Festival Ecrã | Curtas Norte-Americanos

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Festival Ecrã | Curtas Norte-Americanos

Assim como falamos em nossa abertura das análises dos curtas brasileiros, utilizamos como recorte territorial as informações das fichas técnicas do evento – mesmo que seja um realizador radicado fora de sua terra-natal, consideramos o país onde foi produzido. Seguem os sete curtas norte-americanos do Festival Ecrã. Basta clicar no nome dos filmes no índice abaixo e ser direcionado ao texto sobre a produção:

Índice de Filmes

Belezas de Garden City, As
História da África, Uma
Onde eu não te Encontre
Quarta Era, A
Se Você Pudesse Voltar, Eu Poderia Vê-la
SDtoHDuprezMaxV2_009.mp4
Terra Velha

Ficha Técnica dos Curtas Norte-Americanos no Festival Ecrã


Festival Ecrã | Curtas Norte-Americanos

As Belezas de Garden City
(Ben Balcom, 2019)

As Belezas de Garden City

As Belezas de Garden City” trata de sonhos de vidas não vividas, como a sinopse faz questão de veicular. Só que, mais do que isso, o curta-metragem de Ben Balcom mostra como o Capitalismo se infiltrou de tal modo no pensamento de sociedade norte-americano que sua presença é uma necessária conexão dentro do organismo. O realizador compõe sua divagação com as impressionante imagens de viadutos e elevados, como se não fossem eles os redutos que aqueles que perderam tudo encontram. Uma concepção que remonta ao audiovisual fantástico setentista e oitentista, faz um curioso uso das rachaduras do solo como se elas condensassem imagens das grandes cidades. A obra se propõe a imaginar uma América sem Chicago e Nova Iorque, como se fosse possível uma reconfiguração de nação que abolisse grandes símbolos. Na verdade, quer que o espectador siga a espera do amanhã. Afinal, é sempre lá onde os milagres acontecem.

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Uma História da África
(Billy Woodberry, 2019)

Uma História da África

Em “Uma História da África“, o realizador Billy Woodberry parte de algumas fotos que registram a ocupação do sul de Angola pelos portugueses no início do século XX. O material original é do fotógrafo Velloso de Castro e as representações por ele feitas ajudam a compreender sua trajetória profissional. Ele era militar de carreira, portanto, o desempenho de sua arte não deixava de ser uma missão oficial do exército de seu país. Mesmo assim, foi conhecido por não carregar de exotismo essas representações. A primeira foto, na qual o cineasta se debruça por algum tempo, é o grande exemplo inserido no curta-metragem. Enquanto o comandante militar está ao centro, empunhado sua arma com orgulho, os habitantes locais compõem todo o restante do quadro, acorrentados. O que Portugal buscava ali era uma nova América, que tornou-se independente de forma negocial menos de cem anos antes.

A diferença é que a colonização da África após a partilha da Convenção de Berlim do final do século XIX, se valeu dos conflitos territoriais entre os diferentes grupos para fazer uma mistura de genocídio e opressão lateral. Este é o exemplo que o curta-metragem traz, que contava que a elite local serviria de base da ocupação européia. Uma forma de orquestrar massacres que gerou uma luta por representação vinda do povo – que, como sabemos – foi em vão.

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Onde Eu Não Te Encontre
(Charlotte Clermont, 2019)

Curtas Norte-Americanos Onde Eu Não Te Encontre

Em “Onde Eu Não te Encontre“, a realizadora Charlotte Clermont traz uma pequena composição de elementos para traçar uma trajetória muito pessoal. Confronta imagens de satélites e de lupa, como se ousasse aplicar em sua obra todas as amplitudes, mas o que fica é o término de um relacionamento em que o outro – não julgo porque já fui assim – precisava beber suco de laranja todo dia. Seu trecho inicial é uma tentativa de ir às favas, talvez carregada de deboche. Clermont traz a laranja e em um trabalho de montagem a descasca, divide em gomos e faz toda a fruição. É como se quisesse provocar, de aliança nas mãos, quem não tem mais acesso ao que está ali nos encarando.

