Gran Avenida

Gran Avenida Filme Crítica Pôster

49º Festival de Gramado | ApostilaSinopse: Camilo é dono de uma pequena empresa e quer ter um filho. As tentativas de sua mulher para engravidar não têm tido sucesso. Josefina é uma jovem dentista que sonha com morar no Brasil mas não ousa confessar seus planos ao marido. Ronald bate ponto num escritório e tudo o que quer na vida é passar mais tempo com sua filha pequena. Sua ex-esposa, porém, planeja se mudar para o norte do Chile, a milhares de quilômetros de distância. Um celular roubado, decisões equivocadas e uma boa dose de falta de jeito, terminam fazendo com que os destinos destes três vizinhos da Gran Avenida se encontrem.
Direção: Moises Sepulveda
Título Original: Gran Avenida (2021)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 20min
País: Chile

Gran Avenida Filme Crítica Imagem

O Gramado do Vizinho

Quem vai a Santiago do Chile por terra – e focará seus dias na região central da cidade, sem dúvida passará boa parte do tempo na chamada Avenida Libertador Bernardo O’Higgins – que começa no terminal sul, a rodoviária de quem chega pela rota 68 e se estende por oito quilômetros, até chegar na Praça Baquedano, onde uma outra avenida ganha espaço. Porém, adentrando as áreas residenciais e os caminhos para as zonas periféricas do centro urbano, algumas outras se destacam. Dentre elas, a “Gran Avenida” Jose Miguel Carrera.

O filme de Moises Sepúlveda, representante chileno entre os quatro longas-metragens latino-americanos do 49º Festival de Cinema de Gramado, transforma esse recorte territorial da capital chilena em uma comédia situacional envolvendo três vizinhos que cruzam suas realidades de forma acidental e bem humorada. Começa com Camilo e sua decepção por ter perdido um ótimo cliente porque o funcionário responsável pela entrega de dois mil frisbees não cumpriu o prazo.

O rapaz alega, em história meio confusa, que sua mãe faleceu. Já Ronald é o tipo de trabalhador de escritório à moda antiga, que passa seus dias com aquela sensação de que a vida está escorrendo pelas suas mãos enquanto ele preenche dados em um computador na mesma mesa, com os mesmos colegas de trabalho de sempre. Por fim, Josefina tenta desenvolver seu português para tentar um futuro melhor como dentista no Brasil (coitada).

O cineasta traz o olhar observatório sempre que possível em “Gran Avenida“. Mostra uma classe média perdida entre pensamentos sobre a falta de perspectiva a curto prazo enquanto a cidade parece tomada pelo progresso das construções imobiliárias monstruosas. Quem vai a Santiago por conta própria sabe que o melhor caminho para se hospedar é nos milhares de studios espalhados nos inúmeros edifícios de dezenas de andares (e dezenas de pequenos apartamentos em cada um deles). Uma bolha que, ao contrário daqui, no Rio de Janeiro ex-olímpico, parece bem longe de estourar.

Também se destaca no longa-metragem as percepções do diretor sobre os lindos grafites que ocupam a extensa rua onde as ações se passam, a intervenção artística urbana que nos faz esquecer por alguns instantes a experiência sufocante que é tentar sobreviver em uma grande cidade da América Latina. Na mais bonita delas, uma montagem que serve como rito de passagem de um dos casais.

Já nas construções de personagens, três protagonistas e suas leituras possíveis de família. Enquanto os homens sonham ou vivem a paternidade, seja pelo tratamento para engravidar de Camilo e sua esposa, seja pelo tempo que Ronald não consegue dedicar à filha Sofia, a mulher parece não colocar, por ora, a maternidade em seus planos. Sequer divide com o marido suas intenções de uma mudança brusca mais adiante e como está se preparando para isso.

Nessa teia de acontecimentos, o filme cria uma divertida situação-limite, em que eles serão vítimas de suas neuroses e mentes ansiosas pela alegação de que um furtou o telefone celular de outro. O roteiro de Moisés Sepúlveda e Michel Gajardo se formatou a partir de sessões de improvisação dos atores Paulina Giglio, Gastón Salgado, Gabriel Cañas e Ivan Parra – o que os dá mais familiaridade e naturalidade em cena.

Assim como “Pseudo“, exibido na noite anterior, usava como mote a possibilidade de se assumir uma nova identidade, o trio de “Gran Avenida” também vive uma crise que os faz querer fugir. Eles só não têm muita ideia de para onde, confusos em uma rotina que os deixa constantemente no limite. O resultado é uma comédia sobre o cotidiano, moldada para nossa atual percepção de espaço-tempo e que pode não inovar, mas não decepciona diante do que se propôs a apresentar.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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