JJ+E

JJ+E Filme Netflix Crítica Poster

Sinopse: Em “JJ+E”, Elisabeth e John-John vivem na mesma cidade, mas em mundos completamente diferentes. Será que essa paixão vai conseguir romper as barreiras sociais e culturais?
Direção: Alexis Almström
Título Original: Vinterviken (2021)
Gênero: Romance | Drama
Duração: 1h 30min
País: Suécia

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Um Algo(ritmo) a Menos

JJ+E“, mais uma produção sueca distribuída internacionalmente pela Netflix, chegou esta semana ao catálogo como uma das obras mais inocentes a qual tive conhecimento nos últimos anos. Por um lado, repete as representações rasas de seu conterrâneo “Queens” (2021) – um dos quais me levou à honrosa acusação de esquerdista porque “apenas” problematizei a representação de uma mulher cis que finge ser uma travesti. Por outro, reproduz a narrativa do amor proibido de pessoas de classes sociais diferentes e tudo o que os envolve.

Talvez uma das motivações seja o material original transferido para as telas. O filme é baseado em “Winterbucht” (inédito no Brasil), romance de Mats Wahl lançado no início da década de 1990. Um aparente sucesso editorial, já que gerou um outro longa-metragem em 1996 e revisitações do próprio escritor em livros como “John John“, cujo enredo não mencionarei para não afetar a experiência por conta de spoilers.

O jovem cineasta Alexis Almström começa telegrafando o mote da narrativa. Nas primeiras cenas assistimos Elizabeth (Elsa Öhrn) na solidão de uma luxuosa casa, daquelas que só personagem de novela do Manoel Carlos tem acesso no país. Ela está sozinha, em parte pelo luto pela morte precoce da mãe. Já John John (Mustapha Aarab) aparece pelas ruas de Estocolmo, ocupando espaços e no meio de amigos. No velho sistema da “princesa e o plebeu” eles se apaixonarão quando passarem a estudar juntos na mesma escola.

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A conexão pela dança e a necessidade de superar a perda familiar, bem como o atravessamento das relações de poder tanto envolvendo classe social quanto raça faz com que “JJ+E” dialogue com “No Balanço do Amor” (2001), romance que reuniu Julia Stiles e Sean Patrick Thomas (oi, sumidos) e completou vinte anos com uma ameaça à humanidade, a de que podemos ter (mais) uma continuação estrelada por eles. Até a abordagem se conecta, o que torna a leitura sobre a produção de 2021 ainda mais inocente. Não há qualquer proposta que não seja a exploração simples desses dilemas sociais, no rompimento de padrão que há muito se consolidou como o primeiro passo para a solução de qualquer problema.

Tudo na narrativa e nas representações prima pelo básico, parece um filmete estilo Quebrando o Tabu, daqueles que começaram com correntes de histórias edificantes em posts no Facebook e agora se tornaram reels e vídeos de Tik Tok mais modernos. Surge como mais uma obra para consumo instantâneo, de atenção dividia, pensada para um público que pode não estar totalmente “ali”. É repetitivo e óbvio como boa parte de seus colegas de streaming. Do amor à primeira vista às resistências familiares. Das consequências de envolvimento com amizades pouco agregadoras ao rompimento da tragédia shakesperiana clássica.

Talvez o grande exercício possa ser reunir os amigos (depois da pandemia, quando for seguro fazer isso – e, quando esse dia chegar, provavelmente o longa-metragem já estará no limbo do menu da Netflix) e pausar ao final de cada cena. A brincadeira seria adivinhar como será a sequência seguinte. É possível que você acerte todos os passos seguintes, inclusive antecipando os debates sobre os rumos que a necessidade de ascensão social entrando em choque com uma vida de privilégios pode gerar. Quando relativizei as críticas a “Cinderela” (2021) – lançamento poderoso do Amazon Prime Video da semana passada – é que a tal “sociologia de algoritmo” ali mencionada vinha revestida em expressões que, pelo menos, divertem.

Já “JJ+E“, não. Estamos diante aqui de uma obra tão carregada de ingenuidade que soa enfadonha. É ruim quando nos deparamos com uma narrativa tão simplória que não resta muito a acrescentar.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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