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A Quarta Era
(Aaron Berry, 2018)

Curtas Norte-Americanos A Quarta Era

A Quarta Era” é uma tentativa de Aaron Berry nos mostrar que a inteligência artificial há muito superou nossa capacidade de convivência harmônica aqui, no mundo real. Quase como um slide show, em que o realizador se posiciona como um storyteller de um RPG estilizado. Provocações que vão além da beleza, é como se não pudéssemos mais dominar sequer o plano de existência virtual no qual criamos. Todos os espaços, físicos ou não, parecem existir melhor sem a força destruidora da Humanidade. Representações carregadas de vida, sem nenhuma melancolia ou sentimento de urgência em estar ali presente.

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Se Você Pudesse Voltar, Eu Poderia Vê-la
(Joshua R. Troxler, 2019)

.Curtas Norte-Americanos Se Eu Pudesse Voltar

Se Você Pudesse Voltar, Eu Poderia Vê-la“, do realizador Joshua R. Troxler aborda a questão do suicídio e como a falta de debate na sociedade gera vítimas invisíveis. Cria uma atmosfera de suspensão, em que aparentemente estamos vivendo apenas mais um dia, com as interações corriqueiras de um transporte público. Até que o evento trágico acontecesse, mas o diretor não faz qualquer construção de imagem nesse sentido. Ele traz o fato como algo passageiro, uma notícia ouvida. Quem usa com frequência trens e metrôs sabe que momentos como este são bem mais comuns do que gostaríamos. A perda de uma vida, para algum punhado de pessoas, possui um valor convertido em tempo, aquele da viagem que se interrompe. Contudo, o personagem do curta-metragem nos convoca a trazer humanidade a esta ocorrência. Para que o nosso famigerado prosseguimento da rotina seja abalado e não continuemos tratando fatos graves de forma banal apenas por serem corriqueiros. Todos nós precisamos de ajuda – mas talvez o primeiro passo seja apenas se preocupar.

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SDtoHDuprezMaxV2_009.mp4
(Anna Spence, 2018)

Curtas Norte-Americanos .mp4

Compondo com imagens dos anos 1980, “SDtoHDuprezMaxV2_009.mp4” parece, obviamente, ser extraído desta época. Porém, Anna Spence atualiza questões para aquelas que nos têm provocado nos últimos anos – chame de pós-modernidade ou qualquer classificação rotulante. Um protagonista que traz um exercício filosófico, se valendo da ideia de secundidade da Semiótica de Pierce para fomentar essa filosofia que carrega. Então, ele nos convoca a imaginar uma realidade em que poderíamos fazer uma regressão total, atingindo nosso primeiro registro de memória – e deixa claro que o anterior existe, mas seria apenas um condensado de massa escura. Refazendo nossos passos, poderíamos finalmente obter todas as ferramentas necessárias para entender o que deu errado na nossa trajetória.

Isto porque nossa construção de nós mesmos possui uma forte dependência de registros do que seria o nosso passado, transmitido a nós oralmente. Quem dera se os eventos eleitos por terceiros como formadores da nossa personalidade pudessem ser revistos – e há um episódio de “Black Mirror” que cuida dessa possibilidade de um registro total de nossa existência. Mas aqui Spence traz uma reflexão mais existencial, abrindo mão desse verniz futurístico. A conclusão que ela quer atingir, na verdade, é nos fazer duvidarmos da verdade que nos foi passada. Devemos ter um olhar crítico sobre o que nos contam, sob o risco de condicionarmos nosso comportamento a projeções do outro. Mas ela adiciona esse cereja semiótica em seu bolo experimental, dizendo que só conseguimos existir, de fato, quando somos reconhecido por alguém (ou algo) diferente de nós. O protagonista então se despede de sua existência de poucos minutos e nos deixa com esse fardo de seguir adiante.

