Fourth Grade

Fourth Grade Filme 2021 Crítica Pôster

Sinopse: Quando um tablete de maconha é encontrado em uma sala de aula da quarta série, os pais dos alunos se reúnem em uma reunião de emergência cheia de acusações e intrigas. O caos se instalará depois que alguns deles concordarem em compartilhar um baseado.
Direção: Marcelo Galvão
Título Original: Fourth Grade (2021)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 20min
País: EUA

Fourth Grade Filme 2021 Crítica Imagem

Velha Hipocrisia

Fourth Grade” encerrou o 49º Festival de Cinema de Gramado. Nele, o diretor Marcelo Galvão recria a narrativa de “Quarta B” (2005), seu longa-metragem de estreia. Radicado nos Estados Unidos, o cineasta foi destaque na mostra em 2012, quando “Colegas” (2012) venceu os Kikitos de melhor filme e direção de arte (para Zenor Ribas). Boa parte do público o conhece deste trabalho e é importante ressaltar que estamos diante de obras bem distintas. Enquanto que a questão representativa e o protagonismos de atores com síndrome de Down se destaca em um road movie bem-humorado, aqui a proposta é mostrar a decadência de uma sociedade a partir do olhar microscópico de um grupo de pais. Segue o lançamento de “O Matador” (2017), que ficou marcado como a primeira produção brasileira original da Netflix

Realizado em cenário único, pensado quase em tempo real, o longa-metragem segue o caminho teatralizado. Contando no elenco com rostos conhecidos como o de Mena Suvari (imortalizada na cultura norte-americana como Angela em “Beleza Americana” de 1999) e William Baldwin (mesmo  que você não o conheça ele parece uma cópia do irmão, Alec), há uma preocupação em adaptar não apenas a linguagem, mas a forma como aquela instituição – agora em outro país – perceberá a situação apresentada.

Em “Fourth Grade” os responsáveis pelos alunos de uma turma de quarto ano (crianças por volta de dez anos) são chamadas para uma reunião após um tablete de maconha ser encontrada. Assim como histórias como “Deus da Carnificina” (2011) de Roman Polanski – e mencionada em outra crítica aqui, de “Verlust” (2020), de Esmir Filho – as sequências acabarão por desnudar a hipocrisia por trás do conservadorismo. Aos poucos, o que deveriam ser diálogos propositivos se tornam palco de preconceitos reproduzidos, indulgência para com os filhos e individualismo na assunção de responsabilidades.

Premissas que se encaixam bem na realidade estadunidense, mostrando que Galvão se mostra à vontade para liderar uma equipe com essas propostas. Há uma personalidade híbrida na obra, principalmente em dois elementos. O primeiro é a câmera que emula o estilo documental, na mão e acompanhando as ações, com aproximações abruptas. Para o espectador tradicional, uma zona de conforto que remete a seriados contemporâneos como “Modern Family” (2009-2020). Já a trilha sonora quer investir em um tom satírico, uma comédia cotidiana que flerta com o absurdo. Um estranhamento próximo da já mencionada produção dirigida por Sam Mendes, porém com um apelo menos popular.

Esses closes servem não apenas para nos provocar em relação às caras e bocas daqueles pais, que constroem naquela sala um teatro. O cineasta quer elencar elementos e argumentos através das imagens para consolidar a visão sobre aquela comunidade. Em uma delas, a imagem de Jesus crucificado ganha a tela. Com o tempo, a trama vai perdendo a áurea teatralizada quando o impasse envolvendo a solução se mistura com uma das bad trips mais atravessadas que já tivemos conhecimento – até a revelação do que está por trás do fato gerador daquele encontro.

A obra funciona bem enquanto exercício de personagens, usando abordagens iniciais e basilares de questões envolvendo relações humanas contemporâneas. Parte do medo sobre a perda de inocência de crianças, literalmente, invisíveis em cena para escancarar as inseguranças dos adultos. Aquela que imaginamos que perdemos quando nos tornamos pais ou responsáveis por crianças – e que parecem se potencializar. Garante no humor debochado, na excentricidade de alguns personagens e na revelação de alguns segredos sobre a rotina deles parte da diversão.

Longe de ser uma experiência desagradável, “Fourth Grade” deve levar uma dose de frustração àqueles que buscam inovações a cada frames. Passado o susto de alguns, observa-se que é um passo importante e na medida para a carreira de um realizador que parece optar pelo recomeço lá ao invés da consolidação aqui.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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