Aventura
Duração: 1h 27min
País: Alemanha
Sem Poupar
Por um dever de ofício, previamente estabelecido por mim mesmo – afinal, sempre quem escreve sobre cinema vive o dilema da liberdade editorial de um veículo próprio e a necessidade de se manter conectado com as produções contemporâneas, atendendo a demanda urgente de quem nos acompanha – decidi encarar uma sessão tripla das estreias da Netflix desta semana. Com uma mistura de frustração e raiva – comum em muitas das ocasiões que optamos pelas “novidades” da plataforma de streaming mais popular do mundo – puxei a cadeira para escrever sobre eles. Decidi começar por “Caça Invisível” porque me parece que o longa-metragem alemão é aquele que mais se aproxima da grande questão que envolve o catálogo do serviço.
O diretor Thomas Sieben e a equipe por trás da divulgação do filme conseguiu reduzir a sinopse, cada vez mais com cara de storyline ou logline, em uma frase. Vamos repeti-la: uma despedida de solteiro na floresta torna-se mortal quando cinco amigos ficam sob a mira de um caçador invisível e implacável. Pronto. Acabou aqui qualquer traço de narrativa e exploração de linguagem possível. O cineasta, que também cumpre a função de roteirista, se vale dessa ideia para um exercício linear de representações. Uma sequência de eventos pouco interessantes porque já assistimos a eles algumas dezenas de vezes nas últimas décadas.
Acho que nem é a primeira vez que eu cito na Apostila de Cinema “Amargo Pesadelo” (1972) de John Boorman como inspiração e referência de obras que tratam da situação-limite a qual nos deparamos aqui. Um grupo sai do espaço urbano para ter contato com a natureza e se envolve em uma aventura onde eles são perseguidos por um “mal” que se materializará na tela na segunda metade da história. No caso, os amigos na despedida de solteiro são surpreendidos quando alguém abre fogo em um local descampado. Quem tentará matar os jovens rapazes que, modernamente, trocaram o expediente sexista do bar de strippers para passar os últimos dias antes do casamento de um deles em uma reunião no meio do mato?
“Caça Invisível” é mais um dentre as centenas (e talvez não haja exagero aqui) de produções que a Netflix lançou em 2021. Um fiapo de história, zero inventividade e uma virada no roteiro calculada e explícita desde o princípio – assim como “Kate” (2021), que fez parte da maratona da última madrugada e que será o texto seguinte. Para a crítica, fica o desafio de não tornar o seu trabalho ainda mais automatizado e tão genérico quanto as obras a qual tem contato.
O filme de Sieben é um dos mais agressivos nesse sentido, porque ele não te oferece nada, nem como provocação cronista. O máximo que conseguiríamos extrair pode ser uma análise sobre a antagonista, uma mulher nos moldes de Danielle Rousseau, que Mira Furlan interpretou no seriado “Lost” (2004-2010). Com suas motivações pessoais, ela se estabelece na floresta e se coloca contra qualquer traço de humanidade. Viajando um pouco mais na metáfora lisérgica, poderíamos brincar que ela se opõe ao fato de existir a prática misógina da “despedida de solteiro”, colocando o casamento como um contraponto das alegrias da juventude, igual a piada sem graça de quem veste camisa ou leva plaquinha escrito “game over” no dia da cerimônia.
Todavia, tudo isso tão raso quanto o próprio longa-metragem. Há uma segunda invertida, marcada pela relação triangular descoberta quando o noivo finalmente acha sinal no telefone celular de seu irmão. É spoiler que chama isso, né? Dessa vez não vamos colocar aviso e tratar sobre o tema, porque ele é tão atravessado, preguiçoso e com poucas consequências para a trama, que parecia mais um pretexto para engrossar o caldo e não tornar o filme um média-metragem, garantindo seus intermináveis oitenta e poucos minutos.
Enquanto desafio da natureza, não existe nada. No único momento que soa como promissor, aquele no grupo que tinha um conhecimento básico de trilha e poderia facilitar a fuga, acaba sendo tirado da jogada pela caça aos machos da vilã. Por fim, o sobrevivente e sua algoz encontrarão suas dinâmicas de cessar-fogo e terminarão essa indiferente e esquecível história dando uma lição sobre poupar o outro. Só quem não foi poupado fomos nós, aqueles que escolhemos assistir “Caça Invisível“.
Veja o Trailer: