Com a seleção de curtas-metragens da ECA | USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), a Mostra Latino-Americana de Curtas apresenta linguagens e assuntos diversos.
Começando com a animação “Lé com Cré” de Cassandra Reis, que dá vida à imaginação de crianças ao fazer um jogo que algumas vezes vemos percorrer pelas redes sociais e no qual podemos transitar por múltiplos caminhos. Partindo de uma palavra como dinheiro ou medo vemos como a construção das crianças opera enquanto bonecos de massinha reproduzem o que foi elaborado por crianças reais. Com idades variadas, observamos como a perspectiva sobre determinado assunto muda e a facilidade ou dificuldade se apresentam na fala direta ou no gaguejar dessas pessoas ainda em formação. A animação da Reptilia Produções constrói interessante material educacional em seus cinco minutos.
Trazendo um assunto mais cortante, Pedro Formigoni começa “Perdeu” com um casal de amigos que conversa sobre a tensão de um possível término de namoro para um deles. A sentida tensão entre esses corpos se transforma em outra a partir do momento no qual a personagem Júlia segue sozinha para casa. Ao ser abordada por um morador de rua, a jovem vê o verdadeiro pesadelo começar quando a polícia chega por acaso ao local. Tratando de violência urbana, desigualdade social e abuso de autoridade, temos uma amostra de como as políticas públicas necessitam ser urgentemente reformuladas.
Letícia Kamiguchi continua a sessão com um olhar que surpreende. Apresentado como suspense, seu curta “Presa” parece carregar a indefinição no conteúdo e forma como é conduzido. O que é bom. Em menos de 20 minutos a história intrigante advinda de roteiro de Fernando Cabral e Leonardo Ortiz se destaca. Ainda que não tenhamos certeza de como as coisas se dão (e tentaremos revelar o mínimo para que a estranheza permaneça na obra), há algo de hipnotizante na maneira como Kamiguchi trabalha a narrativa e as escolhas dos planos. Embora seja um curta-metragem feito no âmbito acadêmico “Presa” já revela personalidade própria – que pode ser sentida desde o primeiro plano até seu crédito espelhado.
Com roteiro e direção de Mauricio Battiscuti e Francisco Miguez, “Ronda” mantém alta a qualidade. Perseguimos o enlouquecedor trajeto do segurança Hélio pelas ruas de São Paulo. Sem destino definido e com a missão de arrumar um emprego, a personagem vai (aos poucos) caindo no bueiro que São Paulo pode oferecer aos que vão desavisados para capital empresarial do Brasil. Com Hélio, experenciamos uma cidade de dúvidas e com poucas saídas. Embora se perca pelos inúmeros caminhos bifurcados dos prédios do Centro, nosso herói encontra eco em um velho prédio abandonado. São Paulo apresenta, reúne e repele caminhos. Afinal, como deixar de ser o que se é e se transformar no que se quer ser? Pergunta que vale para Hélio e para cidade.
Por fim, a pequena animação “Tecendo Amanhã” parte do canto de um galo e faz-se sinfonia. O trabalho conjunto da diretora Alice Andreoli Hirata e da trilha de Lucia Esteves compõe uma bonita poesia visual que se vê completa com o amanhecer.
A Sessão ECA | USP Feliz encontro de curtas que mostra toda diversidade da produção universitária da USP.
Ficha Técnica da Sessão Brasil ECA | USP da Mostra Latino-Americana de Curtas:
Lé com Cré (Cassandra Reis, 5′ – 2018, Brasil)
Sinopse: Temas como dinheiro, medo e coisas de menino e menina são contados por algumas crianças de um jeito fofo e esquisito.
Perdeu (Pedro Formigoni, 16′ – 2018, Brasil)
Sinopse: Sozinha na noite de São Paulo, Júlia volta para casa depois da faculdade. Cansada e preocupada com a prova do dia seguinte, ignora Jonas, um menino de rua que pede por um trocado. A situação entre os dois fica tensa, até que Julia avista uma viatura da polícia e, por instinto, pede por ajuda. Quando ela acha que a situação está resolvida, percebe que os policiais são um problema ainda maior nessa noite em que todos têm algo a perder.
Presa (Letícia Kamiguchi, 20′ – 2019, Brasil)
Sinopse: Quando o pai sacrifica o cachorro doente da família, a relação com a sua filha mais velha se torna insustentável. Temendo que ele faça o mesmo com a filha mais nova, também doente, as irmãs se juntam para tentar fugir da ameaça do pai.
Ronda (Mauricio Battistuci e Francisco Miguez, 25′ – 2019, Brasil)
Sinopse: Segurança desempregado, Hélio cai em uma espiral de encontros em São Paulo. Enquanto faz promessas de ascensão para sua companheira, que ainda não veio para a capital, passa a rondar a cidade, sem rumo, por sua função.
Tecendo a Manhã (Alice Andreoli Hirata, 2′ – 2019, Brasil)
Sinopse: Um galo não consegue trazer a manhã sozinho. Por isso, vários galos juntos entrelaçam fios de luz para tecer a aurora. Com ela, vem o Sol, que, com sua luz, revela o que antes eram apenas silhuetas.
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