Sinopse: “Imparável” conta a inspiradora história verdadeira de Anthony Robles, que nasceu apenas com uma perna, mas com um espírito indomável e uma determinação inabalável que permitiram que superasse obstáculos e lutasse por seus sonhos.
Direção: William Goldenberg
Título Original: Unstoppable (2024)
Gênero: Drama | Esporte | Biografia
Duração: 1h 56min
País: EUA
Escolhas
Histórias de superação através do esporte não são novidades. “Imparável”, biopic que estreou no catálogo do Amazon Prime Video esta semana, dá luz ao grande público da vida de Anthony Robles (Jharrel Jerome), campeão estadual estudantil que tenta acessar uma Universidade nos Estados Unidos através de seu talento no wrestling. Baseado na autobiografia escrita em conjunto com o jornalista Austin Murphy, o diretor William Goldenberg usa das convenções de gênero quase como um checklist de um drama biográfico feito sob encomenda.
O elenco de apoio possui nomes experientes e figuras muito conhecidas do espectador. Jennifer Lopez é Judy, a mãe do protagonista. Seu arco dramático é o da dura vida de uma mãe que precisa se dividir entre a criação dos cinco filhos e episódios constantes de violência doméstica. Bobby Cannavale é Rick, seu marido, padrasto do protagonista. Um segurança que carrega consigo toda a visão de mundo típica do homem tóxico que se revela ser de imediato. Bate no peito para dizer que sustenta a família, mas na verdade é um parasita. Inclusive quando simula um retorno enquanto “homem regenerado”, típico do relacionamento abusivo que ele comanda.
Michael Peña é Bobby, treinador de Anthony quando adolescente e que o incentiva a não desistir da busca pelo alto do pódio. Já Don Cheadle é Shawn, o treinador-chefe da Universidade em Arizona que permite que o jovem se mantenha perto de casa – e protegendo a mãe e os irmãos. A história se passa entre 2007 e 2011, em meio à crise imobiliária dos Estados Unidos. Isso é parte importante da narrativa, já que levará Judy ao extremo para não perder a casa em um financiamento, algo que muitos norte-americanos não conseguiram.
O antagonista de “Imparável” fica marcado por seu discurso sobre “escolhas” (“choices” chega a ser repetido quase como uma piada interna dentro do filme). Sua cegueira violenta, entretanto, não permite que enxergue que Anthony é um garoto que tem poucas opções de escolhas. Com apenas uma perna, ele é visto como um fenômeno da luta, mas trabalha em sua cabeça que a profissionalização não seria aceita. Coloca como meta de vida o sucesso no período da faculdade, aceitando uma posterior vida ordinária.
Com isso, o aspecto mais interessante do filme é como Goldenberg trabalhará essas escolhas. Por força do destino, Anthony ganha o campeonato no Ensino Médio na Filadélfia, local marcado pelo culto a Rocky, personagem vivido por Sylvester Stallone no longa-metragem original de 1976 e suas infinitas sequências. Logo após o êxito, a Universidade de Drexler lhe oferece o melhor pacote para ingresso na instituição, mas o protagonista sabe que escolher o aparente caminho dos sonhos não seria justo com os seus. Talvez o melhor para ele não seja aquilo que manterá a sua mãe viva, por exemplo.
Desta forma, Anthony dividirá seu tempo entre um trabalho integral no hangar do aeroporto e a Universidade localizados em Mesa, sua cidade-natal no Arizona. O roteiro lida bem com as expectativas frustradas, inclusive a interrupção do programa de wrestling na faculdade, motivada pela necessidade de corte de custos. Eleva qualquer obstáculo do protagonista a uma nova possibilidade de redenção. Não se perde em diálogos fáceis, excessivamente explicativos.
A partir da brincadeira com as “escolhas”, abre espaço para um diálogo na qual o jovem fala da pressão e do ponto de virada que transformaria a “pena” em “glória”. No esporte, a glória é a vitória. Na opinião dele, a luta em brigar com igualdade, mesmo com a necessidade de dar condições melhores à sua família são louváveis, mas não tornaria Anthony um herói. Com isso, “Imparável” nos levará a um oponente em específico como o limite a ser quebrado – e muitas vezes esses aspectos da trama são importantes adaptações nas biografias quando transportadas para as telas. Vale a pena procurar a verdadeira história da luta e o histórico de treinadores de Robles para entender o porquê.
Todos os cacoetes da biopic estão presentes na obra de Goldenberg. A dinâmica da apresentação dos personagens, o desenvolvimento mais cadenciado que antecede uma montagem de transição e os ganchos emotivos. Goldenberg estreia na direção, mas é um experiente montador. Cinco vezes indicado ao Oscar, ele venceu em 2013 por seu trabalho em “Argo” (2012). Por sinal, a montagem dá à Judy ainda mais destaque, mostrando como, enquanto o filho começa a colher os frutos do reconhecimento entre os colegas de time, ela se desdobra para se reerguer financeiramente.
Não parece ser um problema essa receita bem azeitada enquanto experiência por aqui. Jharrel Jerome se apresenta como um bom líder de elenco em um papel de grande exigência física e dramática. O vencedor do Emmy de melhor ator de série limitada por “Olhos que Condenam” (2019) foi substituído ou teve como dublê nas cenas de luta o próprio Anthony Robles, hoje com 36 anos.
Apesar da quase certeza de que estamos diante de uma história de heroísmo incontestável, quando “Imparável” nos põe na clássica situação-limite, materializada na luta final, a curiosidade ainda move o espectador com quase duas horas de sessão. Há uma exploração da figura das ligas universitárias da NCAA e um pouco de propagandismo do progresso dos Estados Unidos através do acesso à educação e esporte, mesmo que a ausência clara de privilégios do protagonista permeiem a narrativa. Nada que invalide a história de Anthony, hoje comentarista de wrestling e palestrante motivacional.
Veja o trailer: