Sinopse: Em isolamento, uma mulher entra em processo forçado consigo mesmo e uma gravidez não tão desejada.
Direção: Samara Costa
Título Original: Grávida de Mim Mesma (2020)
Gênero: Experimental
Duração: 5min
País: Brasil
Da Impossibilidade de Não Ser
Em “Grávida de mim mesma” , Samara Costa nos traz talvez a grande questão da humanidade , junto à morte. Ambas, porém, se relacionam. Como deixar de ser? É possível se colocar em estado de paralisia. Ainda que em quarentena e, talvez, mais agravada por ela a atriz expõe com grande sensibilidade um dos problemas que enfrentamos nesses últimos meses: como nos livrar da convivência conosco.
Esse problema, que é identificado em algumas fases da vida, como em momentos de depressão, durante a privação do contato social direto nos faz reféns do nosso corpo, dos nossos gostos , de nossas construções. Dessa forma, não há como fugir: precisamos enfrentar os fantasmas.
Com apenas uma câmera e uma luminária ( à qual utiliza muito bem!), Samara explora o próprio corpo. Cada detalhe que talvez possa deixar passar pela correria do cotidiano no Rio de Janeiro, agora é ressaltado como composição de um grande mosaico. Ela.
Qual é o tempo da gestação? Uma vida inteira. O desespero, mas a certa resignação de Samara combina com o que vemos em algumas pessoas talvez já mais maduras que a própria atriz( em idade), que entendem que o processo de gestação de si, ocorre algumas vezes durante a vida.
E é doloroso, lento, porém , forçado. É o que nos faz nos movimentar ,mas ao mesmo tempo é o que nos lembra dos momentos mais difíceis.
A gestação de si é uma constante.
Samara sabe que , no final, é ela quem escolhe. Mulher forte, afinal, a escolha pelos elementos fogo e vento, não me parece ser ao acaso. Iansã se faz presente no provocativo curta de Samara.
Filho de apenas uma mãe( Samara acumula: direção, roteiro, montagem e representação), “Grávida de mim mesma” , além de suscitar reflexões profundas em apenas 5 minutos, conta com um trabalho de fotografia e de som minuciosos que nos provoca a sensação de efetivamente estar dentro uma placenta.
Só que agora, a placenta é o mundo, e já não estão mais tão protegidos.
O filme ficou em terceiro lugar na Mostra Zona Norte de Cinema e nos revelou uma grande diretora e editorada, já que Samara tinha experiência com o trabalho de atriz anteriormente.
Aguardamos mais filmes da jovem realizadora.
VEJA O CURTA PREMIADO:
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