Negro em Mim

Negro em Mim Documentário Filme Crítica Macca Ramos Mostra Pôster

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Sinopse: Negro em Mim é um documentário investigativo com artistas e pensadores negros no Brasil de hoje. Um retrato de um Brasil plural a partir da discussão racial promovido por uma viagem por 6 cidades brasileiras, Negro em Mim trás a arte, a cultura e a política como reflexão da diáspora e do devir negro no mundo.
Direção: Macca Ramos
Título Original: Negro em Mim (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 51min
País: Brasil

Negro em Mim Documentário Filme Crítica Macca Ramos Mostra Tiradentes

Onda Negra

Com uma produção multiestadual, “Negro em Mim” (dirigido por Macca Ramos e parte da Mostra Vertentes da Criação da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes) consegue reunir diversos artistas negros do cenário contemporâneo. Começa com uma performance forte, um corpo negro nu e com graxa caminha, enquanto ao fundo escutamos trompetes e atabaques e partimos, então, para os discursos.

Ainda um tema em debate no Brasil, mesmo após tantos séculos, a questão do racismo e da equidade racial promove sempre discursos exaltados – por um motivo ou outro.

Começamos agora também a tomar as ruas com manifestações, passeatas e performances. Não há escolha. Terão que ver.

No filme é desmontado o discurso da identidade nacional, já que está foi construída (melhor seria dizer adulterada) por poderes que tinham interesse em invisibilizar muitas faces das pedra preciosas que eles mesmos expropriaram.

O discurso só se amplia a corpos negros e indígenas quando a tão falada diversidade nacional é posta em pauta. E, ainda assim, há limites. Diante dessa constatação, seria preciso reconstruir a brasilidade (talvez nem seja possível) – e os artistas e intelectuais negros e indígenas contemporâneos estão remontando esses conceitos.

Resistência e tolerância, palavras-chaves durante muitos anos, precisam ser ultrapassadas. Essa maneira de olhar somente nos confere um espaço e de maneira quase paternal. Como se não fosse somente uma retomada de espaço que nos foram tomados.

Contando com muitas performances também ao longo da narrativa, “Negro em Mim” exalta o espaço da arte nesse quebra-cabeças de reconstruções. Os corpos negros são também mostrados em toda sua diversidade. Negros. No plural. Com peles, faces, cabelos distintos que os conectam aos países de África que vieram seus ancestrais.

A arte como revivência desses espaços é relembrada desde a década e 1970 (com a criação do Teatro Experimental Negro na década de 1940). Lá se vão 77 anos. Caminhamos, mas poderíamos ter caminhado muito mais.

Há ainda espaço para a repressão a religiões afro e a dificuldade de inserção no espaço das artes. Mas, descobrimos poetas de rua. Poetas populares que fazem de nossa negritude diversa.

O corpo negro precisa estar atento o tempo todo, por isso observa cada detalhe. Para não ser parado, revistado, olhado, investigado, violentado.

Acompanhando SP/MG/BA/PE/PA “Negro em Mim” faz também um recorte do que é viver como preto no país. Não que seja exatamente uma grande revelação. Mas escutar o discurso de cada um deles é importante para que sejamos mais sensíveis da próxima vez que presenciarmos um ato de racismo, Não por bondade, por obrigação.

Cada um encontra um estilo de arte que amplia a consciência do ser negro essa provavelmente é a maior riqueza do filme. Não somos só samba ou atabaque. Somos tantas coisas e tão misturadas. Mas, só vê quem quer. E, para dominar é mais dispersar, mas, ao mesmo tempo, desvalorizar as culturas diversas. Maltratar o corpo e deteriorar a cultura.

Ainda não é possível dizer que fugimos dessa realidade, mas “Negro em Mim”, ao trazer artistas plásticos, rappers, dançarinos, músicos de jazz e intelectuais faz mais do que . Traz formadores políticos.

E aí, meu amigo, quando a gente tiver uma massa lá em cima, ninguém mais tira. A força do filme está justamente nesses inúmeros papéis que o corpo negro pode exercer na sociedade.

Documentário que mostra sem vitimizar ou exotizar. Esse é um dos caminhos. Sigamos esses caminhos que nos são abertos. Chegaremos juntos. África, Brasil e tudo o que foi construído nesse entreterritório.

O filme conta com os depoimentos de Salloma Salomão, Stephanie Ribeiro, Eugenio Lima, Fernando Neves, Renata Felinto, Deca Carolyne, Fernanda Júlia Onisajé, Vinny Rodrigues, Felipe Soares, Efigênia Maria, Miró da Muribeca, Dirce Thomaz, Bruno de Jesus, Rilton Junior, Gabriela Okpijah Bruce, Allan Roosevelt, Vitor Trindade, Rômulo Alexis, Wagner Ramos, Dinho Trindade, Inah Irenan, Sidney Amaral, Rosana Paulino, Demili da Silva, Priscila Rezende, Luedji Luna, Joyce Prado, Luciane Ramos, Gabriel Hilair, Cássio Bomfim, Ruan Vitor, Moisés Patrício, Erica Malunguinho, Rosana Paulino.

Fiz questão de mencionar todos porque deixar de fora qualquer um seria um contrassenso com a própria produção. A direção de Macca Ramos e a edição de Joyce Prado (que recentemente forneceu uma entrevista à Apostila e você lê clicando aqui) não dá maior valorização a nenhum dos discursos. Completamente equilibrado, “Negro em Mim” compreende que não precisa ultrapassar a barreira da dor para trazer a sensibilidade.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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