L.O.C.A. | Entrevista

L.O.C.A. | Entrevista | Mariana Ximenes

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Risos Imunizantes

As rotinas inquietantes de quem segue com locomoção ilimitada pelo isolamento social imposto pela pandemia de covid-19 têm sido inundadas pelas esperanças dos reencontros. Com o avanço da vacinação no Brasil, mesmo que em um ritmo menor do que nossa capacidade permitiria, vai gerando uma onda de novos planos. Compromissos adiados que se tornam possíveis. Fim de temporadas distantes dos amigos e dos contatos profissionais. Para outros, já com as duas doses ou envolvidos em projetos que tentam seguir rígidos protocolos, a retomada já acontece.

Os profissionais de imprensa e influenciadores digitais que participaram da entrevista coletiva virtual de lançamento de “L.O.C.A. – Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor” (que estreia no próximo domingo, dia 15 de agosto, no Telecine) na última segunda-feira presenciaram um raro momento de interação entre elenco de equipe de produção ali presentes. Em estágios diferentes desta nova realidade, no tempo em que todos esperávamos o início da conversa, eles trocaram ideias entre si.

Sendo assim, testemunhamos Mariana Ximenes cercada de expectativa pelo primeiro capítulo de “Nos Tempos do Imperador“, novela que estrearia em poucas horas na TV Globo. Feliz porque foi vacinada com o imunizante da Janssen, de dose única. Já Debora Lamm apareceu de dentro do salão, onde montava seu cabelo para uma gravação. Enquanto que Luis Miranda não continha em si a saudade pelo retorno. Prestes a tomar a segunda dose da vacina, ele começava a se despedir de sua estada na Bahia. Também estavam presentes o ator Erico Brás, a produtora Carolina Jabor e a diretora do longa-metragem, Claudia Jouvin.

“L.O.C.A.” conta a história de três mulheres diferentes, mas que desenvolvem uma amizade inesperada ao conhecerem suas histórias numa das reuniões da L.O.C.A, a Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor. Manuela (Mariana Ximenes), Elena (Debora Lamm) e Rebeca (Roberta Rodrigues) descobrem que têm algo em comum: viveram um relacionamento tóxico e resolvem se unir para superar e se vingar. Você pode ler nossa crítica clicando aqui.

Liderando em todas pontas por mulheres, o filme usa a comédia exagerada para trazer as visões contemporâneos sobre relacionamentos tóxicos e o empoderamento feminino. Com a palavra, as responsáveis por “L.O.C.A.”


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Claudio Jovin

Do Roteiro à Direção

Mediado pela jornalista Bruna Scot, o início da entrevista deu destaque ao processo de construção do roteiro. Carolina Jabor, que sempre esteve envolvida em projetos enquanto diretora, desta vez entendeu que a função seria melhor desempenhada pela roteirista da obra, Claudia Jouvin. A ideia era usar o conceito de “mulheres que amam demais” (e que se tornou, há alguns anos, uma importante rede de auxílio) como mote de uma história carregada de originalidade, buscando a autora para fazer esta composição. Ao longo deste processo, a cineasta compreendeu que a própria escritora deveria se colocar no papel de direção.

Juntas, elas montaram uma equipe de produção priorizando mulheres em todos os cargos, com a estrutura da Conspiração Filmes como base. Isso garantiu mais liberdade para Jouvin na função. O que enriqueceu ainda mais o projeto foram as chegadas de um elenco de destaque – não apenas pela experiência e qualidade na dramaturgia, mas também pelo domínio da arte da comédia.

Claudia mencionou os trabalho de figurino de Marina Franco, a maquiagem e cabelo de Martín Macías Trujillo e a direção de arte de Kiti Duarte. Uma equipe que tornou a experiência de assistir ao filme algo agradável de ver, com paixão e ódio refletida nas cores, mas de forma equilibrada e respeitando as individualidades de cada personagem. Já em relação à rotina de direção, ela sentiu que teve momentos que percebida determinada cena mais carregada ou violenta. Momentos em que contou com o talento de improvisação do elenco para trazer mais leveza e desbravar mais a comédia.


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Preocupações e Limites das Representações

Algo que tanto Carolina e Claudia quanto o elenco reforçaram é que parte do processo de conhecimento e empoderamento não está imune a erros. Se há algo que “L.O.C.A.” se preocupa em mostrar é que, por vezes, alguns limites são ultrapassados. Jabor se manifestou no sentido de tornar um dos objetos da narrativa esta discussão sobre até que ponto se vai na libertação de um relacionamento tóxico – e nada melhor do que usar o humor como uma ferramenta.

Sendo assim, o filme – que conta com uma equipe que, de acordo com a produtora, mistura talentos geniais e pessoas queridas – é uma comédia que sai do naturalismo, que precisa por vezes exagerar nas tintas nas que suas representações tragam o riso ao mesmo tempo que provoque a reflexão. Para ela, isso exige ainda mais do elenco.

Ainda nesta discussão sobre limites, Jouvin conta que foram vários os materiais de pesquisa, inclusive memes e virais de internet (lembrando o vídeo em que a ex-namorada de um Pedro pede a devolução de seu chip). O longa-metragem quer, de certa forma, desfazer o mal das comédias românticas que reproduziram por anos a ideia do relacionamento perfeito e do amor eterno – realizado no contexto do avanço de questões feministas e que possibilitam a percepção de histórias de amor “tortas”.

