Chama a Bebel

Chama a Bebel Filme Brasileiro Crítica 2023 Apostila de Cinema Poster

Sinopse: “Chama a Bebel” acompanha a jornada de Bebel, uma brilhante garota que se muda do interior para a cidade grande. A personagem enfrenta as adversidades de um ambiente desconhecido, desafia estudantes populares do colégio e até um inimigo poderoso – um empresário da cidade que faz testes laboratoriais em animais – para defender suas causas. Mudar hábitos e comportamentos é sua meta e a sustentabilidade é seu princípio orientador.
Direção: Paulo Nascimento
Título Original: Chama a Bebel (2023)
Gênero: Comédia | Aventura
Duração: 1h 30min
País: Brasil

Chame a Bebel Filme Brasileiro Crítica 2023 Apostila de Cinema Imagem

Diversão e Consciência

As últimas semanas trouxeram algumas notícias para o audiovisual brasileiro lançado nas salas de cinemas e esperamos que “Chama a Bebel”, em cartaz nas maiores praças do país, faça parte das boas novas. Em um processo de reencontro com o público do país, o Cinema Nacional voltou a marcar sete dígitos nas bilheterias e públicos próximo de um milhão de espectadores com “Nosso Sonho” (2023), “Mamonas Assassinas – O Filme” (2023) e sobretudo com “Minha Irmã e Eu” (2023); sendo comum em algumas cidades a ampliação de sessões em detrimento de outrora blockbusters de bonequinho.

Escrito e dirigido por Paulo Nascimento, a aventura que estreou na última quinta-feira é um longa-metragem voltado ao público infanto-juvenil com um leque de temas extenso, abordados de forma precisa para introduzi-los aos mais jovens (ou aqueles que terão a missão quase impossível de salvar o planeta do caos completo e a sociedade civil da ruptura total das frágeis relações). A personagem-título, vivida por Giulia Benite, é uma menina que inicia seus estudos em uma nova escola longe da mãe e do avô, ficando aos cuidados da tia na cidade grande. Ali ela será apresentada a situações que despertarão seu desejo de reinvidicação, inspirada em seu ídolo, a ativista Greta Thunberg.

Na sequência inicial de “Chama a Bebel”, a protagonista se apresenta como PCD, sem estender o assunto. A menina pactua com o espectador que essa será a única vez em que trará o assunto à tona, afastando eventual estigma. Porém, as questões envolvendo a falta de acessibilidade nos espaços de uso comum, obviamente, chamarão a atenção do público. Conhecida pelo renome e pela infraestrutura, a escola na qual Bebel será matriculada não lhe dá permissão com facilidade a todos os locais.

Neste ponto, o filme adiciona uma segunda leitura sobre as referências que encontramos pelo caminho. Ao lado de Greta, a protagonista reconhece em seu professor – também PCD – um elemento de identificação. Uma proposta parecida com uma das melhores obras do Cinema Brasileiro dos últimos anos, “Cabeça de Nêgo” (2020), na qual Saulo, vivido por Lucas Limeira, se vê refletido, de certa forma, na professora.

Paulo Nascimento também tateia algumas referências audiovisuais já elevadas ao clássico na construção da narrativa. A divisão em grupos dos adolescentes da escola é abordada pelos novos colegas de Bebel tal qual “Meninas Malvadas” (2004); enquanto que o auge do processo de bullying – ultra modernizado trazendo conceitos atuais como deep fake e fake news – remete um pouco ao sempre revisitado “Carrie, a Estranha” (1976). Já a vilania de Rox (Sofia Cordeiro) será motivada pela carência afetiva potencializada na revolta juvenil, como estamos acostumados a presenciar em outras obras.

O grande destaque da trama, pela pouca exploração da multidimensionalidade das outras personagens, é a protagonista vivida por Giulia – que bem cedo na carreira já se associa como status de produtora, parecendo que usará muito bem a fama precoce e o peso de ser imortalizada como Mônica em “Turma da Mônica: Laços” (2019) e “Turma da Mônica: Lições” (2021). É a partir da referência inicial de Thunberg, da identificação com o professor e das suas próprias demandas identitárias, que Bebel ampliará sua militância, a partir de um avanço narrativa que traz a questão ambiental para o centro da história.

É provável que a crítica especializada foque mais em desabonar “Chama a Bebel” pela forma quase padronizada de construção artística, entendendo ter apostado tudo na receptividade de sua temática. Isso não parece um problema se notarmos que não há nada de grave estilisticamente a ser apontado na obra enquanto que, em relação aos temas, de fato o longa-metragem oferece fartas opções de proposta de debate para seu público-alvo.

Seja em tudo o que já foi tratado acima ou nas questões éticas trabalhadas quando o real vilão surge à sombra de Rox. Aqui encontraremos outros conceitos modernos, sobretudo o greenwashing (falsos ou reais) e a ideia de que o capitalismo de certa forma usa determinadas pautas a seu favor quando percebe a ineficiência de ir contra alguns avanços. Na nossa legislação mais recente – citada nos créditos finais – está a lei que nacionalizou a proibição que já existia em alguns estados e municípios, de realização de testes em animais.

Todavia, talvez a mais importante lição de “Chama a Bebel” é aquela mais vinculada às relações humanas e tem a ver com a quebra de confiança. Na era da informação cada vez mais acelerada e em um ambiente em que o oficioso ganhou espaço e o oficial é sempre questionável (seja o Estado ou a imprensa), lidar com o medo de ser vítima de uma fake news merece o alerta dos mais jovens desde cedo. Ou seja, mais um acerto da obra que encontra o equilíbrio entre informação e entretenimento.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *