Sinopse: Em “Na Fila do Sus/Episódio 4” estamos na Linha de frente da saúde. Nela não estão políticos, ministros nem empresários. Lá estão os profissionais de saúde pública, defensores do SUS e da vida. A pandemia agrava o estado de exceção e a luta se acirra ainda mais. Esse episódio é também em solidariedade ao Primeiro de maio, dia histórico da luta da classe trabalhadora. Nos hospitais ou nas ruas, não haverá desmonte sem resistência.
Direção: Ellen Francisco
Título Original: Na Fila do Sus/Episódio 4 – Linha de Frente (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 34 min
País: Brasil
De Onde Viemos, Para Onde Vamos
“Na Fila do Sus/Episódio 4“, visto sob perspectiva na obra completa, se revela o espaço reservado para que o espectador, ciente de algumas questões das diversas coletividades dentro da sociedade brasileira – que serão ampliadas nos episódios seguintes – receba máxima carga de informação. Um momento em que a websérie dá cabo de uma contextualização que consegue, por fim, trazer o universalismo tão bem delineado por Ellen Francisco em parceria com a plataforma Bombozila.
Um episódio pensado para tratar do trabalhador da saúde, que em 2020 teve seu Primeiro de Maio mais sofrido dos últimos tempos. Em meio à pandemia da Covid-19, os realizadores de “Na Fila do Sus” são exitosos no que há de mais difícil em momentos como o qual a produção audiovisual (seja jornalística ou documental) precisa lidar: o excesso de imagens. Seja em relatos pessoais ou em programas televisivos, a angústia sentida pela chegada imparável de notícias e narrativas, faz com que o lançamento de um produto como essa série de curtas-metragens seja ainda mais trabalhoso.
Ellen Francisco e toda a equipe precisam condensar em poucos minutos uma obra de grande carga histórica sem que o distanciamento seja possível. Ultrapassar a mera abordagem jornalística é o grande desafio. Em “Na Fila do Sus/Episódio 4”, mais longo – ultrapassa os trinta minutos – há um equilíbrio entre a abordagem em perspectiva temporal e o imediatismo da colheita de depoimentos de médicos e enfermeiros no meio do combate ao coronavírus. Uma parte da produção que precisa ser feita à distância, eis que as normas de distanciamento social precisam ser ainda mais rígidas quando se está na linha de frente.
O documentário consegue trazer ao público boa parte do que aflige esses profissionais. As incertezas diante de uma doença nova, identificada pela primeira vez do outro lado do planeta há menos de um ano. As dificuldades em se ter um protocolo e procedimentos de eficiência comprovada nos atendimentos já se avizinhava um grande problema. Todavia, no país repete-se os ataques da população, que vê em pessoas com jaleco branco um potencial transmissor do vírus. Fenômeno que mistura ignorância e fascismo também identificado na Europa. Só que, no Brasil, outros ingredientes são colocados no caldeirão caótico da rotina dos hospitais. A falta de equipamento de proteção, de testes e de instrumentos que auxiliem os tratamentos, tornando ainda mais dura a rotina de mortes.
Aos poucos “Na Fila do Sus/Episódio 4” vai nos mostrando o passado, quase como um alerta sobre o presente e, por que não sonhar?, uma esperança sobre o futuro. Se inicia com o desmonte da saúde pública iniciada em 2017, o que inclui a perda de material humano em um país que entendeu que acabou após a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Até que chegamos a 1986, quando na Conferência Nacional de Saúde daquele ano o SUS como um programa de acesso universal de direitos ganhou força no país que acabava de sair de uma ditadura.
Há algo na fala de Sérgio Arouca que provoca no operador do direito não tão adormecido em mim um acalanto. Quando a sociedade se vê em algum fundo de algum poço, ela volta a se humanizar. A sua fala condensa um pouco do que se discutia no Brasil no período de formação da Assembléia Constituinte que levaria à nossa Carta Magna dois anos depois.
Porém, a realidade de 2020 é outra. Fomos pegos no contrapé da Covid-19 em uma sociedade longe de achatar a curva do fascismo. Na saúde, a desculpa neoliberal ainda não colou totalmente – e a parte final do episódio trata muito bem a questão. Assim como na educação, o capital estrangeiro – baseado em seguradoras e fundos de investimento (boa parte vinda dos Estados Unidos) – estão longe de terminar o trabalho sujo. No Poder Judiciário já há reflexos, como o aumento da demanda de processos contra planos de saúde – um serviço com muito menos usuários que os de telecomunicações e energia elétrica, porém com mais ações. “Na Fila do Sus/Episódio 4” parte do ponto imediato, da crise concreta, passeia por suas origens e encontra no passado a provável solução. Ela se chama Sistema Único de Saúde Valorizado e Forte.