Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta

Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta Filme Netflix Crítica Pôster

“Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta” estreou essa semana na Netflix. Leia a crítica.

Sinopse: Inspirada pelo passado rebelde da mãe e por uma nova amizade, uma tímida adolescente publica um zine anônimo denunciando o sexismo na escola. “Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta” é uma adaptação do romance de Jennifer Mathieu.
Direção: Amy Poehler
Título Original: Moxie (2021)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 51min
País: EUA

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Colocando a Cara no Sol

Novos tempos, antigas figuras – e que bom que podemos reencontrá-las. “Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta“, comédia dramática que chegou essa semana à Netflix é muita coisa, mas, em um recorte geracional, é à primeira vista, o segundo trabalho de direção da comediante Amy Poehler para a plataforma de streaming. O anterior, “Entre Vinho e Vinagre” (2019) fez menos barulho e sempre me perguntei porque foram poucas as oportunidades que ela teve no cinema. Vencedora do Globo de Ouro pela série “Parks and Recreation“, Amy sempre foi subaproveitada em produções de qualidade e linguagem extremamente duvidosas, como o surto coletivo “Uma Mãe para o Meu Bebê” (2008), que ela protagonizou ao lado de Tina Fey.

Chama a atenção nesse novo longa-metragem a adequação do verniz possível de humor que se pode extrair de determinadas situações. Diálogos até mesmo pouco inspirados, da dupla de roteiristas Tamara Chestna e Dylan Meyer (parca experiência no formato), se transformam em sequências agradáveis. Adaptando o romance de Jennifer Mathieu – uma professora texana que traz uma narrativa moderna dentro de um ambiente em que domina – Amy também encontra certa zona de conforto.

Apesar disso, a obra tem um peso dramático maior do que comédias rasgadas, inclusive algumas que ressignificam estereótipos de gênero, como o ótimo “Fora de Série” (2019), de Olivia Wilde. O que poderia ser uma qualidade, é na verdade um dilema. Ao ampliar a exploração de algumas sub tramas, o filme tende a se alongar em certas abordagens – não chega a ter um ritmo irregular, porque a montagem da experiente Julie Monroe evita o dinamismo exacerbado. Interessante que seria um dinamismo possível, já que além da temática jovem, a protagonista Vivian (Hadley Robinson) cria a fanzine Moxie baseada nas referências de sua mãe Lisa (Amy Poehler), incluindo o rock de garagem subversivo do fim da segunda onda feminista. Elementos que geralmente provocam edições cheia de recortes, passagens de tempo e uso constante da música. Há, no último ponto, uma atualização que traz o alternativo popularizado do início dos anos 2000 com grupos como Yeah Yeah Yeahs a partir de uma jovem banda, The Linda Lindas (e uma surpresa brasileira e mais antiga na trilha sonora).

Assista à performance de The Linda Lindas para a premiére de “Moxie”:

Claro que o destaque de “Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta” é a revisitação – e o questionamento – da envelhecida estrutura do sistema escolar dos Estados Unidos. De início, Vivian já demonstra uma preocupação com o futuro. Precisa responder a um questionário para se submeter à Universidade de Berkley, na Califórnia – não muito longe da divisa com seu Estado, Oregon. Apesar de menos conservador do que outros pontos do país, as relações encontradas na escola da cidade fictícia de Rockport são carregadas de tradicionalismo e misoginia. O campo a ser respondido por ela tem uma proposta de moldar um discurso – que ganha um incentivo com a chegada de Lucy (Alycia Pascual-Pena) como nova aluna do último ano da high school.

Trata-se de uma obra carregada da algoritmização presente nas narrativas atuais. Poehler consegue transitar bem entre o desenvolvimento da história e as falas diretas, incisivas, que soam didáticas porque estamos diante de jovens descobrindo as bases fundamentais de suas reivindicações. A presença de Marcia Gay Harden como a diretora Shelly traz o conforto da experiência ao elenco. Ela é o para-raios dessa estrutura envelhecida, que acoberta os “erros dos meninos”, reproduz machismo, objetifica corpos e diminui feitos das alunas sob a justificativa do tradicionalismo. Não há vilania e sim uma resistência à mudança, totalmente em conformidade com as interações da sociedade norte-americana.

Com um leque ampliado de personagens, advindas de um livro (que possui versão em português), fica difícil ignorar algumas daquelas personalidades tão plurais. Com isso, conhecemos desde a filha de uma imigrante que entende que deve ser mais reprimida sobre certos assuntos por medo das consequências; até a jovem que, fazendo parte da estrutura de poder apresentado o informativo da escola, parecia ser relutante às movimentações das outras meninas (antes da virada da história ampliar a carga dramática). Por mais que comprometa certos andamentos, a maneira como o longa-metragem transita torna pouco enfadonha esse ritmo mais lento do que o convencional no gênero – e havia um grande risco em jogo.

Para não cair na velha lógica estereotipada, é preciso dar mais tempo de tela, complexificar certas relações – o que pode tornar “Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta” menos divertido para muitos, mas bem mais fiel e poderoso para outras tantas.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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