Morte em LaRoy, Texas

Poster de Morte Em LaRoy, Texas (2023)

Sinopse: Em “Morte em LaRoy, Texas”, a infeliz vida de Ray, um homem deprimido, muda completamente quando ele é confundido com um matador e contratado para um “trabalho” que o leva a ser perseguido pelo verdadeiro assassino, seu cliente e as autoridades de todo o Texas.
Direção: Shane Atkinson
Título Original: LaRoy, Texas (2023)
Gênero: Thriller | Crime | Comédia | Policial | Suspense
Duração: 1h 52min
País: EUA | França

Imagem de Morte Em LaRoy, Texas (2023) Crítica do Filme Lançamento Max Apostila de Cinema

Jogo de Desconfiança

Chegando ao catálogo da Max nesse mês de novembro, “Morte em LaRoy, Texas”, com a história de um homem comum, comerciante de poucas pretensões na vida, que tem sua vida transformada ao ser confundido com um assassino de aluguel, aceitando o encargo diante do estado de total vulnerabilidade mental pela qual se encontrava. Exibido no Festival de Tribeca de 2023, esse é o primeiro longa-metragem do jovem diretor californiano Shane Atkinson.

O prólogo já dá o tom da grande palavra que ficará na nossa cabeça ao longo de todo o filme: a desconfiança. Nele, Harry (matador profissional vivido por Dylan Baker) dá carona na estrada para outro homem. Até a conclusão da cena não sabemos quem é (ou até se existe) a ameaça naquela relação. Quem recebeu a carona pode ter se colocado na beira a estrada para que um inocente o ajude. Ou pode ser que quem deu a carona tenha procuro ali a sua próxima vítima.

As sequências que introduzem as personagens seguem a mesma lógica. O protagonista Ray (John Magaro) é chamado para um café com o amigo e detetive particular Skip (Steve Zahn, figura mais famosa do elenco). Ele entrega fotos que evidenciam que a esposa do primeiro está o traindo. A reação não poderia ser das mais desconfiadas: ao mesmo tempo em que sente o golpe da notícia, quer saber o que levou o amigo a tirar as fotografias. O diretor Shane Atkinson (nome que já nos remete ao faroeste protagonizado por Alan Ladd em 1953 e aqui chamado de “Os Brutos Também Amam”) passa, então, a nos mostrar a LaRoy do título, uma típica cidade decadente (quase fantasma) do interior do Texas (e que, como boa parte das produções que retratam a região, teve como boa parte das locações Albuquerque, no Novo México).

Morte em LaRoy, Texas” é um faroeste contemporâneo sobre um homem comum que, por forças as circunstâncias, se torna um cowboy. A crise do trabalho provocada pela tecnologia nas últimas décadas aproximou o meio oeste dos Estados Unidos ao ambiente retratado no gênero clássico – e esse tipo de releitura não chega a ser novidade. O interessante no longa-metragem de Atkinson é que, diante de um leque de desconfianças, passamos quase duas horas acompanhando a montagem de diversos quebra-cabeças.

O primeiro tem início com Ray. Cansado e frustrado com a mediocridade, ele compra uma arma e chega em vias de tirar a própria vida. É quando um homem entra em seu carro e, o confundindo com o matador de aluguel, o contrata para assassinar James Barlow (Vic Browder). É a virada do destino que leva uma personagem que pode ser apresenta antes como o anti-cowboy a se colocar como um potencial criminoso. Ao final, a luta interna entre a defesa da honra e a aceitação da mediocridade surge como uma grande leitura possível da obra que acaba por surpreender positivamente.

A intenção de Ray não era de concluir o serviço, mas, novamente por forças das circunstâncias, o destino o leva a se tornar aquilo que ele nunca imaginou que seria. A partir daí, Skip (que parecia no início que seria uma espécie de alívio cômico ao se tornar piada para os policiais oficiais), volta ao jogo para fazer com que Ray monte seu quebra-cabeça. De outro lado, Harry, sem entender porque se deslocou a LaRoy para ver outro ser contratado para o serviço, também busca informações por via própria.

A esposa de Ray, Stacy-Lynn (Megan Stevenson) acaba se tornando figura central na investigação das autoridades, pois uma das fotos foi encontrada junto à vítima. Parece que todos ali não conseguirão concluir seus quebra-cabeças porque sempre faltará uma peça. E a culpa de faltar uma peça? A desconfiança que todos possuem contra todos. O protagonista, por exemplo, é duplamente traído pela mulher e pelo sócio (e irmão), que leva vida muito mais luxuosa que ele – apesar de dividirem igualmente os lucros das loja que administram a vida toda.

É normal que muitos encontrem paralelo entre o trabalho de Shane Atkinson no seu longa-metragem de estreia e a filmografia dos irmãos Coen. Podemos destacar como similaridades o leque de personagens que empilham situações absurdas e constantes desencontros. Além da flagrante semelhança na territorialidade. Todavia, o novato cineasta californiano aposta menos na ironia no curso da narrativa e também usa de forma mais comedida a violência plástica. Portanto, tem sua personalidade, de certa forma.

No jogo de desconfianças em que “Morte em LaRoy, Texas” se opera, algumas chegadas de personagens no curso da trama são mais mirabolantes do que a própria conclusão. Até porque já sabemos que na decadência de uma cidade à beira de estrada no Texas, as chances de finais felizes são bem reduzidas.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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