Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem

Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem Documentário Netflix Crítica Pôster

Leia texto sobre “Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, estreia da semana na Netflix.

Sinopse: Nos bastidores do show no Theatro Municipal de São Paulo, o rapper e ativista Emicida celebra o grande legado da cultura negra brasileira.
Direção: Fred Ouro Preto
Título Original: Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 29min
País: Brasil

Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem Documentário Netflix Crítica Imagem

Um Ano Só de Sexta-Feira Treze?

Não dava para terminar 2020 sem falar de “Emicida: AmarElo- É Tudo Pra Ontem“, documentário dirigido por Fred Ouro Preto e que entrou no catálogo da plataforma de streaming Netflix no último dia 8. Emicida, força percursora do disco – muito mais que somente um disco – e do filme – muito mais que somente um filme -, inicia a obra com a provocação de um ditado iorubá: “Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que arremessou hoje”. Anunciando o caráter cíclico desse conjunto de músicas (que não se fecham em um álbum!), Leandro Roque de Oliveira, nos brinda com a certeza de que tudo passa (e retorna).

Uma das grandes estreias da Netflix no mês de dezembro, AmarElo chega em um momento complicado. Se o álbum (2019) gritava a mudança e a necessidade de se entender tudo como um grande elo (só é possível conjugar o amar para além de uma única subjetividade), o filme é construído e lançado depois do nosso grande cataclisma centenário que, talvez, tenha sido sentenciado pelo COVID-19.

Por mais que esse seja um texto de boas-novas (dando o spoiler do spoiler), assim como o são os dois AmarElos, não podemos negar que esse ano veio como avalanche e, além de nos tirar afetos centrais, também reconfigurou momentaneamente – para sempre existe? – nossa maneira de circular e perceber o mundo. Porém, Leandro nos lembra que esse foi mais um dos desastres ora impulsionados pela natureza, ora impulsionados pela humanidade que se apresentou como obstáculo ao nosso viver.

Voltando ao início do século XX e sobrevoando sobretudo recortes de nossa chegada ao continente americano, Emicida faz um passeio pela construção do movimento negro no Brasil, o nascimento do samba, nascimento do rap e a construção mítica da nossa “cidade das oportunidades”: São Paulo. “Que São Paulo? Quais oportunidades? Para quem?” É tempo de reconstruir. Ainda que contundentes, cortantes e agudas possam nos soar as histórias e as letras cantadas em “Emicida: AmarElo- É Tudo Pra Ontem“, elas aparecem também como anuncio de que o tempo do agora está aqui. Redundante? Jamais.

É possível que na última década, como o próprio artista propõe, nossas vozes tenham finalmente encontrado alguns tons nos quais possam reverberar sem que sejam abafadas (com muita luta ainda, há que se dizer). Há uma solidificação do que víamos antes como projeto. Um verdadeiro levante negro, periférico, feminista, gay: múltiplo. Que é divergente em muitos pontos. Que parte de necessidades distintas. Mas se encontra em algum lugar. No corpo de um rapper adolescente em prantos na plateia do Municipal de São Paulo enquanto vê Pablo e Majur gritarem que não mais morrerão. 2019. Há tanto tempo e logo ali. E existe MUITA temporalidade nessa cena. Ela, de alguma forma, condensa AmarElo.

Houve uma resposta retrógrada. Novamente o ódio, a intolerância, o não querer ver no outro os sonhos que nos atravessam. A todos. É difícil passar por esse 2020 sem frases curtas. Abraços não dados, beijos adiados (alguns para outro plano), sonhos abreviados. Nó na garganta. Dá para dizer que a dor transbordou. Em março chegou ao Brasil no corpo de Rosana Aparecida Urbano, mas já estava aqui de outras formas. É tudo pra ontem.

É no amor que Emicida vislumbra a saída. Libre, a gente junta Majur, Fernanda Montenegro, Dona Onete, Pabllo Vittar e Henrique Vieira no mesmo rolê porque tudo que nós tem é nós. E isso é coisa pra caramba.

Veja o Trailer:

Clique aqui e leia críticas de filmes que estão na Netflix.

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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