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Terra Velha
(Andrew Lima, 2019)

Curta Terra Velha

Terra Velha“, de Andrew Lima, encerra uma trajetória de quase quarenta curtas-metragens do Festival Ecrã com uma obra extremamente contemplativa. Nos leva à Ilha dos Açores, um dos espaços que Portugal explora há mais tempo. Com poucas imagens, trazem um pouco da geologia, da ancestralidade e da beleza daquele território. Integrado de vez à sua ex-metrópole, o arquipélago é mais uma região portuguesa que observa o envelhecimento de sua população. Aguardamos com ansiedade a chegada de obras audiovisuais que abordem essa fricção cultural da população mais jovem, totalmente integrada com a zona do Euro e com forte presença de imigrantes brasileiros e africanos e os mais velhos. Quando esse dia chegar, o curta-metragem de Lima fará parte da construção de uma historiografia sobre aqueles que já foram colonizadores e hoje possuem fortes traços de uma sociedade bipolar. Apesar da internacionalização da atividade turística, a imagem que o cineasta nos traz dos Açores ainda é de calmaria – uma visão que parece ser de um particular deslumbramento, de busca por origens que talvez toque uma parte do espectador do Ecrã.

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Ficha Técnica dos Curtas Norte-Americanos no Festival Ecrã

As Belezas de Garden City (Ben Balcom, 11″ – Estados Unidos, 2019)
Sinopse: Em uma tarde ensolarada no centro-oeste, suspensa num intervalo de tempo, dois passageiros sonham acordado com uma vida que não era vivida.
Uma História da África (Billy Woodberry, 30″ – Estados Unidos / Portugal, 2019)
Sinopse: Diante da resolução da partilha da África na convenção de Berlim em 1885, o exército português registra a efetiva ocupação do território conquistado em 1907 diante do povo de Cuamato, no sul da Angola. Uma História da África revive esse arquivo fotográfico raramente visto através do contro trágico dos Calipalula, os nobres de Cuamato, essenciais para o emaranhado de eventos na campanha da pacificação portuguesa.
Onde Eu Não Te Encontre (Charlotte Clermont, 5″ – Canadá, 2019)
Sinopse: Filmado em Super 8, Onde Eu Não Te Encontre é baseado em sua própria fisicalidade por meio de uma técnica de processamento manual, onde a materialidade do filme é tratada não apenas como um meio, mas também como um assunto. Sua estrutura narrativa reflete um trabalho de desconstrução de filmes, que une um universo imprevisível e experimental. Mostrando uma série de fotos figurativas acompanhadas de uma sequência textual, são desenvolvidas associações formais e psicológicas entre cada uma das imagens. Através de uma poesia confusa, uma atmosfera cinematográfica se desdobra em um “não-lugar,” que lembra um momento perdido entre dois espaços temporais.
A Quarta Era (Aaron Berry, 25″ – Estados Unidos, 2018)
Sinopse: Sinopse: Em quinze planos, as paisagens audiovisuais de um jogo são examinadas pelos seus ciclos de dia-e-noite que emulam a passagem do tempo, e a radiante inteligência artificial de seus personagens que dão a impressão de livre arbítrio.
Se Você Pudesse Voltar, Eu Poderia Vê-la (Joshua R. Troxler, 12″ – Estados Unidos, 2019)
Sinopse: Um filme sobre um evento fatal na estação de metrô 125th Street, em Nova York.
SDtoHDuprezMaxV2_009.mp4 (Anna Spence, 4″ – Estados Unidos, 2018)
Sinopse: Ligado como o centro das atenções, Max Headroom agora roda o sinal de vídeo na busca de significado. Uma vez convocado para a tela, ele fala com o público na esperança de se lembrar de sua vida passada. Enquanto observamos Max (e ele continua nos observando), ele começa a entender o que será necessário para escapar de seu purgatório.
Terra Velha (Andrew Lima, 10″ – Canadá, 2019)
Sinopse: Terra Velha é um estudo visual e sonoro de paisagens díspares dentro das ilhas dos Açores, um arquipélago situado no Oceano Atlântico. Estruturados através de uma série de composições estáticas, esses locais exalam traços de memória cultural familiar, mas ilusória, e uma história familiar marcada pela diáspora. Através da observação contemplativa, os elementos das paisagens oscilam gradualmente, as noções de pátria e origem combinam-se em uma memória impressionista, remontando ao longo do tempo até o momento de seu nascimento vulcânico.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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