O Lodo

O Lodo Helvécio Ratton Crítica Filme Mostra SP Pôster

Logo Mostra SP 2020 Sinopse: Manfredo é funcionário de uma empresa de seguros e leva uma vida normal. Mas ele começa a perceber que está deprimido e procura a ajuda de um psiquiatra, o dr. Pink, que insiste em saber sobre o passado de Manfredo. Intimidado e relutante em revelar detalhes de sua vida, o paciente abandona o tratamento. Mas Manfredo começa a ser perseguido pelo médico, com telefonemas insistentes, nas ruas e até em pesadelos que se tornam realidade.
Direção: Helvécio Ratton
Título Original: O Lodo (2020)
Gênero: Mistério
Duração: 1h 34min
País: Brasil

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O Lamaçal é Aqui

Ao se deparar com uma obra inspirada em qualquer texto de Murilo Rubião, o espectador deve esperar sempre por mais perguntas que respostas. Tido como um dos bastiões da literatura fantástica no Brasil, o escritor apresentou contos que brincam com a relação espaço/temporal do leitor e desafiam a percepção de realidade. Assim, é bom ressaltar aos desavisados que são principalmente essas as questões desenvolvidas em “O Lodo”, filme dirigido por Helvécio Ratton e parte da Mostra Brasil da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

É evidente que, ao escolher o conto de título homônimo, o cineasta também estava interessado em desenredar (ou, nesse caso, seria melhor dizer embaralhar) a relação entre paciente e psiquiatra. A confusa relação entre Galateu, que no filme se transforma em Manfredo, personagem interpretada por Eduardo Moreira, e seu psiquiatra Dr. Pink (Renato Parara) é o mote da trama dirigida por Helvécio.

O diretor parece nutrir apreço por adaptações literárias. Temos em sua cinematografia a adaptação de “O Menino Maluquinho” (1995) e “Batismo de Sangue” (2007). Embora sejam todos filmes e obras literárias bem diferentes, a conexão entre literatura e cinema pode ser uma das perspectivas para se olhar a obra deste cineasta. Essa atração pela tradução da palavra em imagem pode ser percebida em alguns diálogos de “O Lodo”. É também notável a cidade de Belo Horizonte aparecendo como personagem – e aqui recordo que ele próprio também nasceu em Minas Gerais.

Essas podem parecer observações exteriores ao andamento da obra em si, mas não devem ser consideradas como tais. Helvécio é um dos diretores mineiros em atuação que mais evidenciam a cultura local (não à toa citamos três adaptações mineiras). A comparação entre a BH do mapa, a de Rubião e a de Helvécio pode, e deve, ser feita. Nesse sentido, o que mais as conecta, além dos locais facilmente identificáveis por quem já circulou pela cidade, é a necessidade do insólito.

Talvez, essa seja uma relação particular que eu tenha com a cidade ou com a própria obra de Rubião, mas a grande parte dos acontecimentos do longa-metragem me parecem bem possíveis. Essa é, de fato, uma das obras de mais acesso ao real (ou o que é compreendido como tal por uma parcela de nós) que Murilo possui em seus escritos, mas não podemos negar que Ratton conseguiu de alguma forma decodificar bem os relatos do escritor para a tela. Imprimindo, é claro, sua própria BH nas imagens.

O Lodo” não deve ser visto como um filme que traz em si um fim específico que não o de narrar as possibilidades de existência no caos. Podemos aqui avançar sobre o advento do realismo fantástico em períodos de enfrentamentos políticos e éticos. Talvez seja emblemático seu lançamento nas telas em pleno 2020 quando passamos pelo isolamento e por uma realidade que poderia ser narrada em um dos contos de Rubião.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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