Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora

Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora Filme Crítica Pôster

Mostra Cinemas do Brasil 2020

Sinopse: Esse filme é uma janela por onde passam pequenas histórias e muitas lembranças. Curiosos detalhes e esquecidos segredos. São memórias afetivas que contam parte da história das salas de cinema de uma cidade.
Direção: Alfredo Alves
Título Original: Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora (2017)
Gênero: Documentário
Duração: 50min
País: Brasil

Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora Filme Crítica Imagem

Arqueologia Mineira

Ao contrário de outras produções da Mostra Cinemas do Brasil, que vinculam a chegada das salas de cinema de rua com o ideal de modernidade, o documentário “Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora“, dirigido por Alfredo Alves traz a relação dessa atividade com a própria formação cultural de Belo Horizonte, município que nasce em 1895, mesmo ano da primeira exibição do que chamamos de cinema.

Uma produção que conta com importantes órgãos e representantes da sociedade civil que possuem acervos fotográficos inestimáveis. Desta forma, o filme usa muito bem esses arquivos em seus minutos iniciais. Parte do Cine Pathé (ainda nos anos 1920) e do Cine Theatro Brasil (de 1932) para mostrar como houve uma concentração inicial das salas na região central. Quem visita a capital de Minas Gerais hoje sabe que os pontos de cultura tornaram a Praça da Liberdade uma referência, quase como um elo com a zona comercial e a Savassi.

Todavia, nem sempre foi assim. Em determinado momento, a descentralização ocorreu, com o desenvolvimento de salas nos bairros mais afastados. O alto custo de deslocamento afastava o público da área central pela necessidade do transporte o que, naturalmente, criou oportunidade para alguns empresários lerem a possibilidade de criar novos locais. “Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora“, então, traz filhos e netos de dois importantes exibidores da cidade: Antônio Luciano Pereira Filho, que chegou a ser dono da maior rede, mais vinculado às práticas de comércio tradicionais; e Abrahão João, um exibidor independente movido pela paixão, que começou com um projetor simples na garagem de casa.

Entender que a formação cultural de um território se forma a partir de várias frentes é importante para que, no meio de uma crise tão profunda pela qual passamos (e seguiremos passando) no setor, as centelhas de esperança sejam vistas. A Mostra Cinemas do Brasil nos surpreende a cada dia com imagens que hoje lemos como inimagináveis: uma sala com três mil assentos lotados para ver o mesmo filme. O filme faz o arco completo, que parte dessa glamourização dos anos 1930 para a democratização dos 1950 – com a volta dos jovens para a região da Savassi na década de 1970, em uma dobradinha com as discotecas, febre da época.

A decadência das salas de cinema de rua foi forte em BH, que já em 1985 não possuía nenhuma em funcionamento. Já discutimos aqui que isso não é necessariamente ruim. Nossas demandas enquanto consumidores de um produto se intensificaram, o que inviabiliza aquelas práticas do passado. É como tirar todos os assentos das arquibancadas do Mineirão e vender novamente cento e cinquenta mil ingressos. Porém, algumas lições sobre a busca por equilíbrio são preciosas em produções como “Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora“. Em mais de uma vez Alfredo Alves reserva um tempo para mostrar como o recorte de classe acontecia, mas ainda dentro do mesmo espaço.

Se não há o saudosismo por salas de cinema bem menos confortáveis e frescas do passado, fica a lembrança de uma manifestação artística aparentemente menos excludente. Como diz uma senhora, que “marcava nosso calendário”, por fazer parte da nossa rotina – e que a especulação imobiliária, que só se agravou, varreu de todas as grandes e médias cidades do nosso país.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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