Crush: Amor Colorido

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“Crush: Amor Colorido” é um dos destaques do Star+. Leia a crítica!

Sinopse: Quando uma jovem aspirante a artista é forçada a se juntar à equipe de atletismo da escola, ela usa isso como uma oportunidade para se aproximar da garota por quem ela nutre uma paixão de longa data. Mas ela logo se apaixona por uma companheira de equipe inesperada.
Direção: Sammi Cohen
Título Original: Crush (2022)
Gênero: Comédia Romântica
Duração: 1h 33min
País: EUA

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Além do Baile

A grande estreia da semana na plataforma de streaming Star+ é a comédia romântica adolescente “Crush: Amor Colorido“. Dirigido por Sammi Cohen, é mais uma obra que se junta ao ótimo catálogo de lançamentos da MUBI e produções mainstream como “Fire Island: Orgulho & Sedução” no próprio serviço subsidiário da Disney que trazem a representatividade LGBTQIA+ não apenas em seu protagonismo, mas em diversos aspectos da narrativa.

Por mais que haja imposições mercadológicas que nos deixam amarrados aos calendários, no Pride Month de 2022 o espectador-médio tem cada vez mais certeza de que há muito pouco espaço para preconceito e discriminação de gênero no consumo de arte e entretenimento. Para alguns países, ainda se traz como opção a censura a filmes como a animação “Lightyear” (2022), estreia arrasa-quarteirão do mesmo conglomerado, que chegou aos cinemas de (quase) todo o mundo também neste mês.

Assim como “Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta” (2021) da Netflix se fundou em demandas feministas para costurar sua trama, “Crush: Amor Colorido” naturaliza a liberdade de amar em outro ótimo longa-metragem para os jovens. Nele, Paige Evans (Rowan Blanchard) é uma menina introspectiva, que deseja cursar artes após o ensino médio. Ao ser acusada de ser o misterioso ilustrador KingPun, que faz intervenções bem-humoradas no muro da escola, ela aceita fazer parte da equipe de atletismo para investigar a identidade do “contraventor” e evitar uma suspensão que seria trágica para seus objetivos.

Ao contrário do primeiro grande embate entre protagonistas adolescentes em obras ambientadas no high school, Paige não encontra resistência em casa. Desde criança ela conversa com sua mãe sobre sua homossexualidade e possui total abertura em casa. A questão aqui é que possui abertura até demais, com a senhorita Angie Evans (Megan Mullally) tentando incentivá-la com brinquedos e produtos para apimentar relações que a filha ainda não possui. Desde pequena ela vive um amor platônico por Gabriela (Isabella Ferreira), uma das garotas mais populares da sua série.

Essa quebra de um clichê básico que coloca pais e filhos em dissonância parece cada vez mais comum no gênero. Algo parecido é identificado em “No Ritmo do Coração” (2021), por exemplo. É quase como se os jovens roteiristas entendessem que não há uma movimentação para questionar a geração anterior e sim conquistar ainda mais do que a leitura deles sobre a sociedade. A grande incompatibilidade é que os adolescentes de hoje são bem mais extremados no que diz respeito à exploração da própria imagem. Um embate possível nos pátios das escolas parece ser entre os populares (agora convertidos em números e engajamentos nas redes sociais) e aqueles que fogem da sociabilidade quase como um princípio ou um instinto de sobrevivência.

É sob essa premissa que KingPun e seu anonimato enquanto artista ganha forma. Deixar sua marca no mundo sem que isso vire algo “sobre você” (para usar uma expressão repetida a cada cinco minutos em respostas que gostam de invalidar opiniões). O texto de Kirsten King e Casey Rackham é mais um daqueles que evita usar a subversão do que foi construído nas últimas décadas no gênero. Há, sim, alguns exercícios neste sentido, como o fato da protagonista ter um “amigo hetero”, Dillon (Tyler Alvarez), em contraponto ao uso excessivo e estereotipado ao alívio cômico conhecido como “amigo gay” em comédias parecidas (e tratado de forma brilhante por Silvero Pereira neste artigo).

Quando Paige, levemente bêbada, se define como uma pisciana, passamos a entender o porquê de sua arte e sua vida possuir tintas tão apaixonadas e, como consequência da idade, dramática. Por esse caminho que o filme desenha sua comédia, fazendo Evans se envolver com AJ (Auli’i Cravalho), irmã de Gabriela. Mostra, na prática, a diferença entre o amor idealizado, projetado e o real, aquele que floresce naturalmente. Por mais que a garota tenha consciência desde cedo sobre o que lhe move, o desejo tem um quê de incontrolável. Ou seja, há muito mais do que a quebra de estereótipos e a ocupação dos espaços na jornada pessoal rumo à felicidade.

Aos poucos a expressão platônica do romance perde espaço e o longa-metragem vai além de um crush que não se concretiza. Claro que a capacidade dos adolescentes em transformar qualquer faísca em uma tragédia explosiva – e de resolver seus problemas com ideias legendárias para consertar seus erros – traz o tradicionalismo que se espera na parte final de “Crush: Amor Colorido“. Tudo com o um toque gostoso de naturalização do amor, para calar fundo que acha que pode dar espaço aos seus preconceitos na hora de assistir ao filme da semana na poltrona do cinema do shopping ou no sofá de casa pelo seu serviço de streaming.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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