Na Mesma Onda

Na Mesma Onda Crítica Filme Italiano Netflix Pôster

Sinopse: Em “Na Mesma Onda”, uma paixão de verão nascida sob o sol da Sicília rapidamente se transforma em uma dolorosa história de amor que obriga um jovem casal a amadurecer.
Direção: Massimiliano Camaiti
Título Original: Sulla Stessa Onda (2021)
Gênero: Romance | Drama
Duração: 1h 39min
País: Itália

Na Mesma Onda Crítica Filme Italiano Netflix Imagem

Drama à Italiana

Continuando o passeio pela Europa com escalas semanais, a Netflix lança hoje a produção italiana “Na Mesma Onda“, romance adolescente dirigido por Massimiliano Camaiti, em seu primeiro trabalho em longa-metragem. Sobre a linguagem do filme, dois elementos chamam a atenção: o uso menos apelativo da guinada dramática e o abandono proposital de algumas ferramentas para que a parte final ganhe intensidade – apesar de não funcionar como parecia.

O filme conta a história de Sara (Elvira Camarrone), uma jovem que passa o verão na ilha de Favignana em um grupo de iniciantes na prática de velejar. Lá ela conhece Lorenzo (Roberto Christian), em seu quarto ano de experiência. Promissor no esporte, ele é um dos assistentes do professor, que se preocupa com a “ocupação” romântica do garoto. Vale ressaltar um ponto importante aqui. O texto de Claudia Bottino, ao lado do próprio Camaiti, não nos moverá na ideia de um antagonismo materializado, o amor é vivido sem grandes desafios, a princípio.

Isso porque a base da história será uma doença degenerativa que se manifesta na protagonista, após sentir câimbras em uma das atividades no mar. Ela, então, ficará entre o tratamento que tenta minimizar as dores e retardar a inamovibilidade e o namoro com Lorenzo, tentando a princípio esconder sua realidade. A obra se enquadra em um filão que sempre fez sucesso entre jovens apaixonados e que ganhou força nos últimos anos com os livros e adaptações do autor norte-americano John Green. A diferença elementar, a primeira apontada lá em cima, é que o cineasta italiano evita o viés apelativo, não quer contorcer as emoções do espectador.

Veja o Trailer:

Por outro lado, “Na Mesma Onda” não explora tanto suas personalidades. O personagem de Christian, por exemplo, manifesta dificuldades pela ausência de um referencial feminino, uma vez que sua mãe morreu quando ele era bem pequeno. Já o dilema entre os pais de Sara, Susanna (Donatella Finocchiaro) e Boris (Corrado Invernizzi) ocupa um pequeno trecho, de maneira até desmotivada. Com isso, perde-se oportunidade de transformar uma narrativa de amor de verão que permanece em algo maior, inclusive no conflito entre escolher viver com mais intensidade ou esperar a chegada do pior. Por sinal, uma abordagem que seria bem problemática em nossa situação atual enquanto sociedade, mas bem mais coerente com a ideia de uma adolescente que, no início de suas experiências, sofre um golpe do destino.

A forma como o filme se apresenta, retomando o segundo ponto de destaque, tenta se aproximar de grandes produções do gênero. O romance que vira a chave para o drama gera sucessos inesquecíveis há muitos anos e usa uma tática parecida. Vale observar como Camaiti nos situa no meio das belezas de Favignana e se ancora na trilha sonora de Yakamoto Kotzuga, usada à exaustão ao final do primeiro ato. Porém, ao transportar a história para a cidade, a carga dramática vem com pouca intensidade, todos os elementos que configuraram o romance começam a ser abandonados, incluindo a bonita canção “Promise”, de Ben Howard.

Quando começamos a perceber isso, o passo seguinte era esperado. O longa-metragem refaz os passos de Sara com um toque de resgate. Traz a trilha e o cenário mostrados como perfeitos para que a emoção seja provocada pela lembrança mais distante de nossa relação com a personagem. Todavia, não se torna um baque direto, como produções clássicas que se valem desse expediente, como “Love Story: Uma História de Amor” (1970) – e há momentos em que o jovem Roberto Christian parece até fisicamente com o Oliver do, à época jovem, Ryan O’Neal. Também não espere sobressaltos reveladores e que automaticamente nos leva às lágrimas, como a cena final de “Tarde Demais para Esquecer” (1957).

Na Mesma Onda” quer dividir espaço com a leitura moderna do romance juvenil, mas, sem exagerar na apelação. Acaba encontrando momentos de bonitas sequências, atinge uma sobriedade dramática e deixa um cena final que emociona pela ausência. Resta saber se o público que o escolherá nessa semana gostará de fugir do óbvio que o faz chorar a dor dos outros.

Ouça “Promise”, de Ben Howard”:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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