Também foi alvo de perguntas a preocupação em equilibrar a redenção das protagonistas e o reforço a estereótipos de gênero. Claudia disse que, já nos primeiros tratamentos do roteiro, houve uma busca por não generalizar tanto em relação aos homens quanto às mulheres – e também em não ser tão caricato nas relações entre heroísmo e vilania. Cita, então, como exemplo, o casal formado pelos atores Valentina Bandeira e Victor Lamoglia, como uma representação positiva de um relacionamento heterossexual e saudável.

A protagonista Manuela, vivida por Mariana Ximenes, vislumbra ali a possibilidade de um relação que rompa com a lógica trazida pelas outras no filme – quase como um paradigma. Portanto, para não cair no estereótipo é importante mostrar que as pessoas são múltiplas.


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Carolina Jabor

Experiências Pessoais

Não poderia deixar de ser assunto ao longo da entrevista coletiva as experiências pessoais das realizadoras e do ala feminina do elenco no desenvolvimento da história e na construção das personagens. Claudia Jouvin contou que já passou por relações tóxicas, que a fizeram se questionar os caminhos que estava seguindo na vida e na carreira. Por isso, entende que é importante que a arte, incluindo a comédia, trate sobre o assunto para que isso vire tema, seja exposto pelas pessoas.

A ideia de “L.O.C.A.” é deixar uma mensagem de que é aquelas situações podem acontecer com todas as mulheres, mas que é necessário – diante disso – buscar um caminho para sair delas ou que ela não voltem a acontecer. Mariana Ximenes disse que já foi chamada de louca, mas a expressão aqui ressurge com outro significado, o de reação àqueles que querem fazer as mulheres se calarem.

Debora Lamm lembrou que, quando não há mais argumentos contra mulheres, a saída acaba sendo chamá-las de loucas. Lembrou que a própria expressão relacionamento abusivo sequer era utilizada há alguns anos, sendo um dos reflexos de conversas sobre o assunto. O humor seria mais uma das possibilidades de trazê-lo à tona. Disse que ajudou amigas que precisaram sair de relacionamentos e que, superar um sentimento como amor (quando ele vai para lugar errado), é um grande desafio.

Nesses momentos, a raiva acaba se tornando uma aliada necessária – uma visão que torna uma leitura do filme possível. Mariana Ximenes, então, reforçou o entendimento de que é preciso – antes de tudo se amar. A partir dessa autoestima construída pelo autoconhecimento, construir um relacionamento que venha para agregar.

Questionadas se as futuras gerações conseguirão impor a equidade ora discutida, Claudia entendeu que não apenas as mulheres mais jovens, mas também os homens. Lembrou da experiência ao escrever a série “Sob Pressão“, quando teve contato na equipe com homens mais novos interessados e preocupados nesses assuntos, sob a ótica da readequação. Não apenas nas questões de gênero, mas raciais, sexuais, dentre outros atravessamentos.


Entrevista L.O.C.A. | Luis Miranda

O Poder da Comédia

L.O.C.A.” chega em um momento em que a sociedade ainda convive com uma crise sanitária sem precedentes na história do país, que matou oficialmente quase 600 mil brasileiros. A estreia de uma obra que usa o humor como linguagem se torna ainda mais importante. Luís Miranda define a comédia como um bálsamo para os dias difíceis, ao mesmo tempo que manifestou felicidade por fazer parte de um filme realizado por mulheres.

Erico Brás define o comediante como uma pessoa com um olhar diferente sobre a vida e uma forma especial de traduzi-la. Isso torna seu ofício ainda mais necessário em momentos como os que vivemos. Debora Lamm lembra que a comédia geralmente vem fantasiada de despretensão. Ao pegar o espectador desprevenido ela se transforma em um potente ferramenta de comunicação, revolucionária e transformadora. Apesar de um currículo extenso em filmes e novelas que usam o humor, Mariana Ximenes registrou sua admiração por quem faz bem comédia, pela dificuldade da linguagem que usa o lúdico e o riso para tratar dos assuntos mais difíceis.

Disse que se sentiu acolhida no set e provocada no melhor dos sentidos e lembrou do legado do saudoso Paulo Gustavo, grande nome do Cinema Nacional dos últimos anos e que também foi vítima do coronavírus e do nossa ineficiência em sociedade em combatê-lo. Na lista de motivos para tornar a realidade ainda mais difícil, ela mencionou o recente incêndio na Cinemateca Brasileira. Ela entende que “L.O.C.A.” cumpre seu papel de trazer entretenimento, mas também reflexão.

Neste domingo, dia 15 de agosto, o filme estreia e chega ao catálogo do Telecine. A crítica da Apostila de Cinema pode ser lida clicando aqui.

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A Apostila de Cinema é uma iniciativa de promover o debate sobre o cinema e questões pertinentes ao mesmo levantando análises culturais, sociais e estéticas que consideramos centrais para o pensamento crítico da Sétima Arte Contemporânea.

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