Mostra Olhar do Ceará | Sessão 7 de Curtas
Ser o que Quiser
Os dois curtas-metragens que fazem parte da Sessão 7 da Mostra Olhar do Ceará do 30º Cine Ceará tratam da busca e manifestações de identidade. Seja ela em comunidade ou na expressão da nossa individualidade, nos aproxima de grandes personagens: uma cidade e uma estrela.
Abre a sessão “Flamengo é Aqui“, segundo trabalho de Rafael Luís Azevedo dentro da competição (o primeiro foi “Futebol Para Todos Nós”, visto na Sessão 2). Aqui ele conta uma história curiosa, que seria pauta de seu veículo Verminosos por Futebol e acabou se tornando uma obra audiovisual própria. Dentro da cidade de Saboeiro, o distrito chamado Flamengo provoca interesse pelo nome. Apesar do fundador do sítio local nunca ter relacionado com o clube de futebol, fato é que a população incorporou esse vínculo.
Uma porta de entrada para cuidar de um dos temas mais polêmicos entre os amantes de futebol: a escolha por times de coração do eixo Rio-São Paulo em estados das regiões norte, nordeste e centro-oeste. O Flamengo é a maior torcida dessas áreas, apesar de estar milhares de quilômetros de distância. Algumas torcidas organizadas de clubes locais costumam fazer protestos simbólicos (a torcida do Sport, por exemplo, leva uma faixa “Vergonha do Nordeste” com uma seta apontado para o lado direcionado aos flamenguistas na Ilha do Retiro).
É uma forma de tratar de uma dominação cultural que os meios de comunicação, na tentativa de criar um país unificado, provocaram. Ouvindo as rádios cariocas e depois o sinal de TV da Globo dos anos 1980, o imaginário em volta do clube fez o Flamengo um pouco o Brasil. Azevedo expande essa paixão e reflete a força dos times paulistas, após décadas de domínio econômico e pela escolha da Estado como destino dos migrantes em virtude da decadência do Rio de Janeiro.
Só que 2019 foi um ano atípico e trouxe esse resgate do que fez o clube carioca a potência nacional. Com uma renovação em larga escala de ídolos, uma temporada marcada por grandes títulos, o registro de “Aqui é Flamengo” é uma forma de tratar da identidade cultural em um ambiente catártico. O bom é que na “briga” entre aqueles que entendem ser sinal de resistência a valorização de clubes do seu Estado e os favoráveis ao direito de torcer por quem quiser, não há perdedores.
Já o segundo curta-metragem “Noite de Seresta“, é velho conhecido da Apostila de Cinema. Assistido em sua estreia no 9º Olhar de Cinema, o documentário de Sávio Fernandes e Muniz Filho ganhou uma entrevista especial com os realizadores e Katia Blander, a iluminada estrela da obra.
Roberta Mathias fez a crítica que você lê clicando aqui. Revê-lo em conjunto com a produção anterior confirmou o desejo por um audiovisual que deseja não somente representatividade, mas busca essa libertação de qualquer rótulo pendente em uma social que insiste em nos categorizar.
Entre a exibição no festival de Curitiba e este, recebemos a notícia do falecimento de Vanusa, representada por Kátia durante o filme com um número musical em que ela canta “Mudanças“. Um exemplo de mulher que foi vítima de rótulos, de julgamentos. Com todo sucesso, com todo o talento, com todo o legado para a música deixada; foi um meme para gerações que se sobrepõe e – ao invés de ampliar seus horizontes – insistem em serem reducionistas.
Que todos os flamenguenses e Katia Blander sejam respeitados em seus direitos de serem o que quiserem ser e que suas vidas encontrem a paz que ela não pode ter.
Ficha Técnica da Sessão 7 de Curtas da Mostra Olhar do Ceará
Aqui é Flamengo (Rafael Luís Azevedo, 24′ – Brasil, 2019)
Sinopse: Numa região remota do Ceará, um pequeno distrito compartilha o nome do clube de futebol mais popular do Brasil: Flamengo. Quem nasce lá é flamenguense, e quase todo flamenguense é flamenguista. Conferimos isso num dia de comoção local: a final da Libertadores de 2019.
Noite de Seresta (Sávio Fernandes e Muniz Filho, 19′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Hoje é sexta-feira, final de semana vou sair para cantar.
Mostra Olhar do Ceará | Sessão 7 de Curtas
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