Fogo Baixo Alto Astral

Fogo Baixo Alto Astral

Sinopse: Em “Fogo Baixo Alto Astral”, a realizadora Helena Ignez nos traz seu 34º dia de isolamento social durante a crise da Covid-19 de 2020. Uma tentativa de resistir e existir.
Direção: Helena Ignez
Título Original: Fogo Baixo Alto Astral (2020)
Gênero: Poético
Duração: 5 min
País: Brasil

Vanguarda Resiliente

IMS Convida - Helena Ignes

Helena Ignez completou ano passado sessenta anos de serviços prestados ao cinema nacional. Em 1959 ela atuaria no curta-metragem “O Pátio“, de Glauber Rocha. Dali em diante os dois, além de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane iniciariam uma década de intensa produtividade, com obras que seriam fundamentais para discutir o fazer artístico no Brasil nos anos de chumbo. Talvez em “Fogo Baixo Alto Astral” ela sinta um exílio que nunca precisou ter na fase mais pulsante de sua carreira.

Ignez se reinventou em 2005, quando passou a assinar trabalhos como diretora. Como verdadeiro patrimônio cultural que é, foi merecidamente convocada para participar do projeto IMS Convida. No meio de tantas obras que transitam pelo que se emergiu na sociedade nos últimos anos (muitas tratadas por Roberta Mathias em sua cobertura), talvez alguns entendam que a veterana atriz e jovem cineasta dialogue menos com os anseios do espectador. Todavia, Helena nos surpreende com um curta-metragem poético que escancara sua consciência acerca da necessidade de reinvenção.

“Fogo Baixo Alto Astral” é Helena Ignez produzindo como notadamente se produz – entendendo a si mesmo como um produto, seu corpo como templo. Vanguardista que sempre foi, causa estranhamento ao recepcionar os infindáveis dias de isolamento social como a oportunidade de, nas suas palavras, “escolher nossa melhor versão de nós mesmos“. Soa, do alto da plenitude de seu jardim, como desafio para um público que mal consegue controlar suas crises de ansiedade e já desistiu de saber em que dia da semana está.

No meio de uma casa recheada de histórias, ela dança com a mesma tentativa de suspender o tempo e se enxergar atemporal – mesmo que os que lhe acompanhavam já estejam distantes. Sob essa ótica, lembra um pouco o que Thom Yorke e Paul Thomas Anderson propõem em “Anima” (2019). Se estamos à beira de um colapso, o cinema de vanguarda se revela diferente. O que faz Helena Ignez é, com sua leveza, nos trazer uma vanguarda resiliente.

VEJA O FILME:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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