Sinopse: Depois de testemunhar uma assombração em seu hospital, dois médicos tornam-se perigosamente obcecados em obter provas científicas de que fantasmas existem.
Direção: Paween Purikitpanya
Título Original: ฉีกกฎทดลองผี | Ghost Lab (2021)
Gênero: Drama | Ficção | Terror
Duração: 1h 57min
País: Tailândia
Na Força do Ódio
Os olhares de parte do público da Netflix esta semana deverão se voltar para “Ghost Lab“, produção tailandesa dirigida por Paween Purijitpanya. O cineasta, que além de alguns segmentos de antologias dirigiu apenas um longa-metragem em 2007, se encaixa bem com a criação algoritmizada pretendida pela plataforma de streaming. Uma obra capaz de satisfazer os amantes da mistura entre ficção e terror que não se importa com a qualidade de filme B. Porém, deixará quem não consegue ultrapassar questões estéticas, lógicas e – principalmente – de qualidade técnica, com a sensação de tempo perdido.
O filme conta a história de dois amigos, estudantes de Medicina residentes em um hospital em Bangkok. Wee (Thanapob Leeratanakachorn) possui um drama pessoal: sua mãe está em coma no mesmo local há oito anos. Algo que o motivou a estudar para ser médico e o tornou morador da instituição. Quando ele não está no plantão, ele está no quarto cuidando dela enquanto filho. Já Gla (Paris Intarakomalyasut) tem uma trajetória mais harmônica. Namorado de Mai (Nuttanicha Dungwattanawanich), ele possui uma obsessão que se tornou pesquisa: a chance de provar, de forma material, a existência de fantasmas. Seu colega, então, se interessa pelo assunto e eles começam a desenvolver formas de fazer a captação de imagens e encontrar fórmulas que levam à esta conclusão.
A produção tem uma premissa interessante e a trama que se desenvolve a partir dela é capaz de nos envolver. Por sinal, as possibilidades narrativas aqui levariam tal projeto para as mesas dos grandes estúdios norte-americanos em outros tempos. Seria mais uma adaptação de terror oriental que Hollywood transformaria em uma sequência de jump scares protagonizada por estrelas de grau pouco elevado na indústria – ou a “volta” de alguma em decadência ou na tentativa de se descancelar ou ressocializar após período de trevas. Hoje em dia, com a Netflix ampliando seus tentáculos para marcar territórios em vários países – tanto enquanto estratégia de mercado como imposição legal – esta criação chega em fonte primária para milhões de lares ao redor do mundo simultaneamente.
Parte do encanto de “descobrir” filmes como “Ghost Lab“, portanto, se quebrou. O que sobra é a percepção realista de que as limitações do filme saltam aos nossos olhos. Seja pela qualidade das interpretações ou nos empecilhos técnicos para nos fazer ter medo. Ficamos no meio do caminho entre o entretenimento que abre mão e assume seus problemas e o constrangimento de elementos da história que são levados a sério demais nas representações do diretor.
Na primeira parte da obra, aquela que podemos falar sem spoilers, há uma mistura de duas linguagens aliadas à narrativa clássica. Wee e Gla, ao começarem a gravar seus experimentos, trazem uma abordagem parecida com os vídeos de YouTube, sobretudo vlogs, contando suas experiências. Por sinal, alguns dos mais divertidos e bem-sucedidos são aqueles que trollam o próprio público criando rotinas fantasiosas, o que gera uma conexão forte. Como estou fora destas novidades, só consigo lembrar de séries como “O Invasor“, do canal RezendeEvil como exemplo. Mas deve existir produtos mais novos na praça. O longa-metragem tem algumas intervenções curiosas neste sentido, em sua montagem e nas criações de terror a partir de uma base quase found footage vlogístico.
Em paralelo, a construção do drama parece mais uma novela mexicana, dado os exageros das reações e, principalmente, da trilha sonora. Este elemento é um show a parte, inclusive. Se apresenta quase de maneira anárquica, pauta o que devemos perceber enquanto emoção de maneira tão didática que parece TCC de curso de Cinema. Isso pode tirar forças da base da trama, que usa o questionamento das próprias crenças, a ética de uma pesquisa científica e certos dilemas na decisão sobre a vida e a morte de pessoas próximas. Ou, pode tornar tudo mais divertido. Nada muito diferente do que identificamos naquelas produções originais que os EUA adaptavam. Por trás de críticas apaixonadas sobre “esse que é o bom”, há muita romantização de um filme de baixa qualidade técnica.
Ir além é desenvolver questões sobre o enredo de “Ghost Lab“. Acho que não vale a pena se debruçar tanto. Até porque seguiríamos caminhos pouco promissores, já que as representações não se consolidam. Nem no terror de nos imaginarmos como objetos do próprio estudo e nem no drama, ainda menos promissor na segunda metade, com diálogos constrangedores como o de Wee com a mãe de Gla. Sobre a falta de lógica, isto não é um defeito narrativo, claro. Quem assistiu pode se sentir convencido de que apenas com a força do ódio conseguimos digitar mais do que poucas palavras em um notebook, não é mesmo?. Ou seja, você já sabe de que parte do corpo este texto surgiu.
Veja o Trailer:
Achei o filme bem interessante. Sou espírita e estudo a Doutrina a 22 anos. As únicas cenas que discordei foram as da eutanásia e do suicídio como solução para os problemas. Quem conhece a Doutrina sabe que nenhuma das duas deveria ter acontecido. Bjs.