Sinopse: “Na Fila do Sus/Episódio 5” está nas vilas de Porto Alegre, onde a população mais pobre resiste para garantir a permanência dos postos de saúde em suas comunidades. A decisão de demitir 1.800 trabalhadores da Estratégia de Saúde da Família, vai agravando o cenário de crise para a pandemia. Profissionais de saúde resistem e denunciam o projeto de desmonte e privatização do SUS.
Direção: Ellen Francisco
Título Original: Na Fila do Sus/Episódio 5 – Saúde nas Vilas (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 22 min
País: Brasil
Quando a Saúde é uma Utopia
“Na Fila do Sus/Episódio 5” nos leva a Porto Alegre para mostrar comunidades onde a saúde, na acepção da palavra, é uma utopia. Aproximadamente 15% da população da capital do Rio Grande do Sul mora nas mais de cem vilas da cidade. Trata-se de duzentas mil pessoas. Em muitos desses lugares, soma-se à ausência de saneamento básico, já configurada no Episódio 3 que tratou das favelas do Rio de Janeiro, a inexistência de água potável e a ineficaz coleta de lixo domiciliar. Terra arrasada para o desenvolvimento do trabalho de Daiana Santos, sanitarista e educadora social que acompanha boa parte dos pouco mais de vinte minutos desse capítulo da websérie dirigida e roteirizada por Ellen Francisco e produzida em parceria com a plataforma Bombozila.
Com essa configuração de comunidade, o documentário trata de mais uma faceta do desmonte social promovido desde o ano de 2017. Desta vez, a possibilidade de terceirização de trabalhos vinculados à atividade-fim na Administração Púbica (ou seja, hospitais do governo poderão ter em seus quadros de funcionários médicos e enfermeiros contratados junto à outra empresa) traz consequências diretas à população porto-alegrense. O prefeito eleito em 2018 pelo PSDB, Nelson Marchezan Jr., tem levado adiante essa transição da prestação do serviço de saúde – que, na prática, visa a derrocada do SUS. Faz isso inviabilizando os programas de saúde da família, que afeta uma população que não tem como fugir da doença.
Em “Na Fila do Sus/Episódio 5” a visão global dos depoimentos de Daiana Santos são fundamentais para que o espectador vislumbre o que, de fato, acontece na região. Todavia, há visões que podem ser aplicadas em outros locais, principalmente aquela que “põe na conta da virose” todo e qualquer problema da população que, de forma flagrante, sofre as consequências da ausência de investimento em infraestrutura básica das grades cidades. O racismo estrutural gritante é destacado pela própria sanitarista, que sai de cena na parte final para que a realidade – uma vez exposta – possa ser contextualizada a partir do retrocesso na legislação brasileira.
O que a Lei 13.429/2017, que permitiu a terceirização das atividades-fim, fez foi aplicar na ponta final da classe trabalhadora, aquela que por décadas acreditava ter mais segurança em relação aos seus direitos, a precarização que boa parte da força laboral sempre sentiu. Por vezes nos sentimos em uma montanha-russa que parece nunca parar, movida a promessas de que a flexibilização de tudo o que a lei precariamente nos concedeu ao longo da História se converterá em pleno emprego e um Estado de bem estar social com letras minúsculas, porque seria promovido pela classe empresária, que em algum momento enjoaria de tanto enriquecer.
A pandemia da Covid-19 não deixou de afetar as relações trazidas em “Na Fila do Sus/Episódio 5“. Se já não bastasse uma rotina de ausência nas vilas de Porto Alegre e de profissionais da saúde sentindo os efeitos da precarização, Ellen Francisco registra a omissão do Poder Público, que não afastou de imediato médicos e enfermeiros que estão no chamado “grupo de risco” do coronavírus. O futuro traz sempre mais sofrimento em uma sociedade que naturaliza a perda de direitos. Mesmo imprevisível, temos certeza que o que nos espera é pior. A websérie, portanto, trará em seu episódio final o quadro mais assustador de todos: aquele em que boa parte dos representantes da classe trabalhadora, tão atolados em sua miserabilidade, não são capazes sequer de se reconhecerem.