É Para o Seu Próprio Bem

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Sinopse: Em “É Para o Seu Próprio Bem”, Arthur (Heiner Lauterbach), Bernhard (Jürgen Vogel) e Yusuf (Hilmi Sözer) são amigos de longa data que não aprovam os namorados de suas respectivas filhas. Descontentes, os três entram em acordo para boicotar os relacionamentos das jovens.
Direção: Marc Rothemund
Título Original: Es ist zu Deinem Besten (2020)
Gênero: Comédia | Romance
Duração: 1h 31min
País: Alemanha

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A Revolta dos Tios do Zap

Chegando ao Brasil direto pelo serviço de streaming do Telecine, a comédia alemã “É Para o seu Próprio Bem” realiza o encontro do conservadorismo – mesmo que com as melhores das intenções – da geração de pais e avós em um mundo com dinâmicas de relacionamentos bem diferentes das tradições que eles esperavam encontrar para suas filhas e netas. É leve, aplica o humor situacional quase que a todo momento e pratica uma redenção básica de que o amor pela família deve ser maior do que os planos que traçamos em nossas cabeças.

O primeiro a surgir é aquele que terá o conflito ideológico pela frente. Arthur (Heiner Lauterbach) é um rico advogado ensaiando o discurso para as bodas luxuosas de sua filha. Não esperava que, na porta da igreja, quando ele lhe dava o braço para encaminhá-la ao altar, um jovem ativista pelo socialismo suplicasse para que ela desistisse do conto-de-fadas com o noivo (promissor funcionário do pai) e assumisse o namoro com ela. Não bastassem os prejuízos de ordem econômica e moral dentro do círculo de poder em que o senhor estava inserido, ele ainda precisa encarar um constrangedor almoço de apresentação em que, muitas das vezes, é colocado como um dos responsáveis pela desigualdade social alemã.

Já Bernhard (Jürgen Vogel) é o típico macho alfa dominante, que usa a voz imponente, o nervosismo e, quando acha necessário, as vias de fato para impor seus desejos. A sua filha, então, se envolve com um ex-colega de escola dele, um fotógrafo coroa, solto na pista, marcado desde a sua adolescência pelo charme. Aqui teremos choques sequenciais sobre a relação entre um casal que ultrapassa a nova paixão e ganha contornos de artista e musa inspiradora. Por fim, Yussuf (Hilmi Sözer), descendente de imigrantes, tem medo do futuro da sua filha, que parece envolvida com um menino, digamos, “sem futuro”.

Desta forma, em “É Para o Seu Próprio Bem” os três protagonistas encontrarão o aliado moderno para seus planos maquiavélicos de separar os três casais: o grupo de Whatsapp. Tentarão de todas as formas criar situações constrangedoras, que mascarem as intenções ou exponha os defeitos dos pretendentes a genros – mesmo que seja a partir de algo falso ou provocado. O que eles não se dão conta é que perderam na base a convivência harmônica e pacífica com uma geração de mulheres menos disposta a escutarem os pais porque nunca foram, de fato, ouvidas.

Com isso, os “tios do zap” precisam aprender na marra que suas táticas revolucionárias de associar os homens a um mundo de sexo, drogas ou rock’n’roll são tão decadentes quanto seus discursos e ideias. Afinal, todas as propostas de “virar o jogo” acabam se tornando momentos mais ridículos para os próprios. Vale frisar que temos aqui uma comédia que ataca os alvos certos, com piadas sobre essa resistência conservadora pouco produtiva para uma sociedade que assiste as novas gerações pouco dispostas a regredir.

Até mesmo na questão atravessada envolvendo o socialismo, em um país que até três décadas atrás estava dividido no epicentro de uma guerra ideológica entre capitalismo e comunismo, nos soa acertada. O advogado, cheio de posses, se vangloria de que foi parte da reconstrução de uma nação devastada e que a possante economia alemã deve conceder seus méritos a esse passado. Por mais que a visão pragmática sobre a sociedade de consumo seja parte do sucesso, as demandas atuais permitem que se problematize o sistema. Aliás, um senhor barbudo há mais de um século tratou disso na mesma Alemanha – e entendia que o capital como centro da atividade era o início de um processo e que o capitalismo estava destinado a se autodestruir.

Não espere piadas inesquecíveis ou uma história arrebatadora por trás de “É Para o Seu Próprio Bem“. Ele é agradável justamente porque baseia sua diversão nos anacronismos e desencontros do nosso próprio tempo. Talvez envelheça com muita rapidez, como é comum em filmes comportamentais. Por isso, não espere muito para prestigiá-lo, se é do seu interesse ter pela frente obras desta natureza.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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