Sinopse: Em “O Esquadrão Suicida”, os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados da prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X, enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese para combater o inimigo.
Direção: James Gunn
Título Original: The Suicide Squad (2021)
Gênero: Fantasia | Ação | Aventura | Comédia
Duração: 2h 12min
País: EUA | Canadá | Reino Unido
Esquadrão Anti-Imperialista
A Warner, em seu braço do Universo DC, pode ser acusada de tudo, menos de não nos dar histórias para contarmos aos nossos netos. Seguindo o caminho oposto do conglomerado concorrente – a Disney/Marvel – a empresa detentora das grandes narrativas clássicas de super-heróis, formando gerações com suas versões televisivas e cinematográficas de Batman e Superman, não tem medo de romper com qualquer traço de unidade (e continuidade) quando algum produto não dá tão certo. Afinal, vivemos em infinitas realidades paralelas e em alguma delas o Rei do Entretenimento terá o nome de James Gunn, alçado a criador da segunda tentativa de emplacar “O Esquadrão Suicida” nas telas.
Esperamos que na Terra-2 em diante ele seja um pouco menos ególatra e tire outro rei que habita sua barriga, a ponto de acreditar que Martin Scorsese precisa responder perguntas (que não tem sentido de lhe serem feitas) sobre filmes de boneco com a intenção de “ganhar mídia”. Aliás, daqui a alguns anos, quando o cineasta responsável por duas das melhores produções do gênero mais popular dos últimos vinte anos com “Guardiões da Galáxia” (2014) for um simpático senhor de barba e cabelos brancos, é provável que alguns teóricos relembrem dessa rixa (que não se consolidou) como a prova de que bastões foram passados na Hollywood do meados do século XXI.
Enquanto estamos aqui, tratando do presente, o longa-metragem de Gunn (que chegou há uma semana na HBO Max) é, como já era esperado, duas galáxias de distante melhor do que o “original” de 2016, comandado por David Ayer. O realizador assume o papel que lhe cabe, de transformar em uma farofada a missão que Amanda Waller (Viola Davis) organiza para que O Esquadrão Suicida cumpra. Eles atuam como uma espécie de brigada anti-imperialista em Corto Maltese, uma nação sul-americana que há um século vive sobre o governo autoritário de uma familícia família que militarizou o país. Na resistência, a liderança da brasileira Alice Braga.
Uma estética que serve para várias leituras, uma delas nos lembrando que parte dos conflitos envolvendo a Venezuela tem, como base, o controle estatal do petróleo, até hoje uma commodity fundamental para a economia e que os países desenvolvidos ainda possuem relação de dependência. Porém, qualquer narrativa que envolva a intervenção norte-americana a territórios, mexendo em democracias que não lhes cabe (para depois perceber que criaram um problema para eles mesmos) está valendo e é cabível na trama. No caminho, nossos anti-heróis perceberão que, assim como qualquer brigadista enviado para esses espaços, eles são uma massa de manobra, uma ferramenta inconsciente dos interesses do patrão.
A diferença é que não lidamos com soldados e sim com uma doninha enrolada, um tubarão musculoso e esfomeado (pela voz de Sylvester Stallone), um pai condenado pela Justiça que não quer o mesmo destino para sua filha adolescente e a Arlequina – sobrevivente da história original, massacrada por público e crítica, porém vencedora do Oscar de maquiagem e cabelo em 2017. Sai Jared Leto e Will Smith e entram as contribuições de Idris Elba e John Cena (esse fazendo aquele papel esdrúxulo do patriota, quase sempre o mais ridículo em qualquer ambiente – ainda mais com a alcunha brega de Pacificador). Todavia, Margot Robbie ainda toma conta das ações, ganhando sequências autônomas para a carismática personagem.
Depois de uma construção lamentável, que a transformou em uma fantoche boba do Coringa, sua redenção veio no bom “Aves de Rapina” (2020), onde ela se junta com outro esquadrão, formado apenas por mulheres. No pouco espaço que cabe à atriz, ela adiciona um pouco mais de camada dramática na figura da Arlequina, que não apenas acompanhará sua carreira como já se tornou parte do imaginário da cultura pop pela sua visão. Será daquelas imagens que a Warner e a DC utilizarão como catalisadora de interesse sempre que alguma obra ou produto relacionado precise chegar com força ao público.
No mais, Gunn repete boa parte do expediente que consolidou seu cinema em “Guardiões da Galáxia”. Usa canções populares que dão leveza à violência hiperbólica das cenas de ação e coloca a comédia como base em seus melhores momentos. Um exemplo é a apresentação da missão por parte de Amanda, na primeira interação daquele grupo de doidos. “O Esquadrão Suicida” vai aumentando a carga em seus exageros deliciosos, até encontrar no vilão final uma estrela-do-mar monstruosa que resgata as destruições de grandes cidades de clássicos de ficção. Dessa vez não em Nova Iorque ou Los Angeles, mas em algum ponto do hemisfério sul em que os Estados Unidos tentaram mover seus tentáculos.
Outro bem-sucedido projeto de um cineasta que parece seguir o caminho do egocentrismo tal qual Zack Snyder (e que, se lesse esse texto, já estaria coçando a cabeça por não ter sido citado, aqui está você, Zequinha). A hora é de aproveitar a viagem divertida que James reservou para nós.
Veja o Trailer: