Sinopse: Documentário sobre o erro policial que acabou por matar Júlio César de Melo Pinto, tido como suposto assaltante, em maio de 1987. O que se descobre com o decorrer da investigação é estarrecedor.
Direção: Camila de Moraes
Título Original: O Caso do Homem Errado (2017)
Gênero: Documentário
Duração: 1h17min
País: Brasil
Erraram. Prenderam. Executaram.
Para falar de “O Caso do Homem Errado”“, começo com a imagem registrada por Ronaldo Bernardi por considerar que ela não expõe Júlio César. Sua agressividade aparece a partir do fato ocorrido posteriormente e de sua prisão sem motivo evidente qualquer. Sobre sua execução, falaremos ao decorrer do texto.
Ao acompanhar uma live do Festival Cabíria com a diretora Camila de Moraes, a vontade de rever “O caso do homem errado”(2017) poucos anos após minha primeira exposição à obra, bateu. Bateu porque esse é um dos documentários que nunca te deixam esquecê-lo.
Assim que acabou de ser finalizado, o filme rodou por alguns festivais, inclusive o Festival de Cinema de Gramado e o Festival Internacional de Punta del Este. Nenhuma dessas passagens, no entanto, conferem sua importância. O que lhe dá peso é a denuncia do absurdo caso ocorrido com Júlio César e que sabemos ocorrer com certa frequência no Brasil.
Precisamos dizer, repetir, reanunciar, produzir conteúdos e refletir sobre essas mortes. Por isso, fui novamente atrás da obra de Mariana e a encontrei na plataforma Looke, de graça. Paro a reflexão sobre o longa-metragem para dizer que seu registro permanece online porque considero primordial que o máximo de pessoas tenha acesso ao “O Caso do Homem Errado”.
O que mata César não é nenhuma atitude suspeita, já que esse sofreu a fatalidade de ter uma crise de epilepsia justamente no local e no momento do assalto. Assim, por ser preto, foi considero suspeito e detido sem qualquer possibilidade de se defender.
Camila, ao caminhar pelas ruas com a foto de Júlio César, faz sempre a mesma pergunta: você conhece esse homem? Talvez para denunciar nossa famosa memória curta, mas também (e justamente) para combatê-la. Assim, o rosto e a história de Júlio César de Melo Pinto são apresentados e reapresentados a muitos moradores de Porto Alegre.
Contando com entrevistas das mais diversas pessoas que participaram diretamente ou indiretamente do caso, a diretora consegue o depoimento emocionado do fotojornalista Ronaldo Bernardi, que acompanhou todo o processo de execução de Júlio. Traz, também, o relato de Paulo Ricardo de Moraes, irmão de criação da vítima. Também jornalista, ele só conseguiu encontrar o corpo de Júlio, já desfigurado, três dias após a execução.
Se há algo que possa ser deixado com ensinamento nesse caso foi a mobilização do movimento negro da cidade que – matéria após matéria – conseguiu revelar os inúmeros erros que a polícia negava. Paulo chega a falar de um embrião do jornalismo livre que nasceu da revolta.
Os familiares que ficaram ainda a vivem diariamente, ao lembrar do homem. Sem indenização, sem lembrança, sem cuidado. Com diversos traumas.
Juçara Pinto, sua viúva, alerta: hoje ainda acontecem esses casos em número maior e com jovens e meninos no início da vida. Não que a idade agrave o crime. Ela apenas revela uma política de Estado: o extermínio do povo preto.
Camilia de Moraes em “O Caso do Homem Errado” nos pergunta: existe “homem certo”? Para ser executado da maneira fria a covarde como foi Júlio César, sabemos que não.
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