Rafiki

Rafiki

Sinopse: Duas mulheres de famílias rivais se apaixonam no Quênia e sofrem enquanto seus pais participam em campanha política e entendem que o romance precisa ser mantido em segredo.
Direção: Wanuri Kahiu
Título Original: Rafiki (2018)
Gênero: Drama- Romântico
Duração:
País: Quênia

Como Você me Olha

Quando lançou “Rafiki“(2018), a diretora Wanuri Kahiu  já tinha uma carreira em construção. Com cinco filmes anteriores na direção, além de três produções, Kahui já acumulava, inclusive, prêmios, como o African Movie Academy Awards de 2009. No entanto, toda vez que se fala dela, é a proibição do “Rafiki” que nos vêm à cabeça.

É evidente que devemos discutir sobre a proibição e sobre os motivos que a cercam. Ainda assim, acho que não centrar os olhos no filme e entender sua sutileza e dureza, é perder, em grande parte, o esforço que Wanari teve para realizá-lo.

Rafiki” é sutil, porém árduo e doloroso. É o tipo de filme que te faz sair do cinema sem saber o que dizer, tal a realidade imposta durante seus quase noventa minutos

Às vezes nos esquecemos, ou fingimos esquecer, como a sociedade pode ser dura com determinados corpos. Duas mulheres em um território extremamente machista, no qual seus pais disputam poder. Pode mesmo ter parecido uma afronta para ambos. Mas por qual motivo o amor seria entendido como afronta?

Wanari consegue captar o envolvimento desses corpos em suas sutilezas. Em um mundo bruto e feroz, é possível que nem todos nós estejamos acostumados a ela. Por isso, além de lembrar que o filme foi proibido no Quênia, devemos lembrar da sutileza que o filme imprime.

Desde sua caracterização, passando pela fotografia e a atuação das duas protagonistas, tudo é muito delicado, por mais que a realidade apresentada seja dura. Parece que o amor que acontece entre as  duas realmente transcende a tela e chega ao espectador que foca no olhar, nas mãos, na corporalidade. Samantha Mugatsia (Kena Mwaura) e Sheila Munyiva (Ziki) nos entregam apresentações marcantes de suas personagens em um enredo que tinha tudo para virar um dramalhão mexicano.

O filme poderia explorar somente as dificuldades, mas ao caminhar por outros espaços torna-se mais real. Já que nenhum amor é feliz ou triste o tempo inteiro.

Não deve ter sido fácil ter feito um filme assim. Também não deve ter sido fácil lançá-lo. Infelizmente, mesmo que estejamos avançando em algumas questões em relação à sexualidade, ainda é fato que o lançamento de “Rafiki” foi um ato de coragem.

Que possamos ter um filme que fale sobre o amor entre duas mulheres negras com tamanho cuidado e amabilidade faz do filme um dos mais importantes da última década. Os discursos capazes de mudar um mundo (ainda que um mundo pequeno), vêm assim: em forma de amor.

O filme encontra-se disponível na plataforma do Telecine Play para quem tem acesso a algum de seus parceiros.

Lutemos para o dia no qual um filme sobre amor não cause tanto atrito. 

Veja o Trailer:

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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