Não me Diga Adeus

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Sinopse: “Não me Diga Adeus” acompanha um pai solteiro e sua rebelde filha adolescente enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior do país, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva.
Direção: Hannah Marks
Título Original: Don’t Make me Go (2022)
Gênero: Drama
Duração: 1h 49min
País: EUA

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A Ordem Natural das Coisas

Em alguns momentos (senão for em todo o período) da infância e da adolescência dos filhos, passa na cabeça dos pais a velha máxima da “ordem natural das coisas”. Os mais velhos morrem e os mais novos precisam conviver com o luto e a saudade eterna de projetar o que aconteceria nas suas trajetórias caso aquele ente querido não tivesse partido. Sempre consideramos, contudo, que eles se foram cedo demais. “Não me Diga Adeus“, estreia da semana do serviço de streaming Amazon Prime Video, traz o história de Max (John Cho), pai solo que descobre um tipo agressivo de câncer no cérebro. Com um tumor maligno, ele precisará escolher entre realizar um procedimento cirúrgico com apenas 20% de chance de dar certo ou viver por cerca de um ano com a consciência do fim iminente.

Quando observamos esse dilema, pensamos em outros dramas familiares (ou romances trágicos) do cinema norte-americano. Aqueles que colocam a doença como fator persistente na narrativa. Já sabemos que algo está próximo de nos emocionar a partir do sofrimento dos personagens. E, mesmo assim, o envolvimento da trama nos faz cair sempre nessa armadilha. Apesar do foco em Max, o olhar do longa-metragem é o da filha, Wally (Mia Isaac). É ela que narra o filme e já informa, na primeira fala, que não iremos gostar do fim.

Por trás do melodrama de “Não me Diga Adeus” está Vera Herbert. A roteirista aqui é uma das produtoras com maior número de créditos do seriado “This is Us” e assinou algumas histórias no programa de TV que aumentou as vendas de lenços de papel no mundo todo. O público brasileiro que ainda não se pegou ao show terá uma nova oportunidade, já que a Globo – se já não bastasse toda a tragédia de viver no Brasil – vai exibir, a partir de novembro, nas noites de quinta-feira alguns dos grandes dramas dos últimos anos no audiovisual dos Estados Unidos.

A diretora Hannah Marks abre espaço para a dupla de atores operar em uma frequência baixa. A obra se pauta, do início ao fim, em um ar de melancolia. Algo que o prólogo, que nos joga junto com Wally em uma praia de nudismo, fará o espectador ser induzido ao erro. Quem imagina que Cho será mais um talento da comédia que equilibrará graça e leveza com as dores mais profundas da alma sofrerá uma quebra de expectativa. O longa-metragem explora todo o tempo sua faceta dramática, pouco parecida com obras protagonizadas por Jim Carrey ou Robin Williams, por exemplo.

Por óbvio que boa parte do panorama trazido por Herbert em seu texto não é novidade. O choque geracional entre pai e filha, muito pautado pelo amadurecimento que se impõe quando temos uma grande responsabilidade como criar uma criança ou adolescente é uma delas. O sofrimento exagerado de uma menina que descobre o amor e as frustrações quando aquilo que idealizou não se concretiza é outra. Até se tornar um road movie, “Não me Diga Adeus” chega a flertar com uma trama teen, uma frequência que para de operar ao término do primeiro ato.

Escondendo a doença de Wally, Max parte com ela para uma viagem que atravessará os Estados do Novo México, Texas, Louisiana e Flórida. Ele transforma um castigo de três semanas durante as férias de verão em uma “oportunidade” de ir a uma festa de reencontro de formandos. A ideia é que ele reúna a garota com sua mãe, que abandonou o lar quando ela era muito pequena. Aqui voltamos ao ponto do grande medo de pai ou mãe solo – ainda mais quem, como é o caso aqui, não possui qualquer rede de apoio.

Com a morte deixamos muito mais do que apenas saudade para aqueles que ficam. Nunca ter um pai (ou nunca ter uma mãe) é uma dor diferente daquela que vem da perda. Sendo assim, ele Max quer trazer para a filha uma mistura de ensinamentos práticos (de dirigir à dançar), pequenas lições e conselhos sobre a vida e, ao mesmo tempo, dar a ela um norte acreditando que – após dezesseis anos – sua mãe oferecerá acolhimento. Marks poderia nos conduzir para situações de humor involuntário, já que fica nítido que esses objetivos se atravessam e nunca darão certo. Até porque boa parte deles precisam acontecer de forma natural e não em um ritmo de maratona, principalmente quando a adolescente não compreende as intenções por trás das atitudes do pai.

Não me Diga Adeus” insiste na tese de que o amadurecimento é uma necessidade. De que chega um ponto em nossas vidas em que, como já dissemos, isso se impõe. A mente pragmática de Max quer transformar a tragédia iminente em uma oportunidade. Afinal, sua existência parece ter encontrado um termo final, por escolha sua em rejeitar o tratamento. Quando tudo isso está consolidado, Vera Herbert tira uma virada da mesma cartola de “This is Us” para nos fazer pensar sobre a velha máxima da “ordem natural das coisas”. Para além disso, só podemos dizer que: se você quer fugir da tristeza no próximo final de semana, deixa essa estreia na sua watchlist por mais alguns dias.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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