Meu Ano em Nova York

Meu Ano em Nova York Filme Netflix Crítica Poster

Sinopse: Em “Meu Ano em Nova York”, uma estudante universitária aceita um emprego administrativo trabalhando para a agente literária do renomado e recluso escritor J.D. Salinger.
Direção: Philippe Falardeau
Título Original: My Salinger Year (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 41min
País: Canadá | Irlanda

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Empire State of Mind

Devem existir milhares de pessoas (ainda) obcecadas por J.D. Salinger espalhadas pelo mundo e que se animaram quando “Meu Ano em Nova York” foi anunciado como abertura do Festival de Berlim de 2020. É comum nossa juventude (e aqui estendo para qualquer fase da vida onde a pessoa se sinta jovem) ficar marcada pela leitura de “O Apanhador no Campo de Centeio”. A rebeldia crítica do introspectivo Holden Caufield em sua jornada de uma semana (na mesma Nova York) aos treze anos é tão atrelada aos valores da modernidade que parece assustador imaginar que foi escrito há sete décadas. Agora ele está disponível na Netflix.

A admiração pela forma como o escritor conta a história, em uma fluidez contemporânea que nos pega de jeito, se transforma em obsessão quando as pesquisas sobre sua vida trazem poucos resultados. Salinger sempre foi uma pessoa reclusa, mesmo despertando o interesse de novas gerações de maneira sustentável. Minha experiência com o livro data de vinte anos e de uma maneira que transformou as aulas de Literatura, antes constituídas de fases românticas e modernas com formatações e vocabulários empoeirados demais para boa parte dos adolescentes. Um mundo de possibilidades que foi capaz de transformar o hábito da leitura em uma companheira de vida – e com ela o amor pela escrita.

O carinho com o apanhador foi tanto que me levou a comprar a autobiografia de Joyce Maynard chamada “Abandonada no Campo de Centeio” e me fez, ainda na adolescência, desmontar um ídolo em potencial (e como já disse algumas vezes aqui, se pudesse dar apenas um conselho na vida seria: não tenha ídolos). Já sabia que a misantropia de Salinger o fazia ignorar até mesmo as milhares de correspondências de jovens em busca de contato, de informar o quanto seus textos foram transformadores. A edição da Geração Editorial chegou ao Brasil bem rápido, se pensarmos ser uma obra de nicho.

Ali ela narra seu relacionamento com o autor, quando tinha dezoito anos e, bem… Vale a pena ler o livro, ainda mais em tempos onde as diversas formas de um relacionamento abusivo são expostas e discutidas na sociedade. Por sinal, nunca reli a detalhada narrativa de Joyce e é possível que minha cabeça vinte anos mais velha torne ainda mais grave a conclusão. Morria ali a obsessão por Salinger e até mesmo o desejo de buscar seus outros escritos. Até agradeci que o caminho da adaptação da história de Holden seja um projeto sempre embarreirado pelo próprio – e agora por seus herdeiros. Porém, um dia isso vai acabar e o domínio público vai lotar as prateleiras de versões de todos os tipos de “O Apanhador no Campo de Centeio“, como foi com “Alice no País das Maravilhas” e “Peter Pan”. Capa dura, coloridas, ilustradas, em quadrinhos, para crianças…

O começo da reconstrução da imagem de Salinger como o bom velhinho começa em “Meu Ano em Nova York“. O longa-metragem é baseado em outra autobiografia, da jornalista Joanna Smith Rakoff, chamado “My Salinger Year” e inédito no Brasil. Nele, ela (interpretada por Margaret Qualley) conta sua experiência enquanto universitária, de um trabalho de verão que virou um ano sabático na Big Apple, como auxiliar administrativa e assessora de Margaret (Sigourney Weaver). Apesar de longe da cobrança de Miranda Priestly, imortalizada por Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada” (2006), a premissa de uma jovem inexperiente, em autodescoberta e buscando seu espaço como profissional em uma grande cidade, se repete.

Sem a mesma carga de humor e romance do filme estrelado por Anne Hathaway, é provável que a trama se segure mais entre os interessados no comportamento recluso de Salinger mesmo. Joanna tem como uma das funções do cargo dar a resposta automática das correspondências para o escritor. Mas, ela prefere ir além e fornecer aos fãs do misantropo uma experiência. Se antecipando aos social medias atuais, ela faz no outono de 1995 uma aproximação que seria a tônica da relação entre fã e ídolo na sociedade moderna. Talvez o diretor e roteirista Philippe Falardeau não tenha se dado muito conta disso e entrega a produção mais tradicional que o caldeirão de fórmulas do cinema comercial consegue oferecer.

Meu Ano em Nova York” parece feito para atiçar curiosidade sobre o livro, sendo os melhores momentos apenas introduzidos e nunca desenvolvidos. Dos bastidores envolvendo a publicação do conto “Hap Worth” de Salinger ao encontro de Joanna com uma jovem Rachel Cusk, em ascensão após ser premiada com seu romance de estreia, “Saving Agnes” dois anos antes. Se pelo olhar de Miranda nos transportamos ao mundo da moda, aqui a viagem pelos meandros do mercando editorial – tão interessante quanto – é frustrante